O home confessou os crimes terríveis
Vitória Tedeschi | 4 de Setembro de 2023 às 08:10
Por volta do final do século 1959, cidade do norte do México estava envolta em um desespero social após o assassinato de várias pessoas em circunstâncias horríveis.
De acordo com a BBC News, à época, dois assassinatos específicos chamaram a atenção da população daquela cidade que não estava acostumada com grandes manchetes de histórias de crimes.
O primeiro, foi o assassinato de Jesús Castillo Rangel, um jovem que teve o corpo foi desmembrado e enterrado em um consultório médico no bairro de Talleres. Já o segundo, três irmãos da família Pérez Villagómez foram massacrados enquanto voltavam do Texas ao serem atacados por um "louco" armado em uma estrada próxima à cidade, capital do Estado de Nuevo León.
Esse achado causou uma grande preocupação. E o fato de que, alguns dias depois, descobriu-se que o autor era um médico brilhante e jovem, chocou a cidade e a deixou em choque", afirma o jornalista e escritor Diego Enrique Osorno, sobre o primeiro caso, à BBC.
Osorno afirma que naquela época, logo após os assassinatos, a cidade estava tomada por um furor muito grande, já que crimes como estes nunca haviam acontecido no local.
Vale citar, que esses casos citados não estavam relacionados entre si. No entanto, eles se uniram para que o famoso escritor Thomas Harris, autor de 'O Silêncio dos Inocentes', criasse um dos vilões mais icônicos da literatura e do cinema do século 20: o dr. Hannibal Lecter.
O escritor se inspirou especialmente no homem por trás do assassinato de Jesús Castillo: o médico mexicano Alfredo Ballí Treviño.
Ainda de acordo com a BBC, Ballí era um jovem médico casado que tinha seu consultório no bairro de Talleres, em Monterrey, onde era uma figura respeitada, principalmente por sua dedicação ao atendimento de pessoas sem acesso aos programas de saúde.
Em 1959, ele teve um confronto em seu consultório com Jesús Castillo Rangel, o jovem que foi desmembrado e com quem ele supostamente mantinha um relacionamento sentimental. Durante as investigações, descobriu-se que Ballí deu um sedativo a Castillo e, mesmo com o jovem ainda vivo, usou seus instrumentos cirúrgicos para desmembrá-lo.
O jornalista Diego Enrique Osorno explica que ajudou Harris a investigar os assassinatos de 1959 antes que o escritor americano revelasse a identidade do "doutor Salazar". Todas as pesquisas eram feitas para que o escritor conseguisse criar o personagem perfeito.
Uma das questões que cercavam o caso de Ballí era a de um crime passional, envolvendo um relacionamento homossexual, algo considerado escandaloso naquela época e em uma cidade tão conservadora como Monterrey", explica Osorno, acrescentando que "ele chegou à prisão como o 'Monstro de Talleres', alguém sem uma sexualidade binária claramente definida".
De acordo com o Must, antes de ser preso, Ballí Treviño tentou subornar a polícia, mas não conseguiu. Mais tarde, confessou o crime e descreveu, com orgulho nos pormenores, o seu rigoroso método de desmembramento. Diz-se que a polícia tentou associá-lo a outros homicídios, mas sem sucesso. Foi o último prisioneiro mexicano a ser condenado à morte, mas a sua pena acabou por ser comutada em 20 anos de prisão.
Mais de uma década depois, o jornalista aponta que sua pesquisa sobre aquele médico revelou "uma história sobre a fascinação pelo mal, sobre por que, no final das contas, somos atraídos por ele".