Nunca fui uma aluna péssima, mas também nem tão boa assim. Confesso que já fui expulsa duas vezes, não de sala, mas de aulas externas, cuja finalidade eu
Douglas Ferreira | 4 de Novembro de 2019 às 19:00
Nunca fui uma aluna péssima, mas também nem tão boa assim. Confesso que já fui expulsa duas vezes, não de sala, mas de aulas externas, cuja finalidade eu não entendia. Se eu não entendia, não aceitava. E criava um pequeno tumulto ao iniciar conversas paralelas. Isso aconteceu quando a “sala” virou a capela da escola e eu fui obrigada a ficar muda (impossibilidade absoluta) por alguns minutos, e ainda quando me pediram para virar árvore. É sobre este segundo momento que vou falar aqui.
A professora pediu que os alunos fossem para o pátio – era uma delícia aquele espaço imenso, como eu adorava o recreio da minha escola. Mas não era para exercer a liberdade o convite ao pátio. Fizemos uma roda e tínhamos que obedecer ao comando da professora de… Não me lembro professora de quê, talvez de ciências. Ela pediu que fingíssemos ser árvores, esticando bem os braços e estendendo nossos galhos para o céu.
Foi dureza. Não alcancei os planos da professora. E falhei na tarefa de virar árvore. Comecei a rir. Minha árvore virou um arbusto espalhado no chão, insignificantes gramíneas ao meu redor, enquanto as árvores dos obedientes cresciam frondosas. Quando a professora viu meu desajeito, não tentou me contagiar com seu amor pela natureza, mas me expulsou da roda. Eu voltei, pequena e humilhada, para a sala de aula, onde amarguei sozinha o peso do meu remorso. Nunca mais me esqueci da cena. Meus pés tortos, meus braços sem rumo, eu sem noção de como era vital ser árvore pelo menos por alguns minutos.
A história me veio com força ao ler o livro do Ramon Nunes Mello, A menina que queria ser árvore. Sem pretensões pedagógicas, mas com poesia, ele traz para o coração dos pequenos a tal “consciência ecológica” que tanto me fez falta e que a minha professora da época não soube me mostrar. Livros operam milagres… Este é um trabalho bonito e mais necessário do que nunca, em tempos de devastação.
A menina da história, bem ao contrário da menina que eu fui, sentia–se como árvore. É algo bem profundo: enxergar as plantas como seres vivos, algo que muitas vezes nos escapa…
“Com o passar do tempo, passei a ficar com raiva de pessoas que maltratam árvores. Uma vez, pulei em cima do jardineiro que queria cortar o pé de cajá do quintal da casa do papai. Gritei feito uma louca: ‘Não me mate! Não me mate!’”
Poderíamos ter lido um livro semelhante antes de irmos para o pátio virar árvore.
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