Conheça os pratos e bebidas tradicionais que os povos de diversos países do mundo celebram as festas de fim de ano.
Douglas Ferreira | 8 de Dezembro de 2021 às 12:00
Um país inteiro consegue concordar em alguma coisa? No Natal, tudo é possível. Pedimos aos editores de nossas edições internacionais que revelassem as guloseimas especiais e as bebidas clássicas das famílias de seu país nas festas de fim de ano.
Os brasileiros mal têm tempo na agenda lotada de dezembro, diz Raquel Zampil, editora de Seleções no Rio de Janeiro: “O mês inteiro é dedicado às comemorações.” E a estrela da ceia natalina é o peru assado acompanhado de farofa, feita de farinha de mandioca tostada, em geral na manteiga, com cebola e os ingredientes da sua preferência. Veja 15 receitas de farofa para incrementar a sua Ceia!
Servida com gelo em copos à moda antiga, este coquetel de limão e açúcar é a bebida nacional – e cai muito bem no Natal por boas razões: é refrescante no nosso clima tropical e contém a brasileiríssima cachaça. (Há similares em outros locais, comoo rum branco, mas a cachaça é destilada a partir de caldo de cana fresco fermentado, e não de melado, e, por lei, tem de ser feita no Brasil.)
Este item está presente em quase todas as mesas nas festas de fim de ano. Filé frio de vitela servido com molho cremoso de atum, o vitel toné foi trazido pelos 3 milhões de imigrantes italianos que chegaram à Argentina na virada para o século 20. “É a refeição perfeita: fácil, rápida de fazer e ótima para alimentar uma multidão”, diz o editor Leonardo Schiano, de Buenos Aires.
Assim que o banquete acaba, aparece a garrafa de limoncello. Muitos argentinos acreditam que este licor de limão ajuda a digerir, apesar da falta de provas científicas sólidas. Não importa: servido geladíssimo, é inegavelmente delicioso e outro laço do país com seus ancestrais mediterrâneos (tipicamente, o limoncello é produzido no sul da Itália).
Quando são deliciosos, os doces viajam. As variações desta massa de trigo frita existiam há muito tempo na Turquia, no Marrocos, no Egito e na Espanha até migrarem para o México, onde hoje são consumidas de várias maneiras. Em Baja California Sur são preparadas com goiaba e xarope de piloncillo (parecido com melado); em Chihuahua, com queijo; em Oaxaca, polvilhadas de açúcar vermelho.
Como boa parte da culinária mexicana, esta bebida da categoria do eggnog e da gemada tem raízes na vida religiosa. Acredita-se que foi criada no século 17 num convento em que freiras engenhosas misturaram leite, canela, ovos e açúcar com rum. As versões atuais podem incluir pinhões ou nozes, mas, no México e na América Central, o leite e os ovos são a base. “O rompope nunca deixa de aquecer o coração na estação mais fria”, diz a editora Areli García, da Cidade do México.
Há algo em que australianos e neozelandeses concordam: esta criação baseada no suspiro recebeu o nome da grande bailarina Anna Pavlova, que se apresentou na região na década de 1920. Mas quem realmente inventou a sobremesa? Os dois países a reivindicam, e não há como um convencer o outro. O melhor é cobri-la de creme chantilly e sua combinação favorita de frutas frescas e declarar o empate. Veja aqui como fazer uma pavlova de morango deliciosa!
Dada a falta de neve na Austrália e na Nova Zelândia nessa época do ano, as bebidas preferidas são as adequadas para o verão. Seja a mimosa da manhã de Natal, feita de suco de laranja com um vinho espumante local, ou a geladíssima lager para acompanhar o churrasco da festa na praia, o importante é refrescar. “Qualquer coisa fria e líquida!”, diz Zoe Meunier, editora administrativa das edições de Seleções na Ásia e no Pacífico.
Comida de rua das festas filipinas, em geral o puto bumbóng é servido diante da igreja depois da Simbang Gabi, a missa rezada nas nove noites anteriores ao Natal. Este bolo doce e roxo recebe a cor do arroz escuro que fica de molho antes de ser moído. (Os cozinheiros em busca de um atalho simplesmente acrescentam inhame-roxo à farinha de arroz.) Depois, a mistura é despejada em cilindros de bambu, cozida no vapor, coberta de manteiga, coco ralado e açúcar e servida sobre uma folha de bananeira.
Muito popular nas festas de fim de ano, este chocolate quente é feito dissolvendo tabletes de cacau puro em água quente, acrescentando açúcar e leite ou creme e em seguida batendo a mistura com um batidor. É tradição na manhã de Natal ou acompanhando o puto bumbóng depois da missa.
A cultura eslovena é uma mistura de influências, e as mesas festivas de várias regiões têm pouco em comum, a não ser, talvez, este bolo-rocambole. “Toda família tem uma receita própria de potica, passada de geração em geração”, diz Maja Lihtenvalner, editora de Seleções de Liubliana. Em geral, o rocambole é recheado de nozes ou avelãs moídas, mas as variações podem incluir sementes de papoula, passas, ricota e estragão.
Apesar de ser um país pequeno, a Eslovênia tem três regiões vinícolas e uma história de viticultura anterior ao domínio romano. Nas festas de fim de ano, os vinhos merlot, muscat e espumante locais são preferidos aos coquetéis. De acordo com Lihtenvalner, cada região tem seus favoritos. Mas, seja qual for a escolha, ela afirma: “Sem dúvida, todos os nossos vinhos deixam o Natal mais feliz!”
Embora seja cada vez mais contestado, o gavage – a engorda do fígado do pato ou ganso com alimentação forçada – continua a ser praticado na França. E o foie gras, a iguaria resultante, é um dos pratos mais populares do país no Natal. Os verdadeiros amantes do fígado podem comprá-lo em lata ou fatiado em medalhões, mas em geral optam por cozinhar, tostar ou assar o foie gras em casa e cobri-lo de figos, trufas, geleia de cebola e até migalhas de pão de mel.
O champanhe pode ser o rei das festas de fim de ano na França, mas o eggnog tem um lugar especial na cultura francesa. Stéphane Calmeyn, a editora de Paris, explica: “Há referências a ele nas obras de alguns grandes escritores, como Madame Bovary, de Gustave Flaubert, e Antígona, de Jean Anouilh.” Servido quente ou frio, como aperitivo ou para encerrar a ceia, esta mistura de leite, açúcar, gema de ovo e canela ou noz-moscada combina perfeitamente com uma dose de rum e uma lareira crepitante.
Peru, foie gras, lagosta e ostras têm lugar de honra nas ceias de fim de ano em toda a Bélgica, mas nenhum prato é mais tradicional do que o boudin. Com origem datada da Antiguidade grega, essas linguicinhas geralmente incluem sangue, carne e gordura de porco, cebola crua, sal e pimenta. No Natal, os cozinheiros gostam de “demonstrar ousadia e imaginação”, diz Calmeyn, e acrescentar à receita chocolate ou uvas embebidas em conhaque.
Ninguém faz cerveja como os belgas, e, no Natal, ela é extraespecial. Não se sabe quanto tempo tem a tradição, mas, de acordo com a lenda, tudo começou na Idade Média, quando os senhores locais doavam cerveja aos aldeões para comemorar a festa. Hoje, os amantes de cerveja aguardam ansiosos o lançamento em dezembro de cervejas limitadas, em geral da variedade escura e forte, adornadas com rótulos especiais.
O recheio deste pão holandês de Natal é de spijs, uma pasta de açúcar e amêndoas moídas, gelada e enrolada. O spijs é envolvido numa massa doce cheia de nozes e frutas secas, depois assado e polvilhado com açúcar de confeiteiro. “É maravilhoso”, diz Paul Robert, editor de Seleçõesem Amsterdã. “Pode fazer mal aos dentes e à dieta, mas a melhor maneira de comer kerststol é cortar uma fatia e cobrir de manteiga.”
Antes, só se tomava o “vinho do bispo” no início de dezembro, na festa de Sinterklaas (São Nicolau, o Papai Noel original), mas agora sua temporada se estende até o Natal. Graças à influência alemã, às vezes ele é chamado de glühwein, e realmente é comparável: vinho tinto quente aromatizado com laranja, cravos e outros temperos e, às vezes, reforçado com um pouco de rum ou amaretto.
De acordo com o editor Ilkka Virtanen, de Helsinque, a maioria dos finlandeses não imagina as festas de fim de ano sem este presunto assado. “É o vencedor indiscutível da ceia de Natal”, diz ele, “e assar o prato lentamente no forno é um ritual muito querido.” Todos concordam que a mostarda caseira é o melhor acompanhamento e que as sobras devem ser usados na sopa de ervilhas também caseira.
Chamado de glögg nos outros países escandinavos, este vinho enriquecido é parecido com o bisschopswijn holandês e com o glühwein alemão, mas é ainda mais doce e apimentado. Os passos são simples: aqueça o vinho tinto com açúcar e junte casca de laranja ou limão, canela, cravo, pimenta-da-jamaica, noz-moscada, macis, cardamomo e gengibre. Os que querem mais potência acrescentam vodca, conhaqueou calvados; os que querem algo mais leve omitem o álcool e usam suco de groselha-preta em vez de vinho.
Feito de amêndoas, avelãs e nozes, o sabor típico destes biscoitos famosos vem da mistura de especiarias como cravo, gengibre e cardamomo. Faz tempo que a cidade bávara de Nuremberg se estabeleceu como o centro da produção de lebkuchen, pois já foi o principal destino no país das especiarias que chegavam da Ásia.
Os deliciosos biscoitos das festas também são populares nos países vizinhos. Os austríacos preferem os Linzer Augen (“olhos de Linz”), um elegante sanduíche de geleia que exibe conserva de damasco ou framboesa por uma janela aberta na massa amanteigada. Na Suíça, os chräbeli em forma de crista de galo, crocantes por fora e úmidos por dentro, são tão famosos pelo formato incomum quanto pelo típico sabor de anis.
Visite qualquer mercado natalino tradicional na Alemanha, na Áustria ou na Suíça e verá montes de pessoas andando e bebendo vinho temperado, garante Michael Kallinger, editor de Stuttgart. “A maioria dos moradores tem sua barraquinha preferida. Nada aquece tanto quanto um copo de glühwein, mas atenção ao que bebe: o açúcar e as especiarias fazem a gente esquecer o teor alcoólico!”
Guloseima típica das festas de fim de ano, o turrón (torrone ou nougat) foi levado para a Península Ibérica em 711, com a chegada das forças árabes. A crença popular afirma que o nougat resultou da tentativa de criar um alimento nutritivo que se conservasse por muito tempo. Quer você prefira a versão cremosa, quer a crocante, a receita básica envolve açúcar ou mel, clara de ovos e amêndoas; chocolate e amêndoas caramelizadas são acréscimos populares.
Um copo de cava espumante é a bebida preferida de muitos espanhóis na época das festas, diz Natalia Alonso, editora em Madri: “É com isso que brindamos no Ano-Novo, depois de comer as tradicionais doze uvas à meia-noite – uma para cada toque do relógio.” Dizem que as bolhas da versão espanhola do champanhe trazem bênçãos e prosperidade.
Cada família tem sua variação da receita, masesse “é o prato servido no país inteiro na ceia da véspera de Natal”, diz Mário Costa, editor de Seleçõesem Lisboa. A base deste prato festivo são postas de bacalhau seco acompanhadas de batatas cozidas, ovos cozidos cortados ao meio e azeite. Os extras podem ser cebola, cenoura, repolho e azeitonas pretas.
Embora em Portugal não haja uma bebida típica do Natal, há uma para o ano inteiro: o vinho do Porto. Este vinho encorpado, que enche as taças nos brindes de fim de ano ou é tomado com a sobremesa ou o queijo após a ceia de Natal, é feito de uvas cultivadas na região do Douro. Mais comum como tinto doce, o vinho do Porto também é oferecido em versões mais secas ou brancas.