Fechando ciclos com o livro “Cloro”
Confira as reflexões a partir do livro Cloro, de Alexandre Vidal Porto, feitas pela jornalista e escritora Cláudia Nina.
Redação Publicado em 06/02/2019, às 11h00
Confira as reflexões e a resenha do livro Cloro, de Alexandre Vidal Porto, feitas pela jornalista e escritora Cláudia Nina:
Comecei o ano fazendo meu mapa astral.
Confesso que nunca levei tão a sério a Astrologia como desta vez, quando os cálculos e os gráficos da leitura linda do meu céu, riscados pela Patrícia – a minha astróloga de estimação agora –, me mostraram caminhos passados, presentes e futuros que me ajudaram a entender várias das minhas indagações, características, acertos e dificuldades.
Tivemos uma longa conversa. Em um determinado momento, ela me disse: “Você já morreu inúmeras vezes nos últimos anos. Ninguém fecha ciclos tão bem.”
Percebi que a sinalização cronológica que ela indicava das minhas mortes em vida coincidia de fato com os tais “ciclos” que eu fechava. Claro que foram muitos outros pontos incrivelmente verdadeiros assinalados por Patrícia, mas a ideia das mortes em especial me fez pensar em como é importante deixar-se morrer em alguns momentos – abandonar-se de pessoas tóxicas e de situações repetidas que igualmente nos aborrecem e limitam as possibilidades de amplidão.
Fazer o ritual de passagem de tudo o que, dentro da gente, nos desconforta. Morrer mesmo. Já perdi a conta das minhas mortes. Com certeza, mais do que sete já foram. Sou muito boa em morrer.
O mês de janeiro me encontrou às voltas com este pensamento que não tinha nada de lúgubre, pelo contrário.
Foi quando recebi o novo livro do meu amigo Alexandre Vidal Porto, Cloro. O texto é límpido, lúcido, forte e conta sobre a morte real do personagem-narrador da história-retrospecto, da infância à morte aos 50 anos, com ênfase na questão da homossexualidade reprimida, no casamento, a construção da família e sua lenta destruição depois de uma tragédia. Vidal faz isso sem convocar a piedade do leitor. O texto é enxuto, grave. Gostei bastante.
A ideia de uma morte simbólica ficou clara para mim: romper-se, iniciar novos ciclos em dimensões maiores. Sabe-se que o tempo é sempre o mesmo e que os calendários foram criados para facilitar a passagem das estações.
Já que eles existem, que o tempo que “começa” agora possa indicar uma reorganização do nosso planeta-pessoa: nascer de novo e deixar para trás o que não pode e não deve seguir com a gente – que tal? Para quem ficou curioso com meu mapa: Sol em Escorpião ascendente em Leão e Lua em Peixes.
Bom recomeço! Boa leitura!
Cloro
Alexandre Vidal Porto
Editora Companhia das Letras