Talvez fosse alguém da Era Vitoriana, na vanguarda da industrialização; ou um artista da Renascença, pintando quadros virtuosos de seios; ou mesmo da Antiguidade, sacrificando cabras a Apolo a caminho de uma apresentação lotada da Antígona.
Mas eu, não. Sempre que me levantam essa bola em algum jantar, minha resposta é idêntica: agora. Isso mesmo, de todas as eras históricas, escolheria viver na idade do Agora; apesar de nossa instabilidade política, nossa cultura de celebridades, nossos freakshakes, seguros e pisos laminados.
Em parte isso se dá porque sei que meus ancestrais ganhavam seu sustento em guetos, então é difícil me imaginar desfrutando de um estilo de vida especialmente atraente nos bons tempos. (Meu bisavô supostamente comentou, ao chegar da Rússia na década de 1890, que a Grã-Bretanha era ótima porque “ninguém cuspia em você na rua”.)
Escolha o Agora
Mas eu também escolheria Agora porque esta Era é tão obviamente, evidentemente, quantificavelmente melhor. Os avanços na medicina são muitos: vivemos mais, a cirurgia por laparoscopia é rotina, a pólio está efetivamente erradicada. A igualdade de direitos, devo admitir, de certa forma ainda está em construção, mas de maneira geral nós, ocidentais, temos o direito de trabalhar, morar e votar como queremos, sem distinção de gênero, sexualidade ou etnicidade.
Depois, é claro, há a questão da tecnologia. Informações outrora disponíveis por uma soma de quatro dígitos em enciclopédias empoeiradas e encadernadas em couro, agora são gratuitas, com um toque no teclado ou o clique de um mouse. Idem para toda música e arte. Pensadores influentes, líderes e profissionais da criação podem ser diretamente contatados. A comunicação móvel e a computação na nuvem nos permitem gerenciar nosso trabalho sem estarmos acorrentados a uma mesa, de modo que pais ou mães que não trabalham fora, cadeirantes e desempregados têm melhores condições de empreender. E, como mostrei nas páginas de tecnologia desta revista por vários anos, mesmo os smartphones baratos oferecem hoje câmeras de alto nível, GPS, calculadoras, microfones, agendas e aplicativos de mensagens… Tudo por bem menos do que outrora custava comprar esses dispositivos em separado. Então, sim: Agora é quando eu escolheria viver.
Como todos nós, tenho minhas reservas quanto ao por vezes aparentemente assustador mundo de robôs de inteligência artificial, carros autônomos e vigilância controlada por empresas que estamos deixando para nossos filhos, entretanto, quando surge um desses desenvolvimentos fico interessado em experimentá-los. Sou um pouco sentimental, como somos todos, em relação aos dias pré-Internet quando as crianças passavam mais tempo ao ar livre e as Páginas Amarelas lançavam seus anúncios de Natal.
Nostalgia
Mas a nostalgia é em parte uma peça pregada pela mente. Minha avó afirma que Londres era melhor quando ela era menina, na década de 1940 – quando todo mundo fumava, a mistura de nevoeiro e fumaça era sufocante e ela teve de abandonar sua casa, que foi bombardeada pelos nazistas.
No entanto, tem uma mosca na sopa, e é o seguinte: o efeito no nosso cérebro por estarmos o tempo todo conectados. Como Laurence Scott explora com maestria em seu livro de 2015, The Four Dimensional Human (O humano quadridimensional), os posts e comentários que deixamos nas mídias sociais não deixam nossa cabeça quando pressionamos “Publicar”. Ao contrário, eles podem desencadear uma ansiedade leve e persistente.
Portanto, enquanto cuido da minha vida diária no “mundo real” tridimensional, anseio por uma atualização no meu status na “quarta dimensão” – minha persona on-line. Vou me sentar na praia e admirar o pôr-do-sol, mas sinto que não desfrutei da experiência por completo enquanto não a compartilhar com estranhos no Instagram. Vou ler o jornal no trem e me pego imaginando o que Donald Trump tuitou desde que ele foi impresso. Vou dar almoço para o meu filho na quarta-feira e me pergunto por que minha tia ainda não “curtiu” o vídeo dele almoçando que publiquei na terça.
É claro que isso não é particularmente saudável e, mais preocupante, mesmo as pessoas que projetaram esse ambiente concordam que não é. Todos sabem que Steve Jobs não deixava os filhos usarem iPads; o atual CEO da Apple, Tim Cook, admite que não vai permitir que o sobrinho use as redes sociais. Loren Brichter, que inventou o recurso viciante de “puxar para atualizar” do Twitter, removeu as notificações do próprio celular.
Mídias sociais
Os efeitos colaterais das mídias sociais não são absolutamente efeitos colaterais – são a intenção arraigada das empresas de mídia comercialmente financiadas. Essencialmente, quanto mais tempo passamos usando seus produtos, mais publicidade essas empresas vendem. Enquanto não houver um avanço substancial nesse modelo de negócio, nosso vício vai continuar.
Portanto, não me surpreende que o boom que estamos experimentando na tecnologia móvel, essas armas de distração em massa, tenha coincidido com um surto de interesse em livros sobre atenção plena, meditação e silêncio. A evolução da tecnologia está mais veloz do que a nossa: nós, seres humanos, por natureza, ficamos inquietos quando não temos períodos na vida em que paramos, pensamos, nos concentramos e, sim, às vezes, nos entediamos.
Adoro tecnologia, mas recentemente tentei criar mais alguns momentos sem celular no meu dia. Assim, em vez de ser sugado para dentro da minha linha do tempo, posso fazer uma pausa para analisar como de fato me sinto sobre os assuntos do dia. Como, por exemplo, em que era histórica eu preferiria viver.
Tendo pensado mais sobre o assunto, eu ainda escolho definitivamente o Agora.