Seja no verão ou no inverno, o risco de câncer de pele está sempre presente. É hora de verificar sardas, manchas e sinais.
Apesar das campanhas de conscientização sobre os perigos da exposição ao sol e do câncer de pele, todo ano cerca de 6 mil brasileiros, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), têm melanomas diagnosticados, e o número de casos não para de crescer. Veja 5 crenças comuns sobre o melanoma que podem levar a erros fatais.
Mito 1
“O melanoma só surge no local em que a pele foi queimada.”
É mais comum aparecerem melanomas na pele exposta ao sol, mas atenção: o tumor pode surgir em qualquer lugar, desde os pés até o céu da boca, debaixo das unhas, seio da face e região genital.
Eis por quê: O melanoma é o câncer dos melanócitos, as células que produzem pigmento. Como todas as células do corpo, elas podem sofrer mutação e se transformar em células cancerosas. Embora se encontrem principalmente na pele, há melanócitos em outros locais, até na garganta – e onde houver melanócitos pode haver melanoma.
Examine o corpo inteiro
O melanoma também pode se espalhar para outras partes do corpo. Quando ele avança para camadas inferiores da pele, as células cancerosas que entram na corrente sanguínea ou no sistema linfático são levadas até se alojarem e começarem a criar um tumor secundário em órgãos como cérebro, pulmão ou fígado, até 10 ou 15 anos depois. Essa é a perigosíssima metástase, que costuma ser fatal nos primeiros 12 meses após o diagnóstico.
Por isso, é tão importante examinar o corpo inteiro à procura de sinais novos e incomuns. Um estudo australiano com 3.762 participantes verificou que o exame do corpo todo aumentou significativamente a probabilidade de descobrir os melanomas antes que se espalhassem. “Mesmo que a queixa inicial do paciente seja apenas no rosto, por exemplo, o exame em consulta dermatológica deve incluir a avaliação de toda a pele. Com esta prática, estudos mostram um aumento na detecção precoce do câncer de pele, o que determina um melhor prognóstico”, explica a Dra. Bianca Costa Soares de Sá, dermatologista, em São Paulo, .
Portanto, fique atento ao exame corporal: peça a um amigo ou parceiro que observe o couro cabeludo, as costas e todas as partes do corpo que você não consegue enxergar. Para mais segurança, consulte um dermatologista ou especialista em câncer de pele. Nos exames de rotina, o dentista também deve checar toda a boca: peça isso a ele e confira se faz parte da lista de verificação.
Bronzeamento artificial
As câmaras de bronzeamento artificial emitem até três vezes mais radiação UV do que o sol do meio‑dia no verão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os usuários dessas câmaras com menos de 35 anos correm um risco 75% maior de ter melanoma. A Alemanha, a França e a Áustria proíbem o uso por menores de 18 anos. As legislações de alguns países limitam a quantidade de UVB (componente mais perigoso da radiação UV) emitido pelas câmaras. No Brasil, elas foram totalmente proibidas pela Anvisa a partir de 2009.
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Mito 2
“Só corre risco quem passa muito tempo exposto ao sol.”
É verdade que a exposição à radiação ultravioleta (UV) aumenta o risco de câncer de pele; mais de 80% dos melanomas são causados pelos raios solares. No entanto, é mais provável que a exposição forte e intermitente à luz UV – queimar‑se nos fins de semana ou nas férias – danifique as células da pele e provoque melanoma, se comparada a tomar um pouquinho de sol todos os dias. Mas a ação cumulativa da radiação é perigosa e também pode causar câncer, por isso devemos usar filtro solar diariamente.
Também é muito importante não se descuidar nos períodos de férias. “As pessoas de pele clara que costumam passear durante as férias em locais ensolarados, como o Nordeste, não podem baixar a guarda”, explica a Dra. Márcia Purceli, dermatologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
“Não é a temperatura, e sim a intensidade da incidência solar que é determinante na radiação UV. Os dias nublados também são perigosos, principalmente porque muitas pessoas não sentem a ardência na pele de imediato e acabam não passando o protetor solar. O prejuízo só aparece depois”, alerta o Dr. Dolival Lobão, dermatologista do INCA. E acrescenta: “Quanto mais próximos da linha do equador e quanto maior a altitude, maior é a incidência solar.”
Pessoas de pele escura
A proteção contra o sol também é importante para quem tem pele escura: embora se queime menos, precisa de cuidados, pois a letalidade do melanoma não está relacionada à cor da pele. Há, inclusive, um melanoma mais comum em negros: o acral, que surge na planta do pé.
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Mito 3
“Só os idosos têm melanoma.”
A probabilidade de desenvolver melanoma aumenta com a idade, mas os jovens também têm esse tipo de câncer. O maior risco vem da exposição ao sol na infância e, por isso, é importante proteger as crianças e lhes ensinar hábitos seguros.
A associação do sol ao câncer de pele é mais forte do que a do fumo ao câncer de pulmão, e, quanto mais se toma sol, maior o risco. Toda vez que a pele se queima ou se bronzeia é sinal de que o DNA das células foi danificado pela radiação UV.
Na teoria, uma única queimadura de sol poderia provocar um melanoma. “Embora a maior incidência ocorra por volta dos 50 ou 60 anos, o melanoma pode surgir em qualquer idade. Por isso, é importante se proteger da radiação ultravioleta desde cedo”, diz João Paulo Niemeyer. E ele aconselha: “É importante não correr riscos em nenhuma idade.”
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Mito 4
“Melanoma não tem cura.”
Cerca de 90% das pessoas que recebem o diagnóstico de melanoma ficam livres do câncer depois da cirurgia, mas a situação não é boa para os 10% cujo melanoma se espalhou. Até hoje, os médicos não têm muito o que fazer.
No entanto, dois novos tipos de medicamento têm sido estudados na Europa e nos Estados Unidos.
Um deles é o ipilimumabe, que estimula o sistema imunológico a atacar as células do melanoma e aumenta a sobrevida de quem tem metástase avançada.
O outro tipo, cujas substâncias são o vemurafenib e o GSK 2118436, ataca o gene do câncer, evitando que ele se divida e impedindo a morte natural da célula. “Estas drogas inauguram uma fase bastante promissora, mas ainda recente. O vemurafenib e o GSK 2118436 são terapias‑alvo específicas para tentar reverter uma alteração genética que favorece o tumor”, diz a Dra. Bianca Costa Soares de Sá.
Das três novas drogas, apenas o vemurafenib tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e será administrado apenas por hospitais e clínicas (não estará à venda). Segundo o laboratório que estuda o GSK 2118436, ele ainda está em fase de estudos clínicos e, portanto, não possui aprovação para ser produzido e comercializado no Brasil.
Mas nem todos com melanoma metastático poderão se beneficiar dos novos medicamentos. Será necessária uma avaliação multidisciplinar rigorosa (com vários profissionais, como dermatologista, cirurgião e oncologista) para decidir.
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Mito 5
“Uso protetor solar, então estou bem.”
Mesmo quem usa protetor solar regularmente pode não aplicar a quantidade certa. O ideal é passar aproximadamente 35 ml no corpo – cerca de uma colher de chá por braço ou perna – e reaplicar conforme o protetor sai.
A pele já bronzeada apresenta pouquíssima proteção contra o sol; é mais ou menos como usar protetor fator 4. Os bronzeamento artificial não dá proteção nenhuma. Também é importante buscar a sombra, como recomenda a Organização Mundial da Saúde.
“É preciso se proteger sempre da exposição ao sol. A recomendação vale inclusive para quem já se expôs demais, pois o risco pode aumentar. Além disso, todos deveriam consultar um dermatologista para checar manchas, pintas e sardas”, avisa o Dr. João Paulo Niemeyer.
Qual protetor solar?
Há dois tipos de raio UV prejudiciais à pele: o UVA, que penetra profundamente na pele, provoca rugas, envelhecimento precoce e câncer de pele; e o UVB, que afeta a camada superior da pele, causando queimadura solar, vermelhidão e até câncer. Os protetores solares de amplo espectro previnem os dois.
Até pouco tempo, alguns cientistas achavam que o uso de protetor solar poderia aumentar o risco de melanoma por dar uma falsa sensação de segurança e levar os indivíduos a passar mais tempo ao sol. Mas o resultado recente de estudos de longo prazo mostra que quem usa protetor solar regularmente reduz de fato o risco de melanoma.
“O protetor solar ideal deve ter proteção tanto para UVA quanto para UVB. A proteção ao UVB é expressa no rótulo como Fator de Proteção Solar (FPS) e deve ser maior ou igual a 30. Já a proteção ao UVA, expressa como PPD (do inglês Persistent Pigment Darkening), deve idealmente corresponder a, no mínimo, um terço do FPS do produto. Neste caso, se o protetor tiver FPS 30, o ideal é que tenha, no mínimo, um PPD 10”, explica o dermatologista Dr. Leonardo Spagnol Abraham.
Principais formas de se proteger contra o melanoma
1. Não saia ao sol quando o índice UV estiver acima de 3 (entre 10h e 15h).
2. Aplique o protetor solar 30 minutos antes da exposição ao sol e reaplique‑o a cada 2 horas de exposição.
3. Na pele exposta, use protetor solar de amplo espectro e FPS de no mínimo 30.
4. Use chapéu, roupas adequadas (de preferência com fotoproteção) e óculos de sol.
5. Fique à sombra.
6. Use óculos de sol de boa qualidade, com certificação do Inmetro.
7. Não faça bronzeamento artificial.
8. Faça o autoexame em casa.
9. Visite um dermatologista ao menos uma vez por ano.
Tudo o que você precisa saber sobre o seu protetor solar.
Por André Bernardo