É sexta-feira de manhã. Vejo na rua uma menina que parece ser minha amiga e xará. O diálogo expressa a confusão de uma escuta de máscara.
Marina Estevão | 8 de Maio de 2021 às 10:00
Eu já tenho problemas para escutar normalmente.
Sou desatenta, veja bem. Não é um problema de otorrinolaringologia.
É sexta-feira de manhã. Vejo na rua uma menina que parece ser minha amiga e xará. Ela está com as mesmas roupas que minha amiga usa, o mesmo cabelo. E máscara.
Oii, tá lembrada de mim? Não? Ué… Você não é a Marina? Não?! Nossa, jurei que era! Haha, muito parecida… Qual o seu nome? Ah, Ka… Karina! É quase, então! Além de parecidas, tem quase o mesmo nome! Coincidência. É que com essa máscara, né… Fica tudo muito difíc.. O meu? O meu é Marina. Eu não consigo te escutar com a máscara, você tem essa sensação? Pois é, eu também.
Esse é o seu cachorro? Que lindo! Eu tenho um também… Sim… Marley? Ah, que fofo! O nome do meu é Berlim. Não, eu não viajei pra Berlim, não. O N-O-M-E do meu cachorro que é Berlim! Aliás, adorei sua roupa, viu? Adoro quando se vestem assim, com esse estilo de roupa. Não, menina, não estou te criticando perguntando ‘’por que você está vestida assim?’’ não! Gente, olha.. é melhor eu ir embora. Vou indo então, tô com a cara toda amassada também, é que tô com sono… Desgraçada? Claro que não te chamei de desgraçada! Eu nem te conheço, mulher!
Pensando posteriormente: A máscara ajuda a conter a contaminação, eu sei. Mas é difícil de escutar. De ter relações de amizade nesses tempos, ou até mesmo conversar.
Que saudades de uma leitura labial.