A saúde adulta é construída na infância. Entenda a importância de estimular as atividades físicas das crianças na pandemia.
André Messias | 29 de Abril de 2021 às 11:00
Rosângela é minha amiga há muitos anos. Sabendo que também trabalho com crianças ela me enviou uma mensagem dizendo que precisava conversar comigo. Combinamos um encontro e fomos conversar. Rosângela estava muito preocupada com seu filho Marcello. Ela me disse que desde que as aulas foram suspensas, Marcello estava se movimentando pouco (na escola ele sempre fora muito ativo, adorando brincar no recreio e jogar futebol com os amigos).
Rosângela me disse que quando as aulas foram suspensas em virtude da pandemia da Covid-19, aproveitou o lado ativo do filho e brincou em casa com Marcello, mas que já não tinha muitas ideias e que Marcello parecia andar meio desanimado por estar sempre fazendo as mesmas brincadeiras.
Marcello tem 10 anos e sua mãe me disse que ele havia engordado um pouco desde que as aulas foram suspensas. Isso requer atenção, pois o ganho de peso é algo prejudicial à saúde, inclusive para as crianças.
Perguntei a Rosângela se eles ainda moravam na mesma casa (com um quintal enorme) e como estava a rotina de seu marido (me recordo que Douglas, marido de Rosângela e pai de Marcello, adorava jogar futebol com ele). Ela me disse que o endereço ainda era o mesmo e que Douglas estava de home office. Pronto! Surgiu um caminho para Marcello voltar a ser ativo. Pais e mães precisam caminhar e lutar juntos pela saúde do filho.
Comecei a conversa parabenizando os pais de Marcello: ainda que grande parte da sociedade caminhe na contramão das recomendações científicas e faça com que as crianças passem grande parte do tempo em frente a telas, Marcello não tem celular e tem tempo limitado diante da televisão.
Em seguida, sugeri a Rosângela que Marcello jogasse futebol com o pai na maioria dos dias da semana (assim ambos fariam mais atividade física) e que utilizassem o quintal para a realização de jogos e brincadeiras lúdicas (muitas que Marcello fazia na escola).
Era possível, por exemplo, montar circuitos psicomotores com garrafas pet, baldes, vassouras e outros objetos que trabalhariam em Marcello inúmeros aspectos essenciais para o seu desenvolvimento, tais como coordenação motora, lateralidade, equilíbrio e percepção espaço-temporal.
Vale lembrar que o desenvolvimento dessas questões é extremamente importante para o desenvolvimento cognitivo. Ou seja, crianças que são estimuladas a terem mais movimento no dia a dia tendem a apresentar melhor desenvolvimento da leitura, escrita e cálculo, ter melhor comunicação verbal, além de terem mais possibilidades de desenvolver uma palavrinha que anda um pouco esquecida nos dias atuais: afeto.
Portanto, é essencial que toda e qualquer criança seja estimulada a ser mais ativa. A saúde do adulto depende do estilo de vida jovem. E a palavra lúdico precisa fazer parte da rotina da criança. É essencial que a criança sinta prazer e se divirta nas práticas corporais.
Lembro-me também que Marcello sempre fora uma criança que adorava a natureza e que isso poderia criar uma ponte para ser mais ativo, pois no quintal de sua casa havia uma árvore enorme que ele poderia escalar, se pendurar, saltar, explorar… Ou seja, Marcello estaria em contato com o meio ambiente e desenvolveria inúmeras questões corporais.
Marcello também era apaixonado por carros. Então uma outra sugestão foi que ele brincasse de carrinho de mão com seu pai (as crianças costumam adorar essa brincadeira e ela trabalha respeito mútuo, força, confiança, noção do espaço, dentre outras). Destaca-se que Marcello, em virtude de ter muitos carrinhos de brinquedo, apresentava ótima coordenação motora fina e grande capacidade de criatividade, reforçando a importância do brincar para a criança.
À medida que Rosângela e eu fomos conversando, procurei lhe mostrar a importância de Marcello ser ativo e que havia um leque de possibilidades que ela poderia explorar. Poderiam, por exemplo, em família, brincar de diversos tipos de pique. É um tipo de brincadeira que as crianças costumam fazer na escola. Traz muitos benefícios à saúde, além de ser super divertido. Uma família brincando de pique tem maiores possibilidades de adquirir união, saúde e diversão. E claro, criar laços de afeto!
A conversa foi produtiva. Rosângela fez um planejamento de atividades para Marcello e listamos algumas questões que deveriam ser prioridade: coordenação motora, tonicidade, esquema corporal, equilíbrio, consciência corporal, autonomia e aptidão aeróbia. Essas variáveis seriam extremamente importantes não apenas para a saúde de Marcello aos 10 anos, mas sim para toda sua vida. Afinal, a saúde adulta é construída na infância!
É importante que os pais utilizem o espaço que há disponível e estimulem seus filhos a serem ativos. Crianças precisam do movimento. Do movimento livre, prazeroso e divertido. Os benefícios são muitos e certamente o sorriso é um deles.
Trabalhos braçais são considerados atividade física?
Saiba ouvir o que seu corpo tem a dizer
Recreio escolar: um momento ímpar para uma criança
A importância dos hábitos saudáveis na infância
Crianças: incentivadoras do movimento
Consequências de uma vida ativa