Quando passou o cotonete por dentro da bochecha para se inscrever no registro nacional de medula óssea, quase três anos atrás, Mike Mushaw nem chegou a
Redação | 1 de Junho de 2020 às 01:01
Quando passou o cotonete por dentro da bochecha para se inscrever no registro nacional de medula óssea, quase três anos atrás, Mike Mushaw nem chegou a pensar muito. Afinal de contas, ele só fez isso porque o treinador de futebol americano da faculdade insistiu que ele e os outros jogadores se inscrevessem.
“A probabilidade é que a pessoa se cadastre e fique lá para o resto da vida”, disse Mushaw, que estuda na Universidade Central do Estado de Connecticut, à rede de TV NBC. “Provavelmente, nunca será chamada.”
Uns seis meses depois da inscrição, ele foi chamado. A medula óssea do atual zagueiro de 21 anos combinava com a de um paciente no estado da Virgínia. Mushaw teve de decidir se doava ou não. Seria necessário passar uma noite no hospital e receber anestesia geral, que traz algum risco. E provavelmente ele nunca saberia se a doação dera certo.
“Na mesma hora, concordei”, contou Mushaw ao canal de TV WTNH. “Depois que tiraram dezessete frascos de sangue, pensei: tudo bem, é real. Vai acontecer.”
Na época, Mushaw não sabia, mas sua doação iria para uma menina de 5 meses chamada Eleanor que sofria de uma imunodeficiência rara e recebera o diagnóstico aos 3 meses. Ela raramente saía de casa, a não ser para ir ao médico ou ao hospital. Seu sistema imunológico era fraco demais para se arriscar a um contato humano casual. Com o passar dos dias e das semanas, o estado da menina só piorava.
“Eleanor ia morrer sem um transplante de medula óssea”, contou Jessica, a mãe, à NBC. “As opções eram um transplante ou enfrentar a morte antes dos 3 anos.” (A família preferiu não dar o sobrenome para manter a privacidade.)
A família de Eleanor esperava que, com o transplante, ela melhorasse o suficiente para ter uma vida mais normal. No entanto, dali a algumas semanas, os médicos do Children’s National Hospital, em Washington, lhes deram uma notícia chocante: a doença de Eleanor não apenas melhorara; a medula de Mushaw a curara.
“Ela está indo muito bem”, diz Mushaw. “Muito melhor do que todos esperavam. Foi um pouco surpreendente porque sua doença era muito grave, porém, mais do que tudo, foi um alívio e uma felicidade.”
Mushaw só soube disso meses depois da doação. Na maioria dos casos, o doador e o receptor permanecem anônimos um para o outro. Mas, uns seis meses após o procedimento, os pais de Eleanor lhe mandaram um e-mail para agradecer por salvar a vida da filha.
“Quando me contaram que era uma menininha, quase chorei”, lembra Mushaw. “Só saber que uma criança tão pequena tinha todas as probabilidades contra ela e que sua única esperança era a minha medula óssea é um sentimento pesado.”
Mushaw perguntou se ele e Eleanor poderiam ter contato regular pelo FaceTime para que ele acompanhasse o progresso dela. “Foi extraordinário observá-la e fazer parte de sua vida”, diz ele. “Foi espantoso e surreal ver tudo aquilo, conhecendo sua situação. Agora ela é uma menininha perfeita e normal de 2 anos.”
Eleanor também o acompanha e assiste aos seus jogos pela TV. Em agosto, cerca de um ano depois do transplante que mudou a vida da menina, Mushaw convidou a família da Virginia para ir ao estado de Connecticut para que se encontrassem num de seus jogos. Num fim de semana de novembro, a pequena Eleanor estava na arquibancada, vestida com uma camiseta azul-real com o número de Mushaw estampado nas costas. Na frente da camiseta, estavam as palavras “Be the Match” (um trocadilho que tanto significa “seja o jogo” quanto “seja o que combina”), nome da entidade que facilitou a doação.
O próprio Mushaw, que nessa época já estava no último ano da faculdade, usava seu símbolo especial naquele dia: um par de braçadeiras com o nome de Eleanor impresso.
Gritinhos de “Mike! Mike!” podiam ser ouvidos na arquibancada quando a menininha dava vivas ao herói só seu: um zagueiro de futebol americano de 1,85 m e 100 kg com um coração muito generoso. Ela corria e pulava de alegria com os pais, apontando o campo enquanto olhava Mushaw jogar.
“Durante o jogo, eles me mandaram uma foto dela assistindo e me apontando”, conta Mushaw. “Depois, quando olhei o celular, não consegui parar de sorrir para a foto. Eu a coloquei como fundo de tela.”
“Naquele momento, eu já tinha esperado mais de um ano para finalmente abraçar esse rapaz que salvou a vida da minha filha”, diz Jessica. “Naquele fim de semana, nos sentimos no sétimo céu por passar algum tempo com ele e por ele ficar com Eleanor. Acho que nunca sorri tanto.”
Em janeiro, Mushaw voltou a encontrar Eleanor, dessa vez na Virgínia, para comemorar o aniversário da menina. Provavelmente, será a primeira de muitas comemorações juntos. “Como mãe, é muito bom ver alguém que ama minha filha tanto quanto nós”, revela Jessica. “Éramos completamente desconhecidos, e agora somos uma parte importante da vida um do outro.”