Muitas pessoas acham que não têm tempo para praticar a atividade física diária. É preciso lembrar que, para isso, não é só ir à academia.
André Messias | 1 de Abril de 2021 às 09:54
Encontrei com Paula na academia. Fazia muito tempo. Percebi que Paula estava cabisbaixa, parecendo um pouco triste e sem energia. Fui falar com ela. Disse que estava feliz por vê-la novamente, que seu alto-astral e alegria sempre foram encantadores e ela estava muito sumida da academia. Paula me contou que dois anos antes fora chamada em um concurso público e que sua vida tinha virado uma correria: faltava tempo para ir à academia e se sentia exausta e sem energia.
Paula disse que sabia que não dava mais para continuar assim e que era hora de voltar a se cuidar. Mas estava preocupada, pois só conseguiria ir à academia duas vezes na semana. Nos demais dias não teria tempo em virtude da carga horária de trabalho. Paula me perguntou o que poderia fazer para compensar sua baixa frequência na academia. Fomos tomar um suco e conversamos.
Paula trabalha em hospitais e seu trabalho suga demais sua energia. Como ela disse que não teria muito tempo para ir à academia, expliquei a importância da atividade física diária. É importante citar que atividade física é qualquer movimento que resulte em gasto energético acima do repouso. Então passear com cachorro, varrer a casa, caminhar até o ponto de ônibus, subir escadas, cozinhar, lavar roupas também são exemplos de atividade física.
E expliquei a Paula que nos dois dias em que ela iria à academia era preciso ter um treino de qualidade. Já que não podemos trabalhar com muito volume (quantidade total de tempo) com ela na academia, era preciso focar na intensidade (sobrecarga imposta ao organismo). Ou seja, ela não poderia ficar muito tempo, mas, no tempo em que estaria ali, iria treinar com esforço. Seu programa de treinamento precisaria exigir um árduo trabalho de seu organismo.
Acreditem: treinos de 30 minutos podem ser mais eficazes do que treinos de 1 hora. Tudo depende da intensidade. É preciso treinar mesmo. Aproveitar cada minuto e sentir um esforço muscular e cardiorrespiratório.
Voltando à atividade física diária, sugeri à Paula uma série de atitudes que ela poderia tomar no dia dia para que fosse mais ativa, aumentasse seu gasto calórico e colocasse o corpo em movimento. Na nossa sociedade – na qual o homem caminha cada vez mais para virar um robô – é sempre um desafio encorajar as pessoas a resistirem às tentações contemporânea: usar aplicativos para tudo (como resolver questões bancárias, por exemplo), cozinhar menos, não levantar para trocar o canal da TV, comprar tudo pelo celular… Será coincidência que as doenças crônicas não transmissíveis – como obesidade, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares – representem a principal causa de mortes no mundo? Creio que não. Infelizmente milhões de mortes ocorrem anualmente em decorrência do pouco movimento humano realizado diariamente.
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Paula mora no segundo andar. Então um combinado era que ela jamais usaria o elevador. Ela faz uso do transporte público para trabalhar (o que é ótimo, pois se trata de uma escolha ambientalmente saudável e pessoas que têm carro costumam ser menos ativas no dia a dia), então um outro combinado era que Paula optasse por um ponto próximo ao seu (tanto para entrar no ônibus quanto para descer). Durante o expediente, Paula também deveria evitar o elevador, não passar muito tempo sentada e ficar atenta à postura (manter a coluna ereta ao sentar e andar e não carregar muito peso, por exemplo).
Nos momentos em que estiver em casa, sugeri que Paula fosse o mais ativa possível: andar pela casa enquanto fala ao telefone, não passar muito tempo diante da TV ou do computador e procurar se movimentar ao máximo. Essas sugestões irão fazer com que Paula seja mais ativa, dê mais passos diariamente, e isso irá lhe proporcionar benefícios fisiológicos, promovendo sua saúde e bem-estar. Não é preciso estar dentro de uma academia para ser ativo. Todo movimento conta. E quanto mais, melhor!
O exemplo de Paula acomete muitas pessoas na sociedade contemporânea. A falta de tempo é uma das principais razões para a inatividade física causar mais de 4 milhões de mortes anualmente. Cabe aqui uma reflexão: a semana tem 10.080 minutos. A Organização Mundial da Saúde recomenda 150 a 300 minutos por semana de atividade física em intensidade moderada ou 75 a 150 em intensidade vigorosa. Será mesmo que as pessoas não têm tempo? Ou o problema são as prioridades?
É essencial que a pessoa reflita como tem sido seu cotidiano. E saber que poucas mudanças podem gerar grandes benefícios.
Paula segue firme na academia. Reorganizou-se e passou a ir três vezes por semana. E com as alterações que fez no dia a dia, está melhor, mais feliz e certamente mais saudável.
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