Depois da declaração polêmica da youtuber Dani Noce, comparando açúcar à cocaína, especialistas respondem se realmente o açúcar vicia.
Primeiro mês do ano e como vai aquela promessa de fazer dieta e reduzir o consumo de açúcar? Depois da declaração polêmica da youtuber Dani Noce, comparando açúcar à cocaína, talvez seja melhor pesquisar mais sobre quais malefícios o consumo exagerado de açúcar pode nos causar.
Para isso, entrevistamos duas especialistas: a nutricionista Letícia Cunha e a médica nutróloga Jéssicka Paixão, da clínica Sthesis.
Açúcar vicia?
Para responder essa pergunta, ambas as especialistas concordam que o açúcar, principalmente o açúcar refinado, tem sim a capacidade de criar dependência devido a sua ação no corpo de despertar sensações de conforto e euforia.
“O ‘vício’ acontece por consumo excessivo de açúcar na alimentação, o que causa alterações de humor, de início proporcionando ânimo e prazer. Após um tempo, a sensação cessa e você começa a querer mais e mais, começando a recorrer ao consumo desses alimentos para obter a sensação de bem-estar/conforto” afirma a Dr. Letícia Cunha
Quais malefícios o consumo excessivo de açúcar pode causar?
É de conhecimento geral que nada em excesso faz bem, mas o consumo excessivo dos doces e açúcares é popularmente ainda temido por ser responsável pelas gordurinhas a mais. Além de doenças mais graves, como por exemplo o diabetes.
A médica Jéssicka Paixão explica que o açúcar refinado aumenta a liberação do hormônio insulina, que é o responsável por transformar a glicose (açúcar) em fonte de energia. E esse aumento, além dos resultados citados acima, pode causar também obesidade, “Diabetes mellitus do tipo 2, esteatose hepática (gordura no fígado), aumento do risco cardiovascular”.
A nutricionista Letícia ainda adiciona à lista: “diminuição da imunidade, fadiga crônica, doenças intestinais”.
O que pode levar ao vício do açúcar?
É preciso ter atenção ao consumo frequente e excessivo que acostumam o corpo à sensação de alegria e conforto pedindo sempre por mais e gerando o vício.
Além disso, a nutróloga Jéssicka atenta que a genética pode influenciar no tempo que uma pessoa leva para criar dependência. Ou seja, dependendo da genética, uma pessoa pode se viciar consumindo-o em excesso mesmo em pouco tempo, ou até o contrário, não gerar a dependência mesmo ingerindo muito açúcar por mais tempo.
Além disso, fatores emocionais podem incentivar o consumo excessivo de doces, justamente sua ação imediata de prazer e felicidade.
“Algumas situações podem aumentar a propensão pela busca do prazer e sensação de bem-estar, principalmente questões com gatilhos para sentimento de culpa e tristeza, como depressão, compulsão alimentar, bulimia, ansiedade e estresse. O tratamento requer acompanhamento médico e nutricional”, declara a médica Letícia.
O vício em açúcar é comparável ao vício em cocaína ou qualquer droga?
A nutricionista explica que essa comparação é feita justamente por estudos revelarem que, assim como o açúcar, a cocaína também libera “neuroquímicos de prazer, podendo gerar episódios de alteração de humor e comportamento”, revela Letícia.
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Entretanto, Jéssicka diz que, apesar das semelhanças, é preciso lembrar que “a cocaína é uma droga com um grande impacto social que gera inúmeros prejuízos a saúde” e que considera essa comparação um “terrorismo nutricional”.
“Consumir açúcar eventualmente, e em pequena quantidade, não irá trazer grandes prejuízos à saúde (…) O que é importante que as pessoas entendam é que apesar de não ser uma droga, o consumo excessivo de açúcar – principalmente o açúcar refinado – trará grandes prejuízos à saúde a longo prazo, diminuindo qualidade de vida e autonomia”, declara a médica.
Como se livrar do vício de açúcar?
Ambas as médicas recomendam a redução gradual do consumo de açúcar e uma dieta com acompanhamento médico. Letícia indica “acrescentar fontes de fibra e proteína nas refeições, evitar ter esses produtos açucarados em casa, ler os rótulos dos produtos que costuma comprar, fazer exercício físico”.
A nutróloga Jéssicka também sugere o consumo de frutas quando a “vontade de doce aperta”, ao invés de optar pelo consumo de outras fontes de açúcar.
Quais as alternativas menos prejudiciais para substituir o açúcar?
“O ideal é sentir o sabor do alimento! Café é amargo! Limão é azedo!”, declara Jéssicka.
Ela diz que se acostumar com o sabor natural de cada alimento e se adaptar a ele é um caminho difícil, mas é o objetivo final, podendo, assim cortar da dieta, ou ao menos diminuir o consumo comidas mais adocicadas.
“Podemos lançar mão de alguns adoçantes naturais que não têm o mesmo impacto do açúcar no nosso organismo. Stevia, Xylitol e Eritritol são adoçantes naturais que podem ser utilizados nessa transição, mas tem a limitação de preço (xylitol e eritrtitol) ou sabor (stevia é um pouco amargo)”, completa a médica.