Confira como a nova tecnologia de impressão 3D de tecidos está revolucionando a ciência dos transplantes.
Redação | 27 de Janeiro de 2019 às 21:00
Em 2015, mais de 125 mil órgãos, na maioria rins, foram transplantados de um ser humano a outro nos Estados Unidos. Às vezes, o doador era um voluntário vivo. Mas, em geral, o doador era vítima de um acidente de trânsito, um derrame, um infarto ou um fato súbito semelhante que lhe tirou a vida, embora tivesse boa saúde. Mas a falta de doadores adequados, limita a oferta de órgãos. Assim, muitos morrem à espera de um transplante. Isso levou os pesquisadores a estudarem a questão de como construir órgãos a partir do nada.
Uma abordagem promissora é imprimi-los. Hoje, muitas coisas são feitas com a impressão 3D, e parece que não há por que as partes do corpo não estarem entre elas. Essa “bioimpressão” ainda é experimental, mas os tecidos bioimpressos já são vendidos para testes de medicamentos, e espera-se que os primeiros transplantáveis estejam prontos para uso daqui a alguns anos.
A bioimpressão começou no início dos anos 2000, quando se descobriu que era possível borrifar células vivas sem danificá-las utilizando os bicos das impressoras jato de tinta.
Hoje, o uso de várias cabeças de impressão 3D para borrifar células de tipos diferentes, com polímeros que ajudam a manter a forma da estrutura, possibilita depositar camadas de células que se unirão e crescerão para formar um tecido vivo e funcional.
Os pesquisadores estão experimentando tecidos renais e hepáticos, pele, ossos e cartilagem, além das redes de vasos sanguíneos. Eles já implantaram em animais orelhas e músculos impressos e observaram sua adequada integração aos hospedeiros. No ano passado, um grupo da Universidade Northwestern chegou a imprimir ovários bioprotéticos que funcionaram em camundongos. As receptoras conseguiram conceber e dar à luz com a ajuda desses órgãos artificiais.
Ninguém ainda fala em imprimir gônadas para pessoas. Mas vasos sanguíneos, sim.
A Sichuan Revotek, empresa de biotecnologia sediada em Chengdu, na China, implantou em um macaco uma seção de artéria impressa. Esse é o primeiro passo dos estudos de uma técnica para uso em seres humanos. Do mesmo modo, a Organovo, empresa da Califórnia, anunciou que implantou com sucesso tecido impresso de fígado humano em camundongos; e que, daqui a três a cinco anos, espera aprimorar esse procedimento para tratar insuficiência hepática crônica e erros congênitos do metabolismo de crianças pequenas.
A Johnson & Johnson está tão convencida de que a bioimpressão transformará setores da medicina que fez várias alianças com universidades e empresas de biotecnologia interessadas. Uma dessas alianças com a Tissue Regeneration Systems, pretende desenvolver implantes para tratamento de defeitos em ossos fraturados.
Outra, como a Aspect Biosystems Ltd., empresa de biotecnologia do Canadá, tenta descobrir como imprimir os meniscos do joelho humano. O menisco é uma cartilagem que separa o fêmur da tíbia e absorve choques entre esses dois ossos. Isso provoca muito desgaste, e é comum ser necessário o reparo cirúrgico.
A impressão 3D de tecidos pode ajudar a criar outros tratamentos.
A Organovo já oferece seus tecidos de rim e fígado para uso em testes de novos medicamentos. Isso deve agradar os defensores dos direitos dos animais e também a indústria farmacêutica, porque, como o tecido testado é humano, o resultado deve ser mais confiável do que os testes em outras espécies.
A L’Oréal, indústria de cosméticos francesa, a Procter & Gamble, fabricante americana de bens de consumo, e a BASF, indústria química alemã, trabalham na impressão de pele humana. Elas propõem usá-la para testar as reações adversas a seus produtos. A L’Oréal já produz quase cinco metros quadrados de pele por ano utilizando uma tecnologia mais antiga e lenta. A bioimpressão será mais rápida e também permitirá a produção de vários tipos e texturas de pele.
A pele impressa poderá ser usada em implantes para corrigir queimaduras e úlceras.
A Renovacare, empresa da Pensilvânia, desenvolveu uma pistola que borrifa células-tronco da pele nas feridas de vítimas de queimadura. (Células-tronco são células que proliferam e produzem todos os tipos de célula que compõem um tecido.) Se as células-tronco em questão vêm do próprio paciente, não há risco de rejeição.
A recompensa de todo esse esforço seria imprimir órgãos inteiros. No caso do rim, a Roots Analysis, assessoria em tecnologia médica, admite que seria possível em cerca de seis anos. O fígado, que tem a tendência natural de se regenerar, também deve ser produzido logo. O coração, com sua complexa geometria interna, vai levar mais tempo. Os órgãos impressos permitirão que quem precisa de transplante não tenha de esperar o altruísmo para salvar a sua vida.