Quando a floresta pega fogo, essa equipe de elite chamada de bombeiros paraquedistas salta em lugares perigosos para combater o incêndio.
O sol ainda está alto no céu de verão do Alasca quando o chamado chega às 21h47. As sirenes gemem e oito bombeiros paraquedistas correm para se vestir. Já de bota de lenhador, calça verde-escura e camisa amarelo-vivo, cada homem praticamente pula dentro do macacão de kevlar.
“Primeira turma, embarcar!”, berra uma voz no alto-falante. Itchy, Bloemker, O’Brien, Dibert, Swisher, Koby, Swan, Karp e Cramer são os primeiros homens na lista de salto. Eles têm passado as noites quase todas junto ao balcão de operações da base de Fort Wainwright, contando piadas e implicando uns com os outros, aguardando com ansiedade e empolgação a hora de saltar de um avião para combater um incêndio florestal.
Agora, têm exatamente dois minutos para se vestir e embarcar. É uma rotina bem treinada: as mãos voam com agilidade, prendendo protetores de joelho e queixo, fechando os macacões, afivelando os pesados arneses de náilon. Os macacões estão pré-carregados com equipamento: num bolso grande de uma das pernas há uma capa de chuva e um painel solar. O bolso da outra perna contém barrinhas de granola e 50 metros de corda, mais um dispositivo de rapel caso o pouso aconteça no alto de uma árvore. Um bolso bem grande na traseira contém uma barraca e um saco para o paraquedas.
Os outros paraquedistas logo os cercam, ajudando-os a pôr o paraquedas principal e o de reserva. Então cada homem pega seu capacete de salto, com uma máscara parecida com uma gaiola a fim de proteger o rosto na descida entre os galhos, e a bolsa pessoal de equipamento, que contém um litro d’água, luvas de couro, capacete rígido, sinalizador para acender fogo de encontro, faca, bússola, rádio e um saco de alumínio especial que serve de abrigo de último recurso contra o fogo.
Dois minutos depois da sirene, eles caminham pela pista, cada um levando quase 50 quilos de equipamento e suprimentos. Parecem desajeitados e sobrecarregados, mas cada homem leva um conjunto de itens essenciais cuidadosamente selecionados e testados de que um bombeiro precisa para combater incêndios e sobreviver a eles nas florestas mais remotas e difíceis do mundo.
As turbinas gêmeas do cargueiro Dornier 228 acordam rugindo enquanto as carregadas figuras cáqui entram em fila indiana pela porta lateral até a barriga do avião, carregada com caixotes de equipamento de combate a incêndios que serão lançados com eles. O avião decola, e o despachante passa pelo rádio as coordenadas do incêndio. Tempo de viagem: uma hora e 28 minutos.
Fotografado por Mike McMillan, membro da equipe, um dos tripulantes mira um local de pouso perto da cauda do fogo, onde ele começou junto de um grupo de chalés. A coluna ondulada de fumaça assinala um fogo “devorador”, que se espalha rapidamente e “disparou na corrida”, diz McMillan.
Faz barulho demais para falar, e os homens ficam sentados em silêncio, cada um sozinho com seus pensamentos atrás da máscara. Eles não sabem aonde vão nem quanto tempo ficarão lá. Não sabem o tamanho do incêndio nem se os ventos serão perigosos. Só sabem que vão para a batalha contra uma das forças mais selvagens e imprevisíveis da natureza.
Quando o observador Bill Cramer ergue a mão para pedir uma última verificação, cada homem executa a meticulosa conferência final do parceiro de salto.
Eles sobrevoam o Círculo Polar Ártico, na borda sul da cordilheira Brooks Range, quando veem uma nuvem de fumaça subindo da floresta escura, resultado da queda de um raio. Cramer abre a porta de salto e se inclina na esteira aerodinâmica para avaliar: “Incêndio número 320, seis hectares, 70% ativo, queimando abetos negros com vegetação rasteira de líquen-de-rena, onze estruturas nas margens norte e oeste do lago Iniakuk, 2,5 quilômetros a oeste.”
Um salto a 450 metros de altitude
O piloto voa em círculos a 450 metros de altitude. Cramer identifica o local do salto e larga três serpentinas de papel. As três tiras de cor viva – amarelo, azul e laranja – se desenrolam no céu para que ele avalie a velocidade e a direção do vento.
“Para a porta”, grita Cramer. O primeiro homem na lista de salto, Jeff McPhetridge, 49 anos, chamado de Itchy, se senta com os pés pendurados fora do avião. “Preparar!”, grita Cramer, e um momento depois lhe dá um tapa no ombro. McPhetridge se lança do avião. Três paraquedistas o seguem. Na segunda passada, os quatro homens restantes caem no céu. Seus paraquedas vermelhos, brancos e azuis fazem círculos sobre a floresta em chamas como mariposinhas que sobem no ar acima da fogueira do acampamento, cada homem manobrando seu velame no vento. Um a um, os bombeiros voam rumo à fumaça.
Os oito homens que descem do céu podem traçar sua “árvore genealógica” profissional a partir de um raio que atingiu uma árvore a leste do Parque Nacional de Yellowstone em agosto de 1937. A descarga provocou um pequeno incêndio que começou a avançar pela floresta e acabou se transformando no tristemente famoso Incêndio de Blackwater, que matou 15 bombeiros e queimou quase 700 hectares. Uma investigação do Serviço Florestal dos EUA concluiu que a única maneira de evitar essas tragédias era atacar os incêndios florestais enquanto ainda fossem pequenos.
Na década de 1930, o Serviço Florestal começou a testar a viabilidade de mandar equipes pequenas pularem de paraquedas em áreas remotas, e, em 12 de julho de 1940, os primeiros bombeiros paraquedistas foram enviados para o incêndio de Marten Creek, na Floresta Nacional Nez Percé, no estado de Idaho. Nas décadas seguintes, o Serviço Florestal criou sete bases de bombeiros paraquedistas, e o Bureau of Land Management (escritório de gestão territorial dos EUA) criou duas, inclusive a do Alasca. Hoje, cerca de 450 bombeiros paraquedistas ativos são enviados pelas bases aos incêndios florestais.
“Aqueles primeiros anos provaram que mandar homens a um incêndio do tamanho de uma sala, e não com milhares de hectares, poupava dinheiro, floresta, vidas e propriedades privadas”, explica Chuck Sheley, paraquedista aposentado e vice-presidente da National Smokejumper Association (Associação Nacional de Bombeiros Paraquedistas). “O mesmo princípio ainda se aplica hoje.”
Com o tempo, surgiu o debate sobre a necessidade de manter bombeiros paraquedistas na maior parte dos Estados Unidos, pois o avanço imobiliário se espalhou para áreas antes remotas. Hoje, 90% dos incêndios começam a um quilômetro de uma estrada, e a maioria é acessível por veículos terrestres. Mas no vasto interior do Alasca a imensa maioria das terras só pode ser acessada pelo ar. Muitos incêndios remotos não são apagados, porém quando ameaçam vidas e propriedades os bombeiros paraquedistas continuam a ser a tropa da linha de frente.
Bombeiros paraquedistas: uma verdadeira tropa de elite
O treinamento dos bombeiros paraquedistas do Alasca é um dos mais exigentes do mundo. Das cerca de 200 pessoas que se inscrevem todo ano, umas dez são selecionadas como recrutas. Os candidatos mais competitivos têm cinco a dez anos de experiência no combate a incêndios florestais e conseguem fazer 60 agachamentos, 35 flexões, 10 flexões de braço na barra, correr 2,5 quilômetros em 9 minutos e 20 segundos (ou 5 quilômetros em menos de 22 minutos e 30 segundos) e carregar uma mochila de 50 quilos por 5 quilômetros em menos de 55 minutos. Para manter o emprego, cada bombeiro paraquedista precisa ser aprovado todo ano numa versão dessa prova. (Atualmente, todos os 64 bombeiros paraquedistas do Alasca são homens, embora no passar dos anos tenha havido sete mulheres.)
“Só escolhemos pessoas capazes de ter bom desempenho sob estresse”, diz Robert Yeager, ex-instrutor de recrutas. “Gente que consiga controlar o nervosismo, a ansiedade e a adrenalina, disposta a aceitar desafios de vida ou morte.”
Os que são aceitos para as cinco semanas de treinamento já sabem combater incêndios, mas têm de aprender habilidades avançadas com o paraquedas: como se ajustar e reagir com rapidez e exatidão a numerosas variáveis que mudam constantemente, como o vento, o terreno, o estado do paraquedas, a zona de pouso. Os recrutas dão pelo menos 20 saltos de treino, filmados e criticados. Quarenta por cento dos treinandos não são aprovados.
Mas os que passam se tornam membros de uma fraternidade de elite que inclui Willi Unsoeld, um dos primeiros americanos a subir o monte Everest; Stuart Roosa, piloto do módulo de comando da missão Apolo XIV; Ken Sisler, oficial de inteligência morto no Vietnã que recebeu a Medalha de Honra; e Deanne Shulman, que, em 1981, se tornou a primeira mulher a entrar para o grupo.
Os bombeiros paraquedistas pousam a menos de 50 metros do incêndio agora chamado de 320, rolando sobre os quadris para absorver o impacto. Em poucos minutos, já embalaram o paraquedas. Os caixotes com o equipamento de combate ao fogo – motosserras, pás, abafadores, Pulaskis (combinação de machado com enxó) – estão caindo na zona de pouso. Os homens mal têm tempo de abrir as caixas antes que o vento mude. “De repente, o vento vinha do sul e não do norte”, me diz depois McPhetridge, comandante designado para o incidente. “Ficamos com medo de que o fogo nos flanqueasse.”
Os homens não têm tempo de recolher os paraquedas da carga. Em vez disso, vão direto para o fogo. As labaredas sobem pelos abetos e inflamam o ressecado líquen-de-rena. A fumaça se despeja pela floresta. Os homens começam a bater a borda do fogo com abafadores – varas com tiras grossas de borracha na ponta –, mas o verão foi seco, e o líquen forma um leito de 15 centímetros de material extremamente inflamável. Eles o abafam, mas as chamas rebrotam na mesma hora.
“Sem água, não se apagaria”, diz McPhetridge. Os homens correm para um riacho próximo e enchem quatro reservatórios de 20 litros usando os capacetes rígidos. Evan Karp, de 36 anos, bombeiro corpulento de barba grossa e desgrenhada, monta uma bomba e começa a esticar a mangueira enquanto os outros homens correm de volta para o fogo.
McPhetridge não dá ordens nem instruções. “Todo mundo sabia exatamente o que fazer”, conta ele depois. “Essa é a beleza da unidade.”
Enquanto um bombeiro opera a bomba-d’água, enchendo e reenchendo os reservatórios, quatro homens atacam o flanco esquerdo e três, o direito. Os homens se deslocam pela beira do fogo, batendo as chamas, jogando água, sufocados com a fumaça.
Os bombeiros cavam aceiros, cortam árvores, esvaziam e reenchem os reservatórios sem parar. Às três da madrugada, depois de várias horas de trabalho exaustivo, completaram o perímetro do incêndio. Com as mãos e o rosto enegrecidos, enfiam-se nos sacos de dormir para algumas horas de sono. Estão de volta à linha de frente às sete da manhã. Alguns usam motosserras para cortar árvores verdes e expandir os aceiros em torno da borda negra e fumegante do incêndio; outros cavam com suas Pulaskis.
O ataque inicial acabou, e McPhetridge caminha pelo perímetro do fogo. São apenas 13 hectares, minúsculo se comparado aos incêndios imensos que viram manchete nos outros 48 estados do país. Mas, se não fosse controlado, queimaria talvez dezenas de milhares de hectares. Ele liga para o despachante para passar informações e lhe dizem que o quartel-general vai buscar a equipe. Uma guarnição de bombeiros de comunidades nativas do Alasca será levada de helicóptero para o trabalho de rescaldo, em que cada metro quadrado do “carvão” será examinado, escavado e molhado, a fim de garantir que o incêndio esteja completamente apagado.
Pouco antes das nove da noite do dia seguinte em que saltaram, os oito bombeiros paraquedistas são levados de helicóptero para Bettles, uma aldeola no interior do Alasca a 80 quilômetros dali. Missão cumprida.
Ou assim pensaram.
O início de um novo desafio
Duas coisas ruins acontecem depois que os bombeiros paraquedistas são levados do Incêndio 320. Primeiro, o equipamento da guarnição nativa do Alasca fica preso em Fairbanks, e eles não conseguem ir ao local para fazer o rescaldo. Depois, o vento passa a soprar do norte e instila nova vida nas brasas. O fogo começa a crescer, e, na tarde seguinte à sua partida da área, os paraquedistas voltam de helicóptero. Quando chegam ao local no meio da tarde, o fogo se espalhou por 60 hectares, e eles pedem reforços. Outra equipe de oito bombeiros paraquedistas salta e, juntos, os 16 homens começam a cortar uma linha ao longo do flanco esquerdo do fogo renascido, usando o rio Iniakuk para deter o flanco direito.
Mas, por causa do tempo seco e da abundância do quebradiço líquen-de-rena, não conseguem abafar e controlar o incêndio. Sem muita água, ele não vai se apagar. Os bombeiros chamam os Fire Bosses – aviões do tipo que pulveriza plantações, equipados para transportar 3 mil litros – para bombardear as chamas. Eles se aproximam, soltam a carga de água e retornam ao lago Iniakuk; passam sobre a superfície turquesa a 130 km/h, recolhem mais 3 mil litros e vão jogá-los de novo no fogo.
Ainda assim, as chamas persistem. Agora o fogo está tão quente que se reacende logo depois de encharcado. Atiçado pelo vento, ganha ímpeto e corre como lava derretida sobre a madeira verde. São chamados aviões maiores, os CL-415, capazes de lançar 6 mil litros de cada vez, e um helicóptero com um imenso balde d’água pendurado num cabo comprido. Com várias aeronaves cumprindo missões bem-sucedidas de bombardeio de água, os homens em terra correm para abrir pela floresta um aceiro defensivo ao norte, derrubando árvores, cortando o mato, abafando as chamas. Às dez da noite, sete horas depois de saltar pela segunda vez, eles direcionaram a extremidade norte do flanco esquerdo para a curva do rio Iniakuk.
Por volta da meia-noite, os bombeiros recuam até um acampamento perto do fogo. O rosto está enegrecido de fuligem, os olhos ardem, o corpo está exausto. Cansado, cada homem prepara seu jantar na fogueira. Eles têm rações militares prontas para comer, além de latas de molho de carne, sardinha e montes de barras de granola. Mas o prato típico é presuntada frita lentamente sobre as brasas com cebola e pimentão fresco.
No mato, o fogo não é o único inimigo
Os homens matam mosquitos e franzem os olhos para o fogo. Suas roupas estão cobertas do sal do suor, mas alguém sempre se dispõe a contar uma história. Como a vez em que David Bloemker luxou o ombro. A temporada terminara no Alasca, e ele estava em Montana, saltando de paraquedas num incêndio na Floresta Nacional de Kootenai.
“Então o vento parou, e havia um tronco que eu não tinha visto num lugar ruim”, conta Bloemker, de 45 anos, que passou duas décadas como bombeiro paraquedista. “Caí depressa demais. A ponta do pé se prendeu numa touceira de capim-de-urso. Esmaguei o ombro e lesionei o lábrum. Tive de andar uns três quilômetros até onde um helicóptero pudesse pousar.”
Os homens fazem que sim em silêncio; a maioria já ouviu o caso. Essas histórias são mais do que diversão; são um modo de os bombeiros paraquedistas aprenderem uns com os outros. As lições de combate a incêndios imprevisíveis no mundo real, em lugares remotos, são numerosas demais para encaixar em poucos anos de treinamento. Mudanças de vento assustadoras, brasas de antigos incêndios que sobrevivem ao inverno só para se reacender na primavera, defeitos no paraquedas principal e reserva, enguiço das motosserras, colegas que nunca voltam para casa depois da última missão: essas e outras são recolhidas em longas carreiras e transmitidas a bombeiros exaustos em torno de fogueiras como aquela.
Bloemker se levanta, joga no fogo o que sobra em sua caneca de lata e ajusta o revólver Smith & Wesson calibre .44 no cinto. A arma provoca outra história.
“Estávamos bem no interior, perto do lago Bear, vejam só, lago do urso. Tinham dito que havia um urso acostumado com a presença de seres humanos na área, invadindo cabanas. Quando apagamos o incêndio e voltamos ao acampamento, vimos que um urso mexera nas coisas. No dia seguinte, o urso voltou e rasgou uma das barracas. Ligamos uma motosserra e o assustamos. Naquela noite, o urso voltou, mas dessa vez não conseguimos assustá-lo. Ele começou a ficar agressivo, perseguindo alguns rapazes entre as árvores. Fez um ataque em falso. Depois, um segundo ataque em falso. No terceiro movimento agressivo, me encaixei na forquilha de uma árvore e lhe dei um tiro entre os olhos.”
A história é um lembrete de que, no mato, o fogo não é o único adversário. Mas, nessa hora, alguns dos homens sujos de fuligem estão profundamente adormecidos.
Os bombeiros paraquedistas voltam ao Incêndio 320 às sete da manhã, mas durante a noite o vento mudou de novo. O incêndio explodiu para 240 hectares. Agora as chamas lançam brasas a centenas de metros no ar e no outro lado do rio. Rapidamente, fica decidido que o outro lado do rio é indefensável, e os homens começam a abrir um aceiro ao sul para fechar o flanco esquerdo. Labutam por horas, respirando fumaça, cuspindo cinza, suando nas roupas imundas.
Mas “Big Ernie”, nome que os bombeiros dão ao caprichoso deus dos incêndios florestais, tem um senso de humor distorcido. Quando estão quase ancorando o flanco esquerdo ao rio, o vento lança o fogo para o sul, pela margem oposta desprotegida, e passa a soprar brasas para oeste, atravessando o rio de volta, plantando entre os homens um novo incêndio secundário que ameaça cercá-los.
Os bombeiros têm de ficar hipervigilantes com essas mudanças, diz McPhetridge. “Não dá para controlar o vento. A gente pode morrer.”
O incêndio secundário logo se espalha em todas as direções. A maioria dos homens vai para o sul, na tentativa de contornar o lugar. Dois homens com motosserras cortam tudo à vista ao longo da beira das chamas. Parte da guarnição arrasta os troncos não queimados até as áreas verdes para privar o fogo de combustível adicional. Outros usam abafadores nas chamas ao longo da parte carbonizada. Os Fire Bosses ribombam no céu a cada quatro minutos, lançando água. Os homens recuam, mas mesmo assim se encharcam.
Depois de horas de trabalho frenético, as bordas norte e oeste do novo incêndio secundário estão quase sob controle, mas agora as chamas uivam para o sul com o vento norte. Os 16 bombeiros paraquedistas não conseguem ficar à frente do fogo. Sua única opção é recuar antes que a rota de escape seja cortada.
No dia seguinte, o fogo cresce para 600 hectares. Os bombeiros são forçados a passar do ataque à defesa. Um dos paraquedistas veteranos lamenta que a guarnição esteja sendo removida do incêndio antes de extingui-lo completamente. “Nós o pegamos com 13 hectares”, diz. Pesarosos, os bombeiros paraquedistas chamam isso de “pegar e largar”.
Agora, sua única meta é proteger as poucas cabanas e a pousada do lago Iniakuk. Com um hidroavião Zodiac, eles levam mangueiras, bombas-d’água e borrifadores a todas as estruturas no lago. As bombas são colocadas no lago, e os borrifadores instalados para proteger o telhado das cabanas.
Jeff Poor é o dono da cabana mais próxima do fogo. O enrugado caçador, que era da Costa Leste dos EUA mas “fui o mais longe que pude”, construiu sua cabana em 1976. “Muito contente de ver esses bombeiros!”, alegra-se Poor, que vende suas peles – lobo, marta, lince – a compradores russos. “É sempre bom ter ajuda.”
Pat Gaedeke, que, em 1974, construiu com o marido a pousada na extremidade do lago, foi quem chamou os bombeiros. Ela mal se aguenta de tanta alegria. “Não consigo acreditar em todos os recursos que estão usando para nos ajudar”, diz ela.
Finalmente, depois de instaladas dúzias de borrifadores e milhares de metros de mangueira, cada estrutura está protegida dentro de meio círculo de encanamento capaz de encharcar o terreno e impedir que se queime.
Os bombeiros paraquedistas voltam ao acampamento às dez da noite. Exaustos, espalham-se em torno da fogueira. Latas de pêssego em calda passam de mão em mão, e os homens pegam as metades escorregadias com os dedos enegrecidos. Um naco de queijo também roda; cada homem corta um pedaço com a faca. “Ei, gente, vocês se lembram daquela vez…”, e alguém começa uma história.
Os oito bombeiros do ataque inicial acabaram passando 16 dias no incêndio do lago Iniakuk antes de serem liberados. O fogo queimou quase 15 mil hectares, mas todas as estruturas da área foram salvas. “O incêndio durou o verão inteiro e ainda ardia quando partimos em setembro”, revela Pat Gaedeke. “A mãe Natureza finalmente o apagou quando começou a nevar.”
POR MARK JENKINS DA NATIONAL GEOGRAPHIC
DE NATIONAL GEOGRAPHIC (MAIO DE 2019), © 2019 NATIONAL GEOGRAPHIC