Saber dosar o excesso de cobranças e valorizar as conquistas é tão importante para a saúde quanto a prática de atividade física.
André Messias | 28 de Outubro de 2021 às 10:00
Gabriela matriculou-se na academia há 9 meses com o objetivo de melhorar seu condicionamento físico e com isso, melhorar seu bem estar. Enfermeira, ela tem uma rotina de trabalho muito desgastante e seus exames não estavam bons. Além disso, sentia muito cansaço, má qualidade no sono e seus níveis de ansiedade estavam bem acima do normal. Sendo assim, ela recorreu à atividade física.
Feita uma avaliação e após uma longa conversa, Gabriela teve seu programa de exercícios elaborado e prometeu se dedicar. Ela frequentava a academia quatro dias na semana e estava se dedicando. A cada 2 meses, fazia uma nova avaliação e ela estava cada vez melhor: força, aptidão aeróbia, flexibilidade, resistência e demais componentes do condicionamento físico haviam melhorado bastante. Gabriela ganhou massa muscular, perdeu gordura, conseguia correr 5km sem caminhar, a qualidade de seu sono melhorou e ela se sentia bem menos ansiosa. Além disso, era uma pessoa mais feliz e positiva. Ela era, literalmente, uma pessoa beneficiada pela atividade física.
Contudo, percebi que nas últimas semanas, Gabriela estava um pouco desanimada e começou a ir menos à academia. Quando a encontrei, perguntei o que estava acontecendo. Como resposta, ela me disse que reconhecia que estava muito melhor, mas que tinha a sensação de que tudo havia ficado estável e não estavam ocorrendo novos ganhos. Chamei Gabriela para tomar um café e fomos conversar.
Comecei explicando para ela o quanto era importante que ela olhasse para o seu ponto de partida. Falei para ela fechar os olhos e refletir sobre como estava sua saúde há nove meses, de como estava seu bem estar e fizesse uma comparação com o momento presente. Lembrei de seus exames, sono, nível de ansiedade e enfatizei que ela deveria valorizar suas conquistas.
Gabriela se cobra muito: nos estudos, trabalho, relacionamentos, treinos. Ainda que isso seja necessário e bom, precisa ser filtrado para que não passe dos limites. Em relação à atividade física, por exemplo, isso pode resultar em lesões porque muitas vezes as pessoas treinam para além de suas capacidades.
A conversa com Gabriela foi longa e durou bem mais do que um café. Entretanto aquele papo era extremamente necessário. Tinha receio de que a saúde mental de Gabriela fosse sufocada pelo excesso de cobranças.
É claro que, todos nós, podemos e devemos melhorar. Prosperar, evoluir, melhorar como ser humano são componentes que precisam fazer parte de nossa jornada. Todavia isso não pode virar uma obsessão e precisamos SEMPRE valorizar nossas conquistas.
No caso de Gabriela, ela tinha muitas conquistas e precisava valorizar isso. Ela se deu conta do quanto melhorou em vários aspectos e passou a valorizar muitas conquistas que teve em sua vida profissional e pessoal e brincou comigo dizendo que há 9 meses era difícil subir escadas, passear com o cachorro e que agora ela estava próxima de conseguir dar uma volta na Lagoa (7,5km) e que seu cão iria ficar para trás. Citamos algumas evoluções que ela teve nos treinos e que, ainda que tivéssemos novas metas e desafios, o que ela havia conquistado precisava ser valorizado. Gabriela reconheceu e saiu feliz de nossa conversa.
A história de Gabriela representa um exemplo da sociedade contemporânea. As pessoas são cobradas o tempo todo: filhos, emprego, relacionamento, carro, correr mais rápido, ficar mais forte, expor a vida nas redes sociais, tirar 10 em todas as matérias, ter um salário maior etc. É preciso cuidado com o excesso de cobranças. Cada pessoa é responsável por sua vida, suas escolhas e ninguém sabe melhor do que a própria pessoa sobre suas necessidades e desejos. Podemos e devemos buscar ser o melhor que pudermos ser. Mas de forma saudável.
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