Cansado de viver preso no passado? Especilistas dão dicas para quem quer se libertar do arrependimento e viver uma vida mais leve.
Amanda Santos | 21 de Maio de 2020 às 20:00
Com que frequência você se pega imerso na sensação de arrependimento? A princípio, reavaliar o passado pode ser uma oportunidade de aprender com os erros, mas quando os sentimentos de vergonha, tristeza ou culpa assumem o controle, essa emoção pode se tornar destrutiva.
Segundo especialistas, adultos que deixam o arrependimento dominá-los podem desenvolver problemas físicos e mentais, como a cardiopatia e a depressão. Assim, a única saída é mudar o seu processo de pensamento para se libertar do arrependimento e viver uma vida mais leve. Essas histórias reais e dicas de especialistas mostram como isso é possível.
Com 13 anos, Paola Tosca era uma adolescente típica, mais interessada em sair com os colegas do que com os pais. Quando o pai teve um infarto súbito e morreu, Paola se arrependeu imediatamente do modo que escolheu levar a vida. “Não ter tido tempo suficiente para conhecer meu pai é maior arrependimento”, diz ela, hoje com 62 anos.
Para lidar com a perda do pai no decorrer das décadas, Paola, que é escritora e presidente-executiva de uma empresa de informática, forçou-se a trabalhar muito e a aproveitar bem a vida para que ele se orgulhasse. “Construí minha vida sobre sua ausência. Meu desejo de viver intensamente e ter sucesso na vida nasceu quando ele morreu”, conta ela.
Ao pensar em decisões antigas é possível acreditar erroneamente que se fez a escolha errada, o que piora o arrependimento. “Em geral, não nos damos créditos por tomar a melhor decisão”, diz Wändi Bruine de Bruin, professora na Universidade de Leeds, na Inglaterra, e pesquisadora do efeito o arrependimento sobre a saúde mental.
“Hoje você pode ter informações diferentes das que tinha na época. Se quiser usar o arrependimento de forma produtiva, pergunte-se: ‘Dado o que eu sabia na época, teria feito algo diferente? O quê?’”
Quando envelhecemos, o mais provável é termos menos poder de mudar as circunstâncias de que nos arrependemos. No entanto, aceitar essa incapacidade ajuda a lidar com os sentimentos. “As pessoas têm de aceitar o que fizeram ou deixaram de fazer, porque talvez não haja mais oportunidades de consertar”, diz Carsten Wrosch, professor de Psicologia da Universidade de Concordia, no Canadá.
Para se libertar da necessidade de consertar, o professor aconselha envolver-se em outras atividades importantes na vida. “Elas podem servir de mecanismo de superação”, explica.
Sem dúvida, aos 60 anos acumulamos bem mais arrependimentos do que aos 20. Mas nem todos têm o mesmo impacto. Felizmente, muitos adultos têm mais condições de lidar com a emoção. Uma pesquisa de Tom Gilovich, professor de Psicologia da Universidade de Cornell, em Nova York, mostrou que os mais velhos ficam menos arrasados com o arrependimento. “Quando somos jovens, nos envolvemos, e os detalhes concretos são mais vergonhosos. Quando envelhecemos, temos um ponto de vista mais amplo”, diz Gilovich.
A pesquisa também mostrou que a causa mais comum de arrependimento são as oportunidades perdidas. Ou seja, as pessoas tendem a fantasiar com os benefícios que acreditam ter perdido, mas ignoram as desvantagens que surgiriam naturalmente. Nunca conseguiu aquela promoção? Provavelmente você pensa no aumento perdido sem considerar o estresse que o cargo traria. Por isso, em vez de imaginar uma realidade alternativa, concentre-se no que há de bom na sua vida.
“Evite comparações. Isso corrói a felicidade que você já tem. Se fizer comparações, procure as que mostram sua sorte, e não seu azar. Tente se alegrar em vez de se arrepender”, diz Wändi.
A pesquisa de Gilovich descobriu que é possível diminuir a força do arrependimento caso você encontre algo positivo que se materializou por causa da situação de que se arrepende. Assim, é fundamental olhar para os fatos com um filtro mais otimista. “Racionalize, identifique o lado bom”, sugere Gilovich.
Por fim, as pessoas tendem a se arrepender mais da inação do que da ação. Por isso, os pesquisadores sugerem que talvez houvesse menos arrependimentos de agíssemos mais e fugíssemos menos das coisas.
“Se estiver tentando decidir se deve ou não fazer alguma coisa e a razão for ‘o que vão os outros vão pensar?’, faça”, diz Gilovich.
O arrependimento pela inação não é irreversível quando nos damos permissão. “Não é raro aposentados dizerem: ‘Sabe de uma coisa? Sempre quis aprender a falar outra língua ou tocar um instrumento, mas não posso fazer isso nesta idade.’ Você não será um novo Yo-Yo Ma, mas há muita satisfação quando assumimos o comando de um arrependimento. Vá fundo.”
Por Lisa Fields