É normal que o corpo mude conforme envelhecemos. O truque é aceitar o que não podemos controlar e ter consciência daquilo que podemos.
A nossa aparência e a forma como o corpo funciona mudam à medida que envelhecemos – e nem sempre para pior. Há muito a ser feito para minimizar as adversidades e manter a força e a vitalidade.
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O envelhecimento fisiológico – as mudanças que ocorrem no corpo conforme o tempo passa – é um processo complexo; varia não só de pessoa para pessoa, mas também ocorre em ritmos diferentes no indivíduo. Enquanto a visão e a audição podem não ser mais perfeitas, o coração e os pulmões podem estar extremamente fortes.
Um fato encorajador é que o corpo tem capacidade ociosa – o que os cientistas chamam de “reserva funcional”. Isso significa que ele pode funcionar bem na terceira idade; portanto, uma pessoa com 60 anos ativa e saudável pode estar em melhor forma do que um sedentário com 30 anos que fuma, bebe e só come junk food. Eis o que acontece com alguns órgãos e tecidos com o passar do tempo.
Pele
Conforme envelhecemos, a pele fica literalmente fina. Perdemos de forma gradual a camada de gordura logo abaixo da pele, que dá uma aparência jovial, bem como substâncias proteicas, colágeno e elastina, além dos óleos naturais da pele.
Quando a pele afina e fica mais transparente, pequenas veias ficam visíveis. Talvez também fiquem aparentes algumas áreas hiperpigmentadas ou manchas senis – mas é importante lembrar que elas não são nocivas. O que é prejudicial é a exposição excessiva ao sol, o que pode piorar as rugas e a condição geral da pele – ou pode até levar ao câncer de pele.
É possível minimizar esses problemas bebendo bastante água, passando protetor solar todos os dias e evitando a exposição ao sol durante a parte mais quente do dia, limpando a pele suavemente e tendo uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e verduras.
Coração e pulmões
À medida que envelhecemos, válvulas, artérias e a parede do coração podem se tornar mais espessas e rígidas, a frequência cardíaca pode diminuir, e talvez o coração aumente de tamanho. O risco mais comum é o depósito de gordura que pode se acumular dentro das artérias coronarianas, estreitando-as gradualmente, de modo que o coração precise trabalhar mais para bombear o sangue. Essa condição é chamada de arteriosclerose e pode resultar no fluxo insuficiente de sangue até o coração, levando à dor temporária no peito, ou angina.
Partes da placa de gordura podem se soltar e bloquear uma artéria, causando um infarto. A arteriosclerose na artéria carótida do pescoço pode causar AVC, enquanto a doença das artérias nas pernas pode causar dor aguda. A hipertensão arterial e o colesterol alto exacerbam essa condição.
Assim como o coração, os pulmões podem funcionar normalmente até a idade avançada. No entanto, os pulmões, a parede torácica e o diafragma ficam menos elásticos, então é provável não conseguir inspirar tanto oxigênio como quando se era mais jovem.
Embora a tendência seja perder células do coração conforme envelhecemos, esse órgão poderoso tem uma incrível capacidade de se adaptar e continuar funcionando. Se o idoso se exercitar bem, em especial fazendo exercício aeróbico, ele ajudará o coração a lidar com qualquer mudança relacionada à idade. E abster-se do fumo não só beneficia o coração, como também ajuda a manter a boa capacidade pulmonar.
Fígado e rins
Com a idade, o número de células no fígado diminui, assim como o fluxo sanguíneo, e as enzimas necessárias para o funcionamento do fígado funcionam com menos eficiência. Essas mudanças podem fazer com que seja mais demorado eliminar medicações e outras substâncias do nosso corpo.
Enquanto isso, os rins encolhem por causa da perda celular e da circulação mais precária e, portanto, não filtram mais tão bem os resíduos. Isso leva a uma excreção desequilibrada de água e sal, o que pode causar desidratação. O funcionamento precário dos rins pode resultar em hipertensão arterial, doença cardíaca e AVC, enquanto o diabetes não controlado pode danificar a função renal.
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O fígado tem uma capacidade incrível de regeneração, ainda mais se a ingestão de álcool for moderada. Os rins não se regeneram da mesma forma que o fígado, mas o fato de termos dois rins significa que há capacidade extra. Manter a pressão arterial sob controle praticando exercícios e, se necessário, tomando medicamentos, pode ajudar a função renal.
As mulheres precisam tomar cuidado extra quando ingerem bebida alcoólica, pois o corpo feminino reage ao álcool de forma diferente do masculino. Em geral, as mulheres são mais baixas e pesam menos que os homens, o que as faz concentrar mais álcool no corpo. Elas são afetadas mais rapidamente do que os homens pelo álcool porque produzem menos enzimas que metabolizam a substância no estômago antes de ser absorvida pela corrente sanguínea. Além disso, mulheres têm mais gordura corporal do que os homens, e a gordura não absorve o álcool, o que significa que a concentração de álcool no sangue será maior.
Cérebro
Depois dos 30 anos, o cérebro começa a perder neurônios e, aos 80, pesa 7% menos do que aos 25 anos; no entanto, há apenas algumas perdas cognitivas que podem ser atribuídas à idade. Em primeiro lugar, conforme o cérebro envelhece, a velocidade com que ele processa informação diminui. Em segundo, determinados tipos de memória de fato declinam – por exemplo, a capacidade de lembrar um nome ou determinada palavra.
O simples fato de se ter consciência dessas mudanças no cérebro significa que é possível contorná-las; por exemplo, permitindo-se bastante tempo para fazer as coisas e, se estiver tentando aprender algo novo, não desistir logo.
Há também evidências crescentes que sugerem que, ao contrário do que acreditávamos, o processo de formação de novas células do cérebro (conhecido como neurogênese) dura a vida toda. A formação de novas conexões entre os neurônios (denominadas sinapses) é também, ao que parece, um fenômeno interminável. Isso significa que, a menos que tenhamos o azar de desenvolver um transtorno no cérebro como a demência, somos capazes de aprender e de acrescentar mais informações à memória ao longo da vida, independentemente da idade.
Desafiar o cérebro força-o a desenvolver novos dendritos – as fibras semelhantes a fios de cabelos que conectam os neurônios. Quanto mais conexões, mais ágil é o cérebro. Aprender uma língua nova, fazer aula de cerâmica, perseverar na palavra cruzada ou simplesmente aprender algo novo pode ser o estímulo de que você precisa. Tocar um instrumento musical é muito bom porque requer a coordenação entre diferentes áreas do cérebro, pois é preciso fazer várias coisas ao mesmo tempo: ler, ouvir e tocar.
Ossos
Até cerca dos 30 anos, produzimos mais osso do que perdemos. Após os 40, perdemos por volta de 1% da massa óssea por ano. As mulheres podem perder até 20% da densidade óssea nos 5 a 7 anos após o início da menopausa, o que aumenta drasticamente o risco de fraturas.
Embora a massa óssea diminua, é possível protelar muito dessa perda ingerindo cálcio, vitamina D e quantidade adequada de proteína, praticando exercícios calistênicos e de força e, em algumas situações, fazendo terapia de reposição hormonal (TRH).
Imunidade
O timo, que controla a produção de células T – a principal linha de defesa do corpo – encolhe à medida que envelhecemos. Resultado? Ficamos menos capazes de lutar contra as doenças. Felizmente, a medicina moderna eliminou ou reduziu o impacto de muitas doenças infecciosas, e medidas simples como ingerir vitaminas e chás naturais e dormir o suficiente podem, na verdade, aumentar a imunidade.
Os cinco sentidos
Conforme envelhecemos, os órgãos dos sentidos passam por mudanças e também experimentamos um aumento do “limiar sensorial” – isto significa que tendemos a precisar de mais estímulos sensoriais antes que o corpo perceba a sensação, como o paladar ou o olfato. Eis o que esperar para os próximos anos:
Tato
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Talvez você fique menos sensível a dor, temperatura, vibração e pressão. A pele fica mais fina, o que pode nos tornar mais ou menos sensíveis ao toque. Ainda se discute se essas mudanças simplesmente ocorrem por causa da idade ou de doenças que se tornam mais comuns com o envelhecimento. A má circulação do sangue pode ter uma influência, assim como a deficiência de vitamina B.
Visão
As alterações na visão provocadas pela idade (presbiopia) se devem à rigidez, ao espessamento e ao amarelamento do cristalino. Há também perda das células nervosas e mudanças na maneira como a pupila reage à luz. A maioria das pessoas acha mais difícil focalizar as letras pequenas de cardápios e livros e enxergar sob luz fraca. Talvez você seja mais sensível à claridade, principalmente quando dirige à noite.
Audição
Estima-se que a perda de audição relacionada à idade afete mais de um terço dos adultos entre 65 e 75 anos e até metade daqueles acima dos 75. Pode ficar mais difícil entender o que as pessoas dizem, em especial em ambientes barulhentos. É também mais complicado decifrar sons agudos e pode ser impossível escutá-los.
Paladar
Enfraquece com a idade, em parte por causa do declínio no número de papilas gustativas, mas também pela redução do olfato.
Olfato
Muitos acham que o olfato fica menos aguçado após os 70 anos. Os especialistas ainda discutem se isso se deve à idade, a doenças ou a fatores de estilo de vida, como o tabagismo. É possível ajudar a equilibrar qualquer declínio usando os sentidos de forma mais consciente. Prestar atenção aos cheiros, aos gostos, ao toque e à visão nos faz apreciar os prazeres mais sutis da vida, refinando os sentidos.