Para nos expressarmos, acessarmos o outro e até mesmo para nos curarmos; as palavras são ferramentas muito poderosas. Confira o poder das palavras!
Julia Monsores | 22 de Junho de 2020 às 19:00
Assim como os gestos, as palavras são portadoras de uma grande diversidade de emoções, que vão da violência à ternura, passando pelo riso, pelo medo e pelo consolo. Por isso são ferramentas de manipulação – quando usadas em slogans publicitários e em discursos políticos são capazes de influenciar desejos, pensamentos e ações.
O trabalho de Sigmund Freud evidenciou a grande capacidade da palavra para curar – uma função que os confessores e os xamãs já conheciam empiricamente. Para a prática da psicoterapia e da psicanálise, a palavra é decisiva.
A pessoa exprime seu sofrimento interior, exterioriza-o, e o terapeuta avalia todo o alcance do descontentamento que escuta. Assim fazendo, ele o legitima e, graças a essa revalorização, que passa pela linguagem, o indivíduo toma plenamente consciência da sua situação e pode então conseguir superá-la.
Há também as palavras que seduzem, inebriam e exaltam.
Na cena da sacada do Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, Roxane fica literalmente enfeitiçada pelas palavras de amor que chegam até ela. Imagina que elas foram formuladas pelo belo Cristiano: ela se apaixona por um ourives da linguagem, antes de se apaixonar por um homem.
A expressão na qual as palavras atingem a plena medida da sua potência é, sem dúvida, a poesia. Presas na melodia do poema, as palavras fogem de seu uso ordinário e reverberam todo o seu potencial de beleza e expressão. O poeta habilidoso extrai as palavras do íntimo da memória, da sensibilidade e da criatividade.
É impressionante que tenha sido justamente a esse tipo de expressão que homens e mulheres, ao sofrer experiências extremas, recorreram, quando eles, por instinto, sentiram a necessidade de manter um elo com um resquício de humanidade: Primo Levi e Evguenia Ginzburg, deportados para campos de concentração nazistas ou soviéticos, contaram, cada um à sua maneira, que a mobilização da memória para declamar – ou simplesmente dizer – poemas para os camaradas era um poderoso meio de afirmar sua resistência à desumanização imposta pelos carrascos e pelo sistema dos campos.
E o que seria dos livros sem as palavras?
A leitura é uma arte de bem viver porque ela é um espaço de liberdade, um meio de ver as coisas em perspectiva. E isso só é possível graças às palavras.
Alguns livros nos acompanham a vida inteira, e podem nos transformar, nos iluminar e nos ajudar a reconhecer fatos sobre nós mesmos. Tudo isso nos traz um prazer e um enriquecimento sempre renovados. Além disso, a prática da leitura ainda estimula a nossa empatia e sociabilidade.
Se por acaso perdemos o hábito da leitura e desejamos retomá-lo, é preciso, de início, um pouco de boa vontade: a leitura exige uma prática regular para ser agradável e útil. Ler é reservar um pouco de tempo para nós mesmos.
Uma vez que essa disponibilidade seja reconquistada, podemos agir com toda liberdade: começar um livro e não acabá-lo, porque ele não nos agradou; ler dois ou três livros de uma vez, se nos der vontade; avançar lentamente ou, pelo contrário, devorar página a página até o desfecho; dividir nossos entusiasmos ou nossas decepções; pular de um livro a outro explorando a bibliografia de um autor ou um assunto no qual desejamos nos aprofundar; vagar por bibliotecas e livrarias em busca de novos horizontes…