O jeito como as crianças entendem e lidam com luto e morte pode variar. Por isso saiba como abordar esse tema da melhor maneira.
Criar uma criança é uma das tarefas mais desafiadoras para pais e responsáveis. Quando a curiosidade aparece, os pequenos fazem perguntas a todo momento. Mas algumas não são muito fáceis de responder. Uma das questões mais difíceis de abordar é sobre luto e morte.
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Nessas horas é comum recorrer ao universo lúdico para explicar esse tema. São muitas as alternativas usadas por pais e responsáveis para amenizar o peso dessa realidade, mas nem sempre as abordagens utilizadas são as mais indicadas.
Por isso, conversamos com a psicóloga Vivianne Conceição Mello Souza para saber qual a melhor maneira de falar sobre luto e morte com as crianças.
Seleções – A partir de qual idade deve-se falar abertamente sobre morte e luto? Por quê?
Vivianne Souza – Normalmente nós adultos temos uma grande dificuldade em falar sobre a morte de uma maneira geral e acabamos passando isso para crianças. É muito importante estarmos atentos a como comunicamos sobre o mundo, já que elas absorvem e reproduzem os adultos. Crianças são esponjinhas!
A idade ideal seria quando a criança tivesse compreensão sobre a morte. Mas se esse tema é um tabu para aquela família, dificilmente a criança vai ter contato com essa temática. O mais indicado é que os responsáveis usem o universo lúdico para conversar com as crianças sobre luto e morte.
Por exemplo, supondo que a criança tenha 4 anos e seu bichinho de estimação tenha morrido, não é apropriado fingir que nada aconteceu, ou dizer que o bichinho foi embora. Esse posicionamento pode acarretar vários problemas, inclusive sensação de abandono, de solidão ou de que a criança fez algo errado.
Portanto, o melhor caminho é sempre falar a verdade para a criança; muitas vezes subestimamos a capacidade da criança em lidar com a verdade. E nesse processo ter o cuidado de adequar, de acordo com a idade, a maneira como iremos conversar com ela sobre isso.
Seleções – Quais cuidados devemos ter ao falar desse tema com crianças? Que recursos podemos utilizar?
Vivianne – Crianças muito pequenas compreendem algumas situações de forma literal. Sendo assim, o ideal é tentarmos evitar as “mentirinhas” como: vovô viajou, virou arco-íris ou estrelinha etc.
Gosto muito de conversar e demonstrar o ciclo da vida. Amo utilizar como referência a experiência do pé de feijão, pois é uma ótima forma da criança visualizar os ciclos. Outra maneira é observar as estações do ano; nesse caso, a criança pode desenhar para absorver melhor o assunto.
É possível também utilizar livros ou filmes para auxiliar nessa conversa. Por exemplo:
- O Rei Leão – Nos ensina de maneira linda sobre o luto paterno. “Ele vive dentro de você”.
- Viva! A vida é uma festa – Trata do resgate do respeito e do valor por nossos antepassados.
- Up – Altas Aventuras – Apresenta a ideia de que a vida continua mesmo sem a presença do outro.
- Bambi – Nos ensina sobre o luto materno e o poder da família e da amizade para a elaboração do luto.
- Operação Big Hero – Fala dobre o luto pelo irmão.
- Frozen – Aborda o luto pelos pais.
Seleções – Em quais situações é recomendado um acompanhamento psicológico para uma vivência correta do luto? É preciso estar atento a quais sinais?
Vivianne – O processo de luto é bem doloroso e leva tempo para sua elaboração. Varia muito de criança para criança, mas ao menor sinal de mudanças de humor, de comportamento, isolamento, perda de apetite ou sono é ideal levá-la para uma avaliação psicológica para receber ajuda nesse processo.
É importante os responsáveis validarem o que a criança está sentindo, acolhendo, permitindo que ela expresse livremente a dor da perda do seu ente querido.
Mas é importante ressaltar que se a criança for maior é importante deixá-la escolher se quer ir ao velório se despedir do seu ente querido ou não. Muitos responsáveis não permitem essa escolha e as crianças acabam por não conseguirem elaborar o luto de uma maneira saudável.