Até 30% das pessoas acima de 65 anos têm os sintomas de um ou mais dos três tipos de incontinência urinária. Saiba mais sobre esse problema!
Às vezes, você simplesmente tem de ir ao banheiro. E parece que quanto mais velho fica, isso acontece com mais frequência. Estamos falando sobre algo que a maioria das pessoas reluta em discutir, até mesmo com os próprios médicos: incontinência urinária.
Até 30% das pessoas acima de 65 anos têm os sintomas de uma ou mais das três formas de incontinência urinária. Embora as mulheres sejam mais propensas do que os homens, por volta dos 80 anos a disparidade entre os gêneros desaparece. A incontinência urinária não é apenas constrangedora: esse problema afeta a qualidade de vida, levando a pessoa a abandonar atividades e amigos dos quais gosta e até a mudar a forma como se sente com relação a si mesma.
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Mas aqui está a questão: escape de urina e urgência forte e repentina de urinar não são distúrbios com os quais você tem de conviver apenas por estar envelhecendo. Há excelentes tratamentos médicos e hábitos de vida para a incontinência. Mas o primeiro passo é admitir o problema e procurar um urologista. Confira a seguir quais são os tipos de incontinência urinária e como você pode evitá-la.
Tipos de incontinência urinária
É preciso descobrir o tipo de incontinência que você tem. Há três principais – de urgência, de estresse e de fluxo constante – embora seja possível ter mais de um (incontinência mista).
Incontinência de estresse
A pessoa libera urina de modo involuntário ao rir, correr, espirrar, tossir ou ao fazer qualquer esforço. É a forma mais comum e ocorre especialmente com mulheres, em geral por causa do parto natural. Se os músculos do assoalho pélvico (que mantêm o sistema reprodutivo no lugar) se tornam fracos, distendidos ou sofrem algum dano na gravidez ou no parto, a incontinência de estresse passa a ser frequente. Mas os homens não escapam desse distúrbio. Em geral, eles têm a incontinência de estresse após cirurgia da próstata.
Nas mulheres, a cirurgia para fortalecer os músculos do assoalho pélvico, seguida dos exercícios de Kegel, pode reduzir esse tipo de incontinência entre 88% e 94%. Nos homens, porém, os tratamentos cirúrgicos não são tão bem-sucedidos. Estudos comprovam melhora entre 36% e 95%. Um estudo importante comparou uma forma de cirurgia minimamente invasiva (na qual uma faixa é usada para dar suporte à uretra) com o procedimento mais tradicional (no qual a uretra e a bexiga são costuradas à parede pélvica), e descobriu que a faixa é muito mais efetiva em aliviar a incontinência.
Incontinência de fluxo constante
É a segunda forma mais comum em homens. Ocorre quando algo bloqueia a uretra, o tubo condutor que sai da bexiga e termina na superfície exterior do corpo. Nos homens, o bloqueio é muitas vezes causado por próstata aumentada, a chamada hiperplasia prostática benigna (HPB). Na HPB, a próstata comprime a uretra fechada da mesma forma que um pregador apertaria uma mangueira. A pressão aumenta até que, por fim, a urina vaza. O movimento é involuntário. Não se sinta constrangido com relação à HPB: é o problema de saúde mais comum em homens acima de 60 anos.
O único tratamento real para este tipo é cuidar do que estiver bloqueando a uretra. Nos homens, em geral, isso significa medicação ou cirurgia para a próstata aumentada.
Incontinência de urgência
A urgência de urinar ataca de repente, como uma tempestade de verão, e, em geral, com uma inundação semelhante. Ela pode ocorrer se a pessoa apresenta um transtorno no sistema nervoso central como doença de Alzheimer ou de Parkinson, ou teve um AVC. Também pode estar relacionada ao aumento de sensibilidade dos músculos da bexiga por causa da acetilcolina, substância química do cérebro que estimula a bexiga a entrar em ação.
O tratamento inclui medicação, cirurgia ou abordagens comportamentais, como exercício físico e retreinamento da bexiga. Vários remédios podem evitar que a bexiga se contraia, mantendo a urina no local a que pertence até que você escolha soltá-la. Estudos revelam que a medicação pode reduzir o número de casos de incontinência em até 70%, curando o distúrbio por completo em cerca de 20% das pessoas.
De modo geral, mudanças no estilo de vida e no comportamento são mais efetivas do que as opções médicas. No entanto, talvez levem mais tempo para surtir efeito, exijam mais esforço e possam não propiciar uma “cura” completa.
Tratamentos
Pratique exercícios de Kegel
Um dos melhores treinamentos para a incontinência de urgência ou de estresse são exercícios para os músculos do assoalho pélvico, os exercícios de Kegel. O treinamento pode ser feito em qualquer lugar, a qualquer hora. Comece tracionando ou comprimindo os músculos pélvicos como se estivesse tentando deter o fluxo de urina ou a saída de gases. Conte até dez enquanto mantém a contração, relaxe e repita. É isso!
Tente fazer três séries de dez contrações por dia, no mínimo. No início, deite-se para fazer os exercícios. Quando já estiver dominando a técnica, passe a fazer os exercícios enquanto espera em uma fila, dirige ou está sentado assistindo TV. Em um estudo comparando os exercícios de Kegel com medicação, os participantes que fizeram os exercícios viram os episódios de incontinência cair 81%. Nos pacientes que tomaram os medicamentos a queda foi de 69%. A combinação de remédios e exercícios de Kegel funciona melhor na incontinência de urgência.
Tente outros exercícios
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Se você ainda estiver com problemas apesar de fazer os exercícios de Kegel, pergunte ao médico sobre outras técnicas que possam ajudá-la. Ele talvez possa lhe prescrever uma série de cones vaginais. Você insere um cone na vagina, e tenta mantê-lo por cerca de 15 minutos, duas vezes por dia. Comece com o cone mais leve, depois passe para outro mais pesado, como um tipo de exercício de força, só que interna. Outros dispositivos vaginais podem ajudá-la a sustentar o colo da bexiga e a deter o fluxo involuntário.
Siga uma programação
Os médicos afirmam que uma das razões da incontinência urinária é que algumas pessoas urinam com muita frequência. O volume urinário que a bexiga consegue reter diminui e os músculos dão o sinal “banheiro!” mesmo quando a bexiga não está totalmente cheia. Se você costuma ir ao banheiro a cada uma ou duas horas, experimente treinar a bexiga. Numerosos estudos confirmam que esse treinamento, que fortalece os músculos da bexiga, melhora a incontinência urinária, e essa é uma boa razão para se acreditar que também possa evitá-la.
Uma das maneiras de treinar a bexiga é começar indo ao banheiro a cada hora, esteja ou não com vontade. No dia seguinte, vá a cada hora e meia. Continue a aumentar o intervalo de tempo entre as idas ao banheiro em 30 minutos por dia, até chegar a algumas horas, ou ao cronograma que achar mais adequado para evitar a incontinência urinária. Esvazie também a bexiga após cada refeição.
Pergunte sobre o biofeedback
Essa técnica ajuda as mulheres a aprenderem a exercitar os músculos corretos do assoalho pélvico de modo a melhorar a incontinência. Um fisioterapeuta especialista em incontinência lhe mostrará como usar um dispositivo especial que é inserido na vagina e emite um sinal quando você está contraindo os músculos certos. O biofeedback mais os exercícios para o assoalho pélvico parecem produzir bons resultados, em especial se combinados ao treinamento da bexiga.
Estímulo elétrico
O médico pode prescrever estimulação elétrica (uma corrente elétrica é aplicada ao assoalho pélvico, levando à contração e ao fortalecimento dos músculos).
Acupuntura
A acupuntura possui diversos benefícios. Ela parece ser segura e efetiva para a incontinência de urgência, reduzindo os sintomas em quatro a seis semanas. Mas o alívio dura pouco, e você pode precisar de outros tratamentos sequenciais.
Como prevenir a incontinência urinária
Verifique a medicação
Certos medicamentos podem induzir à incontinência: muitos diuréticos, remédios para asma, analgésicos narcóticos, alfabloqueadores, anticolinérgicos, bloqueadores do canal de cálcio e inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA). Se não estiver seguro sobre quais tipos você toma, peça orientação ao médico.
Evite o chá e o cigarro
Pessoas que tomam chá parecem ser mais suscetíveis a incontinência do que as adeptas do café. Embora isso não se deva à cafeína, os pesquisadores não sabem a causa.
Além disso, diversos estudos descobriram um forte elo entre tabagismo e incontinência.
Perca peso
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Se você estiver com sobrepeso ou obeso, a pressão no colo da bexiga é maior, aumentando o risco de incontinência.
Tente comer menos, assim você perderá peso. Estudos mostram que essa é uma das maneiras mais efetivas, depois dos exercícios do assoalho pélvico, de evitar a incontinência urinária. Faça seu prato com as porções adequadas e não ponha as travessas na mesa do jantar, onde ficará tentado a repetir. Outro truque: use pratos menores. O prato ficará mais cheio e você terá a sensação de comer mais.
Mulheres, pensem no estrogênio
Às vezes, a incontinência em mulheres de meia-idade ou mais velhas está relacionada a níveis baixos de estrogênio. Esse hormônio tem uma função importante na força e na saúde dos músculos que controlam a bexiga, assim como na bexiga e na uretra em si. Converse com o médico sobre o uso de estrogênio vaginal. Como o estrogênio é usado na forma de creme ou supositório, uma concentração muito pequena entra na corrente sanguínea, mas o suficiente chega ao sistema urinário para facilitar a redução da incontinência.
Um estudo descobriu que 58% das mulheres que receberam estrogênio tópico na área vaginal três vezes por semana tiveram menos episódios de incontinência de urgência do que o grupo que recebeu placebo. Um novo tratamento usa um anel impregnado de estrogênio que pode ser colocado na vagina por até três meses, evitando a necessidade da dose diária. Mas alguns preparados de estrogênio podem danificar preservativos ou diafragmas.
Abstenha-se da histerectomia
Estudos indicam que a probabilidade de as mulheres que fazem histerectomia, a cirurgia ginecológica mais comum do mundo, precisarem mais tarde de cirurgia para correção da incontinência urinária é o dobro da probabilidade das que não a fizeram. Muitas histerectomias são clinicamente desnecessárias; se o seu médico a recomendar, pergunte se há outras opções ou busque uma segunda opinião.