Benjamin Naumann vivia uma vida normal, quando tudo inesperadamente começou a mudar. Conheça o milagre que o levou a superar uma grave enfermidade.
Redação | 13 de Janeiro de 2019 às 18:32
– ESQUECEU O SENHOR do quarto 3 hoje de manhã? E a senhora do 16? Você sabe que eles têm de tomar o remédio na hora certa. – Benjamin Naumann ficou perplexo quando a colega lhe entregou dois recipientes com comprimidos. – Isso não pode se repetir – disse ela, zangada.
O jovem enfermeiro empalideceu, buscou as palavras e gaguejou desculpas:
– Não sei como isso aconteceu… talvez porque… não sei.
A colega se afastou, deixando Benjamin horrorizado com o próprio erro. Era a segunda vez naquele mês. Na primeira, quase trocou medicamentos. Agora, isso. O que havia de errado com ele?
Benjamin Naumann adorava trabalhar como enfermeiro no lar de idosos em Bremen, na Alemanha. O rapaz de 25 anos gostava de ajudar os moradores idosos e conquistar sua confiança. Também gostava de conversar com eles, sobretudo porque, tímido, achava difícil conversar com outras pessoas. Qualquer sinal de aprovação o empolgava. Não se importava de dar plantão, mas nos últimos tempos vinha sentindo dificuldade com a papelada. Escrever relatórios, organizar os turnos… antes achava tudo tão fácil. Era cada vez mais difícil se concentrar.
Dois meses depois, Benjamin estava de folga em seu pequeno apartamento quando seu chefe bateu à porta.
– Naumann – começou o chefe –, você mudou muito. Está negligente com os pacientes e esquece as coisas mais simples. Teremos de demiti-lo antes que algo grave aconteça.
Benjamin sentiu as pernas bambas. “Não é de propósito. E agora? O que vou fazer?” foi seu primeiro pensamento. O segundo foi: “Talvez seja melhor assim. Desse jeito não terei tanta responsabilidade.” Quase sentiu alívio ao esvaziar o armário no lar de idosos, naquele mesmo dia. Depois voltou para casa, ligou a TV e se esqueceu do mundo.
Algumas semanas mais tarde, a campainha tocou outra vez.
– Que bagunça! – exclamou Johanna, sua mãe, uma mulher miúda de cabelo avermelhado.
Ela olhou para Benjamin. Ele sempre fora seu filho mais confiável e caprichoso. Mas agora não reconhecia o mais velho dos três irmãos. O apartamento estava imundo. Havia roupas sujas pelo chão, além de garrafas e latas vazias. A louça suja se empilhava na pia.
– Isto aqui está um nojo. E você também está horrível – disse ela.
O cabelo de Benjamin estava despenteado, o moletom cheio de manchas. Ele deu de ombros, os olhos vazios.
– E daí? Que importa? – retrucou.
Agora ele passava horas no computador, mergulhado no mundo virtual dos jogos.
– Benjamin, isso não pode continuar! – Johanna tentava afastar o medo que crescia dentro dela.
– Você não apareceu no encontro que marcamos ontem – disse o pai. – Está se isolando cada vez mais. Qual é o problema?
Benjamin não tirava os olhos do computador. Sabia que os pais tinham razão, mas não era capaz de responder à pergunta, não conseguia sair da letargia. Estava apavorado, mas não queria admitir.
– Me deixem em paz – disse, mandando os pais embora.
Fazia tempo que Benjamin se afastara da vida normal. Não tinha emprego nem amigos. “Ele e aquela bobagem emocional”, diziam os ex-colegas. Benjamin não sentia dores, portanto não podia estar doente, certo?
“Quero morrer”, dizia Benjamin, a princípio só para si, depois também aos pais – pelo telefone, como se fosse uma coisa normal.
O alarme disparou para Johanna e Peter Naumann. Como enfermeira, Johanna conhecia muita gente, e logo conseguiu uma hora para o filho com um psiquiatra. Na clínica especializada, o médico consultou os colegas, mas nenhum foi capaz de ajudar. Fobia social, depressão ou transtorno de déficit de atenção foram os diagnósticos vagos.
Então a dor começou. Certa manhã de novembro de 2008, Benjamin pressionou a testa contra a superfície fria do espelho do banheiro, os dedos nas têmporas. A dor era insuportável. Ele ligou para a mãe.
– Parece que minha cabeça vai explodir. E está assim há dias – disse.
A visão ficou turva, e ele teve de se segurar na pia para não cair.
Johanna foi direto para a casa do filho, colocou-o no carro e o levou a um neurologista. O médico pediu imediatamente uma ressonância com imagens detalhadas da cabeça do rapaz. “Eu ficaria muito contente se encontrassem alguma coisa”, pensou Benjamin. “Assim, saberia o que tenho.” Aguardando o resultado com o filho, Johanna estava nervosa e inquieta. Sabia que algo importante estava por vir.
O médico chamou os dois ao consultório. A ressonância revelara um tumor cerebral do tamanho de uma bola de tênis. Provavelmente estava ali havia uns seis anos. A primeira reação do rapaz foi de alívio. “Não estou maluco. É físico, não psíquico. Graças a Deus!” Ele tentou sorrir. Com certeza o próximo passo seria uma cirurgia para remover o tumor.
A mãe também quase se sentiu feliz, e abraçou o filho com força.
– Por pior que seja, pelo menos temos algo para explicar o que está acontecendo – disse ela.
Os Naumanns festejaram juntos o Natal. Ao abrir os presentes, todos se sentiam muito menos tensos do que nos últimos tempos. Afinal, havia esperança. Na manhã de 6 de janeiro de 2009, Benjamin foi operado, numa cirurgia que durou oito horas. Embora o tumor ocupasse todo o hemisfério esquerdo do cérebro, os médicos conseguiram removê-lo quase por completo.
No fim da tarde, os pais tiveram permissão para ver Benjamin na unidade de tratamento intensivo. Ele estava pálido, a cabeça raspada e envolta em ataduras, preso a máquinas e tubos.
“Meu menino. Parece tão pequeno e indefeso…” Lágrimas rolaram pelo rosto de Johanna. O filho acordou brevemente, mas não os reconheceu.
– Ele não sabe quem somos – disse Johanna, segurando a mão do marido.
Por fim, voltaram para casa.
No dia seguinte, os Naumanns receberam um telefonema terrível:
– Tivemos de fazer outra cirurgia. Vocês poderiam vir aqui, por favor?
A família correu para o hospital. As notícias eram péssimas.
– O fluido cerebral e o plasma sanguíneo da ferida se acumularam no crânio de Benjamin, e tivemos de abrir um furo para drenar. Infelizmente, isso o levou a contrair uma infecção. Suas chances são mínimas – disse o médico.
Mas, por um milagre, Benjamin sobreviveu àquela noite, ao dia seguinte, ao dia que veio depois…
Johanna tirou licença do emprego para passar todas as horas de vigília ao lado do filho, afagando-o e falando com ele. “Meu Deus, por favor, não deixe que ele morra”, suplicava. Benjamin permanecia alheio a tudo.
A prece de Johanna foi atendida. Três semanas depois, Benjamin recuperou a consciência e deixou a UTI. A primeira sensação que teve foi de fome. Estava louco para comer algo doce, mas não conseguia falar. Quis escrever um bilhete, mas também não conseguiu. Não sentia nada no lado direito do corpo e não conseguia se mexer. Uma sensação de pânico começou a crescer dentro dele – e não podia ser extravasada.
Durante semanas, os pais e irmãos de Benjamin se revezaram junto ao leito.
– Oi, querido. Como vai? – Johanna assumia uma expressão otimista sempre que entrava no quarto do filho. Não que esperasse resposta, mas gostava de ver a leve faísca nos olhos dele. Além de perder a capacidade de falar, Benjamin também perdera parte da memória. À medida que o corpo se recuperava, a memória começou a voltar.
Algumas semanas depois, teve início o processo de reabilitação. Benjamin teve de aprender tudo de novo: a ficar em pé, andar, se vestir, ir ao banheiro. Benjamin se esforçou muito, às vezes cheio de entusiasmo, às vezes desesperado. A mãe participava, esfregando seu rosto com uma escova para sensibilizar os nervos. Ou se sentava ao lado do leito e perguntava: “Quem sou eu? Qual é o meu nome? O que é isto?”, segurando um livro ou uma caneta diante dele, tentando ajudá-lo a se lembrar das palavras.
Durante seis meses, Benjamin tateou pelo caminho de volta à vida, a família sempre a seu lado, estimulando-o, fazendo exercícios com ele. Mas também o preparavam para viver com suas deficiências. O tumor fora removido, mas a radioterapia feita após a cirurgia destruíra muito tecido saudável.
– Você nunca mais será o mesmo, sempre será lento – disse-lhe o pai com franqueza. – Nunca voltará a enxergar direito, terá pouca memória e sofrerá de um tipo de epilepsia.
Benjamin não se deixou abater. Queria viver.
Então, no início de 2010, aconteceu algo que o próprio Benjamin chama de milagre. Tímido por natureza, com a deficiência ele se sentia em desvantagem ainda maior. Não ousava pensar em amor nem relacionamentos. Já seria bom demais conhecer pessoas também deficientes e trocar experiências.
Assim, ele criou um perfil na internet e conheceu uma moça nascida com paralisia espástica nas pernas. Nicole também morava em Bremen. Os dois se encontraram uma vez, duas vezes… e se apaixonaram. Não foi complicado. Os dois se aceitaram do jeito que eram.
– Benjamin é maravilhoso – diz Nicole, sorridente.
O casal foi morar junto apenas um ano depois de se conhecer.
– Levamos uma vida normal. Saímos, fazemos aula de dança, nos reunimos com amigos – diz ela.
Em casa, têm papéis bem definidos. Nicole trabalha como secretária e sustenta o casal. Benjamin cozinha e cuida da casa e do jardim. Agora com 32 anos, ele faz ressonâncias trimestrais para se assegurar de que não há formação de tecido maligno. Mas continua confiante.
– Sei que Nicki e meus pais estão mais preocupados do que eu – afirma Benjamin.
O casal planeja se casar este ano e constituir família. Eles não temem o futuro. Têm certeza de que conseguirão dar conta da responsabilidade e ser bons pais para os filhos.
– Temos muito amor para dar, exatamente por termos passado pelo que passamos – diz Benjamin, que raspou a cabeça. – Faço questão que todos vejam isto – diz, apontando a cicatriz de 15 cm no crânio. – Todo dia ela me lembra do que vivi, mas também da sorte que tive… De certo modo, sou grato por tudo que aconteceu.