Você sabe o que é o princípio da especificidade? Segundo esse princípio, os benefícios dos exercícios estão relacionados com o que se treina.
André Messias | 25 de Março de 2021 às 12:35
“André, não consigo mover o braço, está doendo muito. Também estou com muitas dores em outras partes do corpo”, disse Jéssica, minha aluna há 3 anos. Ela faz musculação de 2 a 3 vezes por semana e, há alguns meses, começou a mergulhar. Na segunda-feira, após ter mergulhado no domingo, queria cancelar a aula por estar com muitas dores musculares.
Falei para Jéssica não cancelar a aula e que conversaríamos durante o treino. Assim que nos encontramos, ela perguntou: “Não entendo, André. Fazemos musculação há anos, mas estou cheia de dores musculares. Por quê?”
Para responder à pergunta de Jéssica, foi necessário explicar a ela o princípio científico da especificidade. Esse princípio é um dos mais importantes do treinamento desportivo e não se aplica apenas a atletas de alto rendimento.
De acordo com o princípio científico da especificidade, os benefícios (tais como ganho de força e resistência muscular e melhoria no condicionamento aeróbio) estão relacionados com o que se treina e com o tipo de estímulo que o organismo recebe.
Não é porque a pessoa faz musculação que encontrará facilidade em qualquer tipo de atividade física. Se a pessoa treina corrida, ela está condicionada na corrida, enquanto aquele que pratica natação terá um bom condicionamento para a natação, por exemplo. Conheço muitas pessoas que pedalam centenas de quilômetros por semana mas não conseguem correr 1km.
A musculação (prática comum para a maioria dos que praticam esportes como natação, corrida, ciclismo e outras modalidades) gera ganho de força e massa muscular. Porém, por ser um tipo específico de estímulo, não irá facilitar totalmente uma outra modalidade.
No caso de Jéssica, mesmo sendo praticante de musculação há anos e certamente ter um bom nível de força muscular, seu organismo sentiu dificuldade para mergulhar e a musculatura teve de fazer um tipo de força que não estava adaptada.
Claro que, se Jéssica não fosse praticante de musculação, suas dificuldades teriam sido ainda maiores e provavelmente teria ficado ainda mais dolorida.
Situação semelhante teria acontecido se um instrutor de mergulho fosse fazer a série de musculação de Jéssica. Certamente o instrutor tem força muscular em virtude de seu trabalho, porém sua força é específica para o que ele pratica regularmente.
Ouço muitas pessoas na academia (que sei que não fazem atividades aeróbias) se queixarem de cansaço quando sobem uma escada e/ou quando dão uma caminhada (até por lazer, como num shopping ou num mercado). A explicação está mais uma vez no princípio da especificidade.
A musculação é fundamental para a saúde e proporciona muitos benefícios ao organismo. Entretanto não proporciona o aumento do consumo de oxigênio que as atividades aeróbias (corrida, ciclismo, natação, patins) geram.
Sendo assim, por mais que a pessoa seja praticante de musculação, na maioria dos casos, não apresenta um alto consumo de oxigênio e sua musculatura não está treinada para caminhar e/ou subir uma escada. Isso fará com que a pessoa sinta cansaço e muitas vezes fique ofegante.
É muito importante que a pessoa passe a treinar para aquilo que quer fazer e procure variar o tipo de estímulo que dá ao seu organismo. E quando for experimentar um novo tipo de atividade física, respeite suas limitações, seu condicionamento, e não vá com muita intensidade.
O princípio científico da especificidade precisa sempre ser considerado e sempre é preciso lembrar: seremos bons naquilo que fazemos.
Jéssica continua mergulhando nos fins de semana. Como seu organismo passou a receber esse estímulo com frequência, ela não voltou a sentir dores musculares. Mas se amanhã ou depois Jéssica for experimentar uma nova modalidade (e pelo que conheço de minha aluna, é bem capaz) é provável que a dores apareçam novamente.
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