A multitarefa pode parecer algo maravilhoso. Mas, na verdade, pelo que dizem os especialistas, ela é uma invenção desastrosa.
Douglas Ferreira | 14 de Outubro de 2020 às 18:00
A palavra “multitarefa” se tornou o sistema operacional favorito de muita gente. Hoje, candidatos a empregos são avaliados pela capacidade de fazer malabarismos no trabalho. Enquanto isso, na vida privada, tentamos ganhar tempo cumprindo duas ou três tarefas simultaneamente.
É por isso que tentamos fazer a cama e escovar os dentes ao mesmo tempo; conversar com um amigo enquanto escrevemos uma mensagem para outro… Mas quantos conseguem dar tapinhas na cabeça e fazer movimentos circulares na barriga ao mesmo tempo? A resposta é simples: pouquíssimos. Na verdade, pelo que dizem os especialistas, a multitarefa é uma invenção desastrosa.
Um dos adversários mais declarados da multitarefa é o Dr. Clifford Nass, professor de comunicação da Universidade de Stanford. “Fizemos alguns estudos que comprovam que, frequentemente, o adepto da multitarefa sofre déficit cognitivo”, explica ele. “Tem menos capacidade de filtrar informações irrelevantes e de prestar atenção, e o gerenciamento da memória é pior.”
A Dra. Sherry Turkle, psicóloga e professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), endossa essa opinião: “Em algumas situações, a perda sofrida com a multitarefa é inofensiva; são os ossos do ofício do mundo digital. Mas não se pode trabalhar a sério dessa maneira. A cada tarefa acrescentada, ocorre uma degradação da eficiência. Assim, em coisas sérias como escrever, pensar, resolver problemas importante, a multitarefa prejudica. O resultado é pior, ainda que pensemos que fica melhor.”
E essa é a maior parte do problema: nos iludimos e acreditamos ficar mais eficientes passando de uma tarefa a outra com velocidade estonteante. Mas a pesquisa indica um fato simples: o cérebro não tem capacidade para isso.
É claro que há coisas que podemos fazer ao mesmo tempo, como andar e falar simultaneamente. Isso acontece porque cada tarefa exige um tipo diferente de atividade cerebral. No entanto, quando tentamos andar, falar e escrever um e-mail ao mesmo tempo, temos um grande problema. Isso porque duas das três ações se baseiam na mesma parte do cérebro; nesse caso a parte do cérebro que interpreta a linguagem.
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Parece que a resposta para a pergunta acima é: aprender a usar o tempo com eficácia.
O importante é se dedicar a uma só tarefa por mais tempo, em vez de trocar uma pela outra o tempo todo. “Quando menos trocamos, melhor fazemos”, diz Nass. “Assim, aprender a se concentrar e cumprir uma tarefa com constância é uma habilidade de muita eficácia no gerenciamento do tempo.”
De acordo com o Dr. David Grant, especialista em estudos funcionais e organizacionais, não conseguimos equilibrar tarefas porque ninguém jamais nos ensinou a técnica correta.
O truque é programar a tarefa antes de começar. “Sente-se e pense meticulosamente em cronogramas e recursos disponíveis”, aconselha o Dr. Grant. Ele diz que é preciso saber a hora de dizer não quando nos pedem para assumir tarefas demais.
“É mais fácil falar do que fazer, mas é possível ser mais assertivo no ambiente de trabalho. E, por parte das empresas, também há a responsabilidade de pensar no modo ideal de distribuir tarefas.”
O segredo é se organizar, dividir bem o tempo e manter registros eficientes. Isso significa assumir apenas o que podemos fazer, dedicando períodos contínuos a uma única tarefa e criar o hábito de escrever uma lista de afazeres, com horários determinados que nos permitam refletir sobre o andamento e sobre o que resta a ser feito.
O Dr. Nass sugere aplicar a regra dos 20 minutos: “Ao fazer alguma coisa, dedique-lhe um mínimo de 20 minutos”, diz ele. “Você verá que é muito mais eficiente.”
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Algumas medidas simples podem ajudá-lo a ser menos multitarefa sem necessariamente diminuir a sua produtividade. Confira 5 dicas abaixo que você pode começar a colocar em prática hoje mesmo!
Manter-se presente no momento atual aumentará o poder de concentração. Dê bom exemplo a seus filhos e pratique com eles a arte da conversa presente e contemplativa. Livre-se de aparelhos eletrônicos por algum momento e tenha um momento “desligado do mundo”.
Desligue a TV quando estiver tentando ler; desabilite o alerta de e-mails que bipa ou aparece na tela do computador toda vez que algo chega à sua caixa de entrada (quantos são realmente urgentes?); ponha na porta uma placa “Não perturbe” ou peça aos colegas que não o incomodem por um certo período, e deixe os telefonemas serem atendidos pela secretária eletrônica.
A mesa arrumada significa que há menos coisas para atrair e desviar sua atenção.
Sempre que precisar se concentrar em um telefonema importante ou em alguma outra atividade em que não irá utilizar o computador, desligue o monitor. Isso ajudará você a evitar ficar olhando outras coisas.
Defina horários em sua agenda e especifique apenas uma tarefa para cada período. Divida seu tempo, como fazem os escritórios de profissionais liberais, como contadores, médicos e advogados.