Há alguns dias, eu estava numa festa de aniversário. Num pátio ao ar livre, com álcool em gel nas árvores. À beira de um boteco fuleirinho. Tinham
Há alguns dias, eu estava numa festa de aniversário.
Num pátio ao ar livre, com álcool em gel nas árvores.
À beira de um boteco fuleirinho.
Tinham uns brinquedos velhos em volta.
Uma escada também velha que ia pra Santa Teresa.
Eu me sentia no recreio do Carandiru.
E aí tinha umas pessoas que eu conhecia, alguns amigos, uns fantasmas e uns desconhecidos.
Até que no meio da multidão eu avisto uma pessoa que me parece familiar.
Eu já tinha visto aquela garota.
À época, ela tinha cabelo mais curto, mas era o mesmo rosto, mesmo tom de pele e mesmo sorriso.
Como pode?
Só poderia ser um pesadelo dos quilos na minha cabeça.
Era a minha nutricionista.
Na verdade, uma das 84 que eu visitei nos últimos 20 anos.
A última que eu tinha ido, uns anos atrás.
Eu não sei se ela lembrava de mim, mas eu lembrava dela com muita clareza.
Eu tinha que cortar o açúcar.
Obviamente, só consegui por um tempo.
E então, o inesperado aconteceu.
Fomos cantar parabéns e a moça foi cortar o bolo.
Eu, obviamente, estava na fila porque não sou boba de deixar passar um bolinho.
Ela cortou um pedaço e olhou dentro dos meus olhos
— Quer bolo?
Nesse momento, eu esperava o momento UEPA do programa do Ratinho, ou o João Kleber gritando PARA, PARA, PARA!
Mas não.
Não havia câmeras, não era um teste de fidelidade à minha insulina.
Era eu e a menina, que tinha a minha idade, e tinha suspendido meu mate com limão.
Olhei para ela com a mesma intensidade.
Soaram os tambores.
— Quero sim – respondi, sorridente.
Chama o Samu!