Olly Mann analisa a realidade da vida em outro tempo, e decide que é melhor para ele ficar onde está. Confira áudio e texto em inglês!
Redação | 4 de Fevereiro de 2019 às 21:00
Olly Mann considers the reality of life in another era, and decides he’s better off staying put…
By Olly Mann
If you could live in one historical era, which would you choose?
Perhaps you’d be Victorian, at the vanguard of industrialisation; or a Renaissance artist, painting pious pictures of breasts; or even an Ancient, slaughtering goats for Apollo en route to a packed performance of Antigone.Not I. Whenever I’m chucked this dinner party curve ball, my response is identical: right now.
Yep, of all eras of history, I’d choose to live in the age of Right Now; despite our political instability, our culture of celebrity, our “freakshakes”, PPI and laminate flooring.
Partly this is because I know my forebears scratched a living in ghettos, so it’s hard to imagine myself enjoying an especially attractive lifestyle in ye olden days. (My great-grandfather supposedly remarked, when arriving from Russia in the 1890s, that Britain was great because “nobody spits at you in the street”.)
But I’d also choose Right Now because this era is so obviously, evidently, quantifiably better. Improvements in medicine are manifold: we live longer, keyhole surgery is routine, polio is effectively eradicated. Equal rights, admittedly, are somewhat work-in-progress, but broadly speaking, Westerners have the right to work, reside and vote as we please, regardless of gender, sexuality, or ethnicity.
Then, of course, there’s the matter of technology. Information once available for a four-figure sum in dusty leather-bound encyclopedias is now free, with a tap of a keyboard or a click of a mouse. Ditto almost all music and art. Influential thinkers, leaders and creatives are directly contactable. Mobile communication and cloud computing allow us to manage our work without being chained to a desk so stay-at-home parents, the wheelchair-bound and the unemployed all have a better shot at entrepreneurship. And, as I’ve charted in this magazine’s tech pages for a number of years, even budget smartphones now provide professional-grade cameras, satnavs, calculators, microphones, calendars and pagers… all for substantially less than it once cost to buy such devices separately.
So, yeah: Right Now is when I would choose to live. I have my reservations, as we all do, about the sometimes scary seeming world of AI robots, self-driving vehicles and corporate controlled surveillance we’re bequeathing to our children, but I’m intrigued, as each of these developments arrive, to actually try them out. I’m a bit misty-eyed, as we all are, about pre-internet days when kids spent longer outside, and Yellow Pages ads ran at Christmas.
But nostalgia is partly a trick of the mind. My grandma claims London was nicer when she was a girl, in the 1940s—when everyone smoked, the smog was suffocating, and she was evacuated because her house was bombed by Nazis.
However, there’s a fly in the ointment and it’s this: the effect that being constantly connected is having on our brains. As Laurence Scott brilliantly explores in his 2015 book The Four-Dimensional Human, the posts and comments we put up on social media don’t depart our minds when we press “send.” Instead, they can trigger a persistent, mild anxiety. So, as I go about my daily business in the three-dimensional “real world,” I crave an update on my status in the “fourth dimension”— my online persona. I’ll sit on the beach and admire the sunset, yet feel I haven’t fully enjoyed the experience until I’ve shared it with strangers on Instagram. I’ll pick up a newspaper on the train, and find myself wondering what Donald Trump’s tweeted since it went to press.
I’ll feed my son his lunch on Wednesday, and wonder why my aunt has not yet “liked” the video I uploaded of him eating his lunch on Tuesday. This, clearly, isn’t particularly healthy and, worryingly, even the very people who designed this environment agree that it isn’t. Steve Jobs famously didn’t let his own kids use iPads; current Apple CEO Tim Cook admits he won’t permit his nephew to use social networks. Loren Brichter, who invented Twitter’s addictive pull-to-refresh feature, has now removed notifications from his own phone.
The psychological side effects of social media aren’t side effects at all— they’re the ingrained intention of commercially-funded media companies. Essentially, the more time we spend using their products, the more advertising these companies sell. As long as there’s no substantive progression of that business model, our addiction will continue.
So it’s no surprise to me that the boom we’re experiencing in mobile technology, these weapons of mass distraction, has coincided with a surge of interest in books about mindfulness, meditation and silence. Technological evolution is outpacing our own: we humans feel innately unsettled if we don’t have periods of our lives when we stop, think, concentrate and, yes, sometimes become bored.
I adore technology, but recently I’ve tried to create a few more phone-free moments in my day. That way, rather than being sucked into my timeline, I can pause to consider how I actually feel about the issues of the day. Such as, for example, which historical era I’d most like to live in.
Having thought about it more, I’d still definitely choose Right Now.
Tradução…
Olly Mann pondera sobre a realidade da vida em outra era, e conclui que é melhor ficar onde está…
Por Olly Mann
Talvez fosse alguém da Era Vitoriana, na vanguarda da industrialização; ou um artista da Renascença, pintando quadros virtuosos de seios; ou mesmo da Antiguidade, sacrificando cabras a Apolo a caminho de uma apresentação lotada da Antígona.
Mas eu, não. Sempre que me levantam essa bola em algum jantar, minha resposta é idêntica: agora. Isso mesmo, de todas as eras históricas, escolheria viver na idade do Agora; apesar de nossa instabilidade política, nossa cultura de celebridades, nossos freakshakes, seguros e pisos laminados.
Em parte isso se dá porque sei que meus ancestrais ganhavam seu sustento em guetos, então é difícil me imaginar desfrutando de um estilo de vida especialmente atraente nos bons tempos. (Meu bisavô supostamente comentou, ao chegar da Rússia na década de 1890, que a Grã-Bretanha era ótima porque “ninguém cuspia em você na rua”.)
Mas eu também escolheria Agora porque esta Era é tão obviamente, evidentemente, quantificavelmente melhor. Os avanços na medicina são muitos: vivemos mais, a cirurgia por laparoscopia é rotina, a pólio está efetivamente erradicada. A igualdade de direitos, devo admitir, de certa forma ainda está em construção, mas de maneira geral nós, ocidentais, temos o direito de trabalhar, morar e votar como queremos, sem distinção de gênero, sexualidade ou etnicidade.
Depois, é claro, há a questão da tecnologia. Informações outrora disponíveis por uma soma de quatro dígitos em enciclopédias empoeiradas e encadernadas em couro, agora são gratuitas, com um toque no teclado ou o clique de um mouse. Idem para toda música e arte. Pensadores influentes, líderes e profissionais da criação podem ser diretamente contatados. A comunicação móvel e a computação na nuvem nos permitem gerenciar nosso trabalho sem estarmos acorrentados a uma mesa, de modo que pais ou mães que não trabalham fora, cadeirantes e desempregados têm melhores condições de empreender. E, como mostrei nas páginas de tecnologia desta revista por vários anos, mesmo os smartphones baratos oferecem hoje câmeras de alto nível, GPS, calculadoras, microfones, agendas e aplicativos de mensagens… Tudo por bem menos do que outrora custava comprar esses dispositivos em separado. Então, sim: Agora é quando eu escolheria viver.
Como todos nós, tenho minhas reservas quanto ao por vezes aparentemente assustador mundo de robôs de inteligência artificial, carros autônomos e vigilância controlada por empresas que estamos deixando para nossos filhos, entretanto, quando surge um desses desenvolvimentos fico interessado em experimentá-los. Sou um pouco sentimental, como somos todos, em relação aos dias pré-Internet quando as crianças passavam mais tempo ao ar livre e as Páginas Amarelas lançavam seus anúncios de Natal.
Mas a nostalgia é em parte uma peça pregada pela mente. Minha avó afirma que Londres era melhor quando ela era menina, na década de 1940 – quando todo mundo fumava, a mistura de nevoeiro e fumaça era sufocante e ela teve de abandonar sua casa, que foi bombardeada pelos nazistas.
No entanto, tem uma mosca na sopa, e é o seguinte: o efeito no nosso cérebro por estarmos o tempo todo conectados. Como Laurence Scott explora com maestria em seu livro de 2015, The Four Dimensional Human (O humano quadridimensional), os posts e comentários que deixamos nas mídias sociais não deixam nossa cabeça quando pressionamos “Publicar”. Ao contrário, eles podem desencadear uma ansiedade leve e persistente.
Portanto, enquanto cuido da minha vida diária no “mundo real” tridimensional, anseio por uma atualização no meu status na “quarta dimensão” – minha persona on-line. Vou me sentar na praia e admirar o pôr-do-sol, mas sinto que não desfrutei da experiência por completo enquanto não a compartilhar com estranhos no Instagram. Vou ler o jornal no trem e me pego imaginando o que Donald Trump tuitou desde que ele foi impresso. Vou dar almoço para o meu filho na quarta-feira e me pergunto por que minha tia ainda não “curtiu” o vídeo dele almoçando que publiquei na terça.
É claro que isso não é particularmente saudável e, mais preocupante, mesmo as pessoas que projetaram esse ambiente concordam que não é. Todos sabem que Steve Jobs não deixava os filhos usarem iPads; o atual CEO da Apple, Tim Cook, admite que não vai permitir que o sobrinho use as redes sociais. Loren Brichter, que inventou o recurso viciante de “puxar para atualizar” do Twitter, removeu as notificações do próprio celular.
Os efeitos colaterais das mídias sociais não são absolutamente efeitos colaterais – são a intenção arraigada das empresas de mídia comercialmente financiadas. Essencialmente, quanto mais tempo passamos usando seus produtos, mais publicidade essas empresas vendem. Enquanto não houver um avanço substancial nesse modelo de negócio, nosso vício vai continuar.
Portanto, não me surpreende que o boom que estamos experimentando na tecnologia móvel, essas armas de distração em massa, tenha coincidido com um surto de interesse em livros sobre atenção plena, meditação e silêncio. A evolução da tecnologia está mais veloz do que a nossa: nós, seres humanos, por natureza, ficamos inquietos quando não temos períodos na vida em que paramos, pensamos, nos concentramos e, sim, às vezes, nos entediamos.
Adoro tecnologia, mas recentemente tentei criar mais alguns momentos sem celular no meu dia. Assim, em vez de ser sugado para dentro da minha linha do tempo, posso fazer uma pausa para analisar como de fato me sinto sobre os assuntos do dia. Como, por exemplo, em que era histórica eu preferiria viver.
Tendo pensado mais sobre o assunto, eu ainda escolho definitivamente o Agora.