“Conheci um rapaz na Internet e ele ameaça contar aos meus pais que nos falamos. Se os meus pais descobrirem, podem me matar”, gritava a adolescente, com
“Conheci um rapaz na Internet e ele ameaça contar aos meus pais que nos falamos. Se os meus pais descobrirem, podem me matar”, gritava a adolescente, com medo na voz.
Nesta manhã de verão de 2013, Azam Qarai, de 50 anos, põe calmamente as mãos sobre as da menina, que tremem sobre a mesa.
“Isto não é culpa sua, Adriana”, murmura. “Você tem o direito de falar com quem quiser. Não está certo ter de sentir medo dos seus pais. Mas por favor, acredita em mim, eles não te odeiam. Os teus pais cresceram com esses valores, e você não está só. Aqui você está em segurança. Vamos te ajudar.”
Azam Qarai é gestora de operações na Linnamottagningen, uma rede em Estocolmo que todos os anos apoia mais de 100 crianças e jovens com problemas derivados de violência e ameaças relacionadas com honra.
Quando chegou à Suécia em 1992, Azam Qarai inspirou profundamente no aeroporto. Sentiu-se livre pela primeira vez em muitos anos. Para trás ficavam oito anos de verdadeiro inferno, aprisionada no seu país natal, o Irão. Aos 18, em Teerão, a polícia apanhou-a com um manifesto de um partido de esquerda crítico do regime.
“A caminho da prisão, sentada no carro da polícia, olhei para as árvores pela janela”, recorda. “Estava convencida de que não voltaria a vê-las.”
Azam não teve julgamento. Em vez disso, o que se seguiu foram oito anos de tortura. “Era um puro inferno”, diz. Alguns dias na prisão deixaram uma impressão mais forte do que outros na sua memória. “Sabíamos que os que eram chamados para interrogatório ao almoço de quarta-feira não voltavam. Quarta-feira era dia de execuções e contávamos os tiros para saber quantas pessoas desapareciam nesse dia.”
Oito anos depois, Azam foi subitamente libertada. “Provavelmente pensaram que aqueles de nós que tinham sobrevivido estavam demasiado quebrados mentalmente para serem uma ameaça.” Com a ajuda de contrabandistas fugiu para a Suécia, onde vivia uma das suas irmãs.
“Elas não recebem o amor que eu recebi em casa, um amor que me enriqueceu e fortaleceu”
Com o apoio da irmã fez a sua caminhada de regresso à vida pouco a pouco. Estudar sueco foi o primeiro passo em direção à liberdade, depois arranjou as habilitações necessárias para a universidade e se formou em Estudos Sociais. Azam descobriu que agora tinha bastantes oportunidades e queria fazer o bem no seu novo país.
Em 1994, envolveu-se num pequeno projeto social que dava apoio psicossocial a jovens imigrantes com problemas familiares. “Quando conheci jovens mulheres que me disseram como eram tratadas em casa, senti que tinha de as ajudar. Elas não recebem o amor que eu recebi em casa, um amor que me enriqueceu e fortaleceu. Mas também, depois dos meus anos na prisão, eu sei o que é estar traumatizada.”
O pequeno projeto social cresceu e tornou-se uma grande rede para jovens de ambos os sexos. Nesta manhã de verão, no escritório de Azam, as mãos de Adriana pararam de tremer. A jovem olha para o rosto da mulher de cabelo curto à sua frente: “Tem razão”, diz. “Confio em você.”