13 descobertas de medicamentos e aparelhos que salvam vidas

Saiba quais são as descobertas de medicamentos e aparelhos que revolucionam e salvam vidas.

Elen Ribera | 16 de Maio de 2020 às 20:00

yacobchuk/iStock -

Basta apenas ter acesso ao Google para encontrar uma lista de medicamentos e dos avanços da medicina de cada semana, mês ou ano; mas as manchetes e o número de sites encontrados não garantem que a descoberta seja verdadeira.

Por isso, decidimos verificar as melhores notícias sobre saúde e procuramos os artigos, pesquisas e opiniões de profissionais para descobrir quais são os avanços que mudaram e mudarão de fato tratamentos de pacientes?

Além disso, de todos os simpósios de que participou e de todos os estudos que leu, qual foi o mais empolgante? Qual deles o levou a discutir com os colegas nos corredores e por e-mails até tarde da noite? E o mais importante: que avanços mudarão de fato o tratamento dos pacientes?

Para acompanhar as respostas, veja aqui um resumo de 13 descobertas que podem salvar vidas e mudarão o modo de tratar as doenças.

1. RCP mais fácil e eficaz

Há uma razão simples para a Associação Cardíaca Americana mudar as diretrizes da ressuscitação cardiopulmonar (RCP) feita por leigos: o método tradicional, com compressão e respiração boca a boca, passou a ser feito só com as mãos. A razão é que esse método abreviado salva mais vidas. Eis por quê:

Usar apenas as mãos é mais eficaz, como explica o Dr. Anthony Komaroff, editor do boletim Harvard Health Letter. “Quando alguém desmaia, há oxigênio suficiente no sangue para que não seja necessário respirar. O que se precisa é manter o sangue circulando para proteger o cérebro e o restante do corpo. Na verdade, o tempo gasto na respiração boca a boca, durante o qual não se pode comprimir o peito, é prejudicial ao paciente.”

Segundo Agnaldo Pispico, cardiologista e diretor do Centro de Treinamento em Emergências da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, no Brasil a recomendação é primeiro ligar para o 192, número do SAMU, serviço médico utilizado em caso de emergências médicas, e fazer a compressão ou massagem cardíaca no peito da vítima, de forma mais intensa (100 compressões por minuto) e profunda (de pelo menos 5 cm), até a chegada do socorro. 

2. Anticoagulantes melhores

Para os quase dois milhões e meio de pessoas com fibrilação atrial, tipo de arritmia cardíaca, o anticoagulante Coumadin, também conhecido como varfarina, pode salvar vidas... e ser também um grande problema. Ele salva vidas porque ajuda a impedir a formação de coágulos; o aumento do risco de AVCs é o que mais assusta na fibrilação atrial. O problema é que quem toma Coumadin precisa fazer vários exames de sangue, ajustar a dosagem com frequência e pode ser obrigado a ter de adiar cirurgias até que o nível do medicamento no corpo se reduza.

Entra em cena o dabigatrano, aprovado em outubro pelo FDA (órgão americano que regulamenta os medicamentos). Em dose elevada, parece melhor do que o Coumadin para prevenir AVCs; em dose menor, parece igualmente bom, com muito menos probabilidade de provocar efeitos colaterais. 

3. Células-tronco para curar o coração

“Muitos achavam que as terapias com células-tronco ainda demorariam para chegar. Na verdade, estão logo ali na esquina”, diz o Dr. Joshua Hare, diretor do Instituto Interdisciplinar de Células-Tronco da Escola de Medicina Miller, da Universidade de Miami.

Às vezes, as células-tronco são chamadas de “células genéricas” do corpo. Com a capacidade de se transformar em vários tipos de células, teoricamente elas podem representar uma reserva infinita quando há lesões em partes do corpo. Em 2009, Hare e colegas provaram não só que era seguro injetar células-tronco em pacientes infartados como encontraram indícios de que o tratamento ajudava o coração lesionado a se recuperar. “Isso ainda é experimental”, diz o Dr. Hare. “Mas é muitíssimo empolgante.” 

A equipe de Hare foi uma das várias que disputaram a primazia dos avanços e descobertas. “Num dos nossos estudos, 45 pacientes estavam tão mal que tinham dificuldade até para falar”, diz Bob Nellis, porta-voz da Clínica Mayo, em Rochester, no Estado de Nova York. “Hoje, conseguem percorrer a pé, com facilidade, a distância equivalente a um campo de futebol. Um deles passou a tocar trompete!” E acrescenta: “O que chama mesmo a atenção é como tudo vem acontecendo muito depressa. Hoje, esse é o campo que avança com mais velocidade na biologia humana.” 

4. Consertar o coração quase sem cortes 

Não havia muita opção quando a válvula aórtica (que leva o sangue do coração ao restante do corpo) fica obstruída por depósitos de cálcio. Os cirurgiões tinham de cortar o esterno para chegar ao coração ou recorrer a tratamentos medicamentosos menos eficazes caso o paciente fosse idoso ou doente demais para a cirurgia. Sem cortar o tórax do paciente, os cirurgiões podem ajudar usando um cateter introduzido pela virilha. (A técnica se chama Implante Transtorácico de Válvula Aórtica, ou ITVA.) Além de mais fácil para esses pacientes frágeis, nos primeiros estudos a abordagem menos invasiva ajudou-os a viver mais do que quem recebeu o tratamento convencional.

Com o uso de cateteres, os médicos vêm obtendo progressos semelhantes na substituição de outros tipos de válvula cardíaca; a atriz Elizabeth Taylor fez uma cirurgia na válvula mitral e em seguida comentou no Twitter a respeito da intervenção. Os cardiologistas dizem que o tratamento das doenças das válvulas cardíacas nunca mais será o mesmo. 

5. Nova arma contra o tipo mais letal de câncer de pele

Faz 13 anos que o FDA aprovou um medicamento para tratar casos avançados de melanoma, câncer de pele agressivo que pode matar os pacientes em seis meses. Mas 2010 trouxe esperança com duas novas opções. O New York Times noticiou no ano passado que os pesquisadores se beliscaram para ver se não estavam sonhando quando viram os tumores encolherem em questão de semanas nos pacientes que tomaram o medicamento PLX4032. Outra substância, o ipilimumabe, trouxe benefícios igualmente impressionantes.

O PLX4032 ataca uma mutação encontrada em muitos melanomas, explica o Dr. Allan C. Halpern, vice-presidente da Fundação de Câncer de Pele e chefe de dermatologia do Centro de Câncer do Memorial Sloan-Kettering. Nos primeiros estudos, a substância fez os tumores encolherem em espantosos 81% dos pacientes com melanoma avançado (no máximo 20% reagem aos medicamentos atuais).

O ipilimumabe tem ação mais ampla, como se soltasse o freio do sistema imunológico do organismo a fim de combater o câncer com mais agressividade. Num estudo, o ipilimumabe quase dobrou o número de pacientes com um ano de sobrevida. 

6. Exame de câncer de pulmão capaz de salvar vidas

Para quem fuma – ou fumou – muito, fazer uma tomografia torácica de baixa radiação pode reduzir em 20% o risco de morrer de câncer de pulmão, como afirma um grande estudo publicado em 2010. “Nada, além de parar de fumar ou nunca começar, causa um impacto desses sobre o câncer de pulmão”, diz o Dr. Ernest T. Hawk, vice-presidente de demografia e prevenção do câncer do Centro de Câncer M. D. Anderson.

Isso não significa que todos tenham de entrar na fila da tomografia. O exame envolve uma quantidade significativa de radiação e tem inconvenientes graves, como resultados falsos que podem levar a cirurgias desnecessárias. Ainda assim, diz o Dr. Hawk, “temos pouquíssimas opções de tratamento do câncer de pulmão depois de instalado. É provável que esse exame tenha consequências significativas”. 

7. Analgésico com um bônus maravilhoso

Quando o paciente tem uma doença terminal, a ênfase do médico acaba passando da tentativa de cura para o controle da dor e dos sintomas. Não admira que essa abordagem, chamada de tratamento paliativo, melhore a qualidade de vida.

Eis o que surpreendeu num estudo recente: acrescentar o tratamento paliativo ao tratamento convencional prolongou a vida de pacientes com câncer terminal do pulmão. “Viveram doze meses em vez de nove, ou seja, 25% mais”, diz o Dr. Komaroff. “Para quem não está sofrendo, esses três meses podem ser preciosíssimos.” 

8. Fazer menos pelo câncer de mama, com mais benefícios

Há anos todos sabem que a mulher que faz uma lumpectomia para tratar o câncer de mama também precisa receber radioterapia, senão o risco de morrer da doença aumenta. Mas até 30% não fazem o tratamento, em parte por ser muito inconveniente. Por isso, foi importante os pesquisadores provarem que, em mulheres com estágio inicial de câncer de mama, o regime de três semanas pode funcionar tão bem quanto o de cinco.

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Outro estudo indicou até que algumas mulheres podem receber um único tratamento de radiação durante a cirurgia e pronto. “Quando se fala de câncer, tendemos a achar que mais tratamento é melhor”, diz a Dra. Susan Love, cirurgiã de mama e criadora da Fundação de Pesquisa que leva seu nome. “Mas não é isso que a ciência vem demonstrando.” 

9. Treinar o corpo para combater o câncer

E se pudéssemos abrir mão da quimioterapia e da radiação e usar o sistema imunológico para destruir as células cancerosas? Esse é o princípio por trás da Provenge, vacina usada para tratar o câncer de próstata aprovada pelo FDA. Até agora, os homens que usaram Provenge em estudos (todos com câncer de próstata em estado avançado) viveram em média quatro meses e meio mais, porém alguns chegaram a mais três anos. É importante citar que os efeitos colaterais foram mínimos.

O resultado é imperfeito e o custo, alto – mais de 90 mil dólares pela rodada completa de tratamento –, mas o Provenge ainda é um avanço notável, como disse o Dr. Len Lichtenfeld, vice-diretor médico da Sociedade Americana de Câncer, quando a vacina foi aprovada. Eis o motivo: ela comprova que o sistema imunológico pode ser estimulado a combater o câncer. O FDA já está examinando uma segunda vacina contra uma forma de linfoma difícil de tratar.

10. Mais cautela nos exames 

As tomografias são ferramentas fantásticas para o médico; basta ver os benefícios para quem tem câncer de pulmão. Mas se impôs o respeito pelo seu potencial de perigo. “Uma série notável de estudos demonstrou que, a cada ano, as tomografias são responsáveis por um número imenso de casos de câncer nos Estados Unidos”, diz o Dr. Robert Wachter, especialista em segurança dos pacientes e chefe de medicina hospitalar do campus de São Francisco da Universidade da Califórnia.

O que é “imenso”? Um estudo demonstrou que mais de uma em cada 300 mulheres e um em cada 600 homens que fazem uma única tomografia cardíaca terão câncer depois de se expor à radiação. 

11. Um comprimido por dia pode prevenir o câncer

Um comprimido que todos têm em casa pode ser uma arma poderosa contra o câncer. Numa análise de quatro grandes estudos, quem tomou uma pequena dose diária de aspirina reduziu em até 35% o risco de morrer de câncer de cólon. E há mais remédios comuns que podem ter esse efeito positivo. Algumas pesquisas preliminares indicam que a metformina, medicamento antidiabético, pode dar proteção contra os cânceres de cólon e de pulmão. As duas substâncias reduzem inflamações, explica a Dra. Susan Love, e as inflamações estimulam o crescimento do câncer. “Pensamos sempre que é preciso matar todas as células cancerosas”, diz a Dra. Susan. “Mas, e se elas ficarem dormindo, qual o problema?”

É cedo demais para começar a tomar esses comprimidos na esperança de prevenir o câncer, já que ambos podem ter efeitos colaterais graves. Mas quem já os toma por outras razões pode estar fazendo um grande favor a si mesmo. 

12. Melhor proteção contra o HIV

Depois de anos de desapontamentos e becos sem saída, os pesquisadores do HIV alcançaram uma meta pela qual muito ansiavam e descobriram um modo para as mulheres reduzirem o risco de contrair o vírus em relações sexuais, ainda que o parceiro não use camisinha. “Isso vai mesmo mudar as regras do jogo”, disse ao Washington Post o Dr. Bruce Walker, pesquisador sobre Aids de Harvard.

O gel vaginal não é o ideal – reduziu em até 54% a probabilidade de contrair o HIV – e precisa de mais estudos. Mas é um sucesso gigantesco para os pesquisadores que passaram muitos anos procurando um modo de defender algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo.

13. Nova arma contra um antigo flagelo

É bom dar atenção aos exames de tuberculose feitos na hora por duas razões, pelo menos. A primeira é que ajudarão a controlar uma das doenças que mais matam no mundo em desenvolvimento. Em segundo lugar, você também ficará protegido.

A tuberculose pode ser curada quando diagnosticada e tratada corretamente. Mas, como o teste mais comum é lento e pouco confiável, muita gente, em vários países, não tem o diagnóstico ou recebe tratamento ineficaz, o que aumenta a probabilidade de a bactéria ficar imune à medicação. 
Num mundo onde as viagens aéreas podem levar um turista ou imigrante infectado para qualquer cidadezinha, a tuberculose resistente a medicamentos ameaça a todos. O novo exame tem 99% de precisão e o resultado sai em duas horas, um avanço espantoso quando comparado à espera comum de três meses em algumas partes do mundo.

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O exame rápido pode permitir um tratamento mais eficaz e até a eliminação completa da doença, como afirma o Dr. Peter Small, chefe dos programas de tuberculose da Fundação Bill & Melinda Gates, que ajudou a financiar a pesquisa. “É possível dizer [aos pacientes] se eles têm tuberculose antes que saiam do consultório e se a doença é resistente a medicamentos”, disse ele à Associated Press. “É uma transformação.” 

Por Lisa Davis e Regina Nuzzo


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