Robin Evernden passeava pelo cais de concreto e abriu o portão da balsa. Era uma tarefa que já executara centenas de vezes nas seis semanas decorridas
Redação | 20 de Abril de 2019 às 10:04
Robin Evernden passeava pelo cais de concreto e abriu o portão da balsa. Era uma tarefa que já executara centenas de vezes nas seis semanas decorridas desde que assumira o emprego de gerente da ilha Molloy, um porto minúsculo com trezentas casas na convergência dos rios Blackwood e Scott, perto de Augusta, na Austrália Ocidental. A cada hora cheia, ele saía do serviço de manutenção para levar e trazer veículos do continente pelos 145 metros do rio. A balsa é o único meio de transporte público de acesso à ilha.
Eram quase 11h30, e alguns moradores queriam retornar à ilha. O primeiro carro entrou na balsa e estacionou na frente. Ele ergueu os olhos quando um segundo carro se aproximou, dirigido por um dos moradores mais idosos da ilha. Rob acenou para que viesse.
A quietude foi rompida pelo súbito rugido de motor. O carro do idoso acelerou, atravessou a extensão da balsa, rompeu as correntes do outro lado da rampa, saiu pelo portão e despencou por 15 metros até cair no rio Blackwood.
Rob e Toni, uma amiga da vila, observaram em choque o carro girar 180 graus quando atingiu a água, o capô agora de frente para a balsa. O carro permaneceu ereto, mas a água estava entrando rápido e o fazia afundar depressa.
Imediatamente Rob pegou o rádio e falou com sua esposa Ally, que se encontrava na ilha. “Preciso dos serviços de emergência e de um barco”, pediu. “Um carro caiu na água.”
A água inundava o carro, e o homem, angustiado, não conseguia pegar a boia. O para-brisa ainda estava na superfície, e o idoso olhava para Rob com desespero enquanto tentava fechar as janelas para impedir o fluxo de água. O motorista, que tinha quase 80 anos e não sabia nadar, parecia apavorado.
O veículo afundava com rapidez, e Rob sabia que não conseguiria abrir as portas depois que submergisse. A única solução seria tirar o motorista pela janela antes que o sistema eletrônico do carro parasse de funcionar.
Rob pulou no rio e ofegou ao bater na água fria. Em segundos estava ao lado do carro. Agarrou o veículo flutuante, que rolou em sua direção, quase o empurrando para debaixo d’água. Percebeu que não conseguiria segurar o carro para estabilizá-lo enquanto tirasse o motorista. Mas não havia tempo de esperar um barco. Ele teria de levar a balsa até o carro.
Rob voltou para a balsa, onde Toni, estava ao telefone com Ally, passando informações. “Me arranje um martelo”, gritou Rob para Matt, um pedreiro da ilha, enquanto saía da água e corria para os controles. Ele apertou o botão; a balsa saiu do cais com um solavanco e começou a avançar pelo cabo de aço na direção do carro. Rob tirou o dedo do botão, mas era impossível controlar a balsa enquanto avançava pela água. A rampa de aço bateu no carro antes que uma das rampas embutidas na popa resvalasse diretamente pelo teto.
O carro agora se estabilizara, preso pela rampa da balsa, mas estava quase inteiramente submerso, a frente dentro d’água, o peso do motor puxando-o para baixo. Só o vidro traseiro era visível. Com horror, o grupo procurou sinais do motorista. Não havia.
Rob agarrou o martelo, correu para a rampa e se deitou de bruços ao longo da parte que resvalara pelo teto do carro. Ainda não conseguia ver movimento. Ele quebrou a janela traseira do passageiro e enfiou o braço. “Pegue!”, gritou, sem saber se o motorista o escutaria no meio da água.
Uma mão agarrou seu braço. Rob segurou a mão dele e a puxou até a superfície para que pudesse respirar. Mas o motorista, um homem alto e largo, não passaria pela janela. Estava torcido em ângulo, com apenas o nariz e a boca acima da água, com o ombro preso. Rob teria de empurrá-lo de novo debaixo d’água para virá-lo.
– Inspire fundo – disse. – Não entre em pânico, estou segurando você. Vire-se e, quando eu começar a puxar, empurre com as pernas.
O motorista fez exatamente o que Rob lhe disse. Inspirou profundamente duas vezes e Rob o empurrou de volta para o carro, debaixo d’água. Virou-o e puxou-o com toda a força enquanto o velho se impulsionava para cima. Ele disparou pela janela como uma rolha saindo da garrafa, e Rob o puxou para a balsa.
O senhor tremia, agitado, tiritando de frio, a princípio incapaz de falar. Mas, assim que conseguiu formar palavras, eles compreenderam a razão de sua angústia. Sua cachorrinha ainda se encontrava no carro.
Já fazia uns dez minutos que o carro estava debaixo d’água quando Rob voltou à rampa e quebrou o para-brisa traseiro com o martelo, tateando pelo vidro atrás de algum sinal de vida. Seu coração deu um pulo quando seus dedos tocaram pelos. De algum modo, Bella, a jovem retriever, encontrara um bolsão de ar e se mantinha viva.
Rob puxou-a, ferindo a perna dela no vidro quebrado, e o animal, apavorado, correu para procurar o dono. Agora já havia uma multidão em ambas as margens, e muitas mãos ajudaram a prender o carro com correntes.
Desde os dramáticos dez minutos, Rob se tornou quase um herói na comunidade da ilha Molloy e recebeu do governador-geral da Austrália uma comenda por bravura pelo raciocínio rápido.