Dentro de você mora uma criança que só quer paz e amor. Que não quer "ralar o coração", nem lidar com frustrações. Quando foi que perdemos a inocência?
Marina Estevão | 2 de Maio de 2020 às 10:00
Você é uma criança e sempre vai ser.
Digo isso com propriedade porque já vi meus avós, que beiravam os 80 anos, jogando volley no jardim da nossa casa em Teresópolis.
Minha avó ria quando a bola caía e dizia que não tinha mais idade pra isso.
Eu vejo a criança nos olhos do meu avô quando ele ganha ou compra um saco de jabuticabas.
Quando você presenteia uma criança, fala a verdade:
Não era você que gostaria de estar brincando com aquilo?
Só que a gente acha ridículo brincar de carrinho aos 40 anos.
A gente acha ridículo muita coisa.
A gente julga muita coisa, como crianças fazem.
A única diferença é que adultos julgam pelas costas e crianças falam que você está com chulé na sua cara, na hora de cantar parabéns no seu aniversário.
Quando aquele silêncio mortal toma conta do ambiente.
– CARACA TIO FELIPE, MÓ CHULÉ!
Crianças fazem isso e riem da nossa cara. Na nossa cara.
Os anos passam e ainda não sabemos lidar com frustrações.
Não somos maduros o suficiente para lidar com `nãos`.
Ou para receber críticas.
Criamos inúmeras expectativas sobre amores, trabalhos, conquistas.
E quando as coisas vão mal, tudo o que a gente quer é o colo da nossa mãe.
(E, provavelmente, nossa mãe também quer o colo da mãe dela)
Você pode ser mais generoso que o Silvio Santos em noite de Natal, mas eu aposto que você tem dificuldade em pedir desculpas mesmo quando sente que está certo.
Porque, muitas vezes, a gente prefere estar certo do que estar em paz.
Quando brigamos com quem amamos, nos afastamos.
Parecemos crianças no parquinho, ficamos emburrados porque nosso amiguinho nos empurrou sem querer e a gente caiu no chão.
Mesmo se eu estou certa.
Já chego falando um OUOUOU, VAMO PARÁ DE PALHAÇADA?
A gente é amigo, pô.
Nossa criança interna sempre quer paz, mas nosso ego – nuestro ego muy grande! – cala essa criança interna.
E qual é o medo disso?
Medo de ser feliz?
Vamos fazer guerra de bexiga.
Brincar de mímica.
Pique pega e ralar o joelho.
Afinal, frustrações a gente nunca para de ter.