As caixas de leite, com seu isolante térmico das embalagens tetra pak, são usadas para cobrir frestas nas paredes e no teto de residências precárias.
Beber leite quente é uma ótima saída para amenizar o frio. Mas parece que sua embalagem contém uma solução ainda melhor.
Qualquer cidade brasileira que fique a 700 metros de altitude certamente enfrenta um clima ainda mais rigoroso durante o inverno. Se estiver na região Sul, os termômetros podem registrar temperaturas baixíssimas. Como é o caso do município gaúcho de Passo Fundo. No mês de julho, o marcador pode descer a -2oC. E apesar de ocupar a 23ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, boa parte da população da cidade, especialmente na zona rural, não tem moradias projetadas para resistir ao frio.
Por serem construídas sem supervisão, muitas dessas residências têm condições precárias e as frestas nas paredes e no teto. O que faz com que os cômodos sejam úmidos e frios.
A ideia brilhante
Em 2009, em uma noite de tempestade, Maria Luisa Camozzato, professora de química aposentada, teve uma ideia brilhante, mas extremamente simples, para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade a enfrentarem o rigor da estação. Conhecedora do efeito de isolante térmico das embalagens tetra pak, Maria Luisa desenvolveu uma técnica de forração que usa caixas de leite como matéria-prima.
Como não poderia realizar o trabalho sozinha, Maria Luisa criou um grupo de voluntários batizado de Brasil sem Frestas, que já ensinou a técnica para grupos em vários municípios do estado, como Bento Gonçalves, Novo Hamburgo e a capital Porto Alegre; e até fora dele, como São Joaquim, na serra catarinense. Os voluntários recolhem doações de caixas, lavam a parte interna, recortam no sentido da junção da embalagem e grampeiam 12 unidades para formar uma chapa isolante de cerca de 1 m². “É importante que todas sejam grampeadas no mesmo sentido, vertical, para que não sobrem aberturas por onde a água da chuva possa penetrar”, Diz Maria Luisa.
Como funciona
A professora explica que das seis camadas da caixa, quatro são de plástico, um excelente isolante contra a água; uma de alumínio, poderoso isolante térmico e a que sobra é de papelão, externa. “No inverno, as chapas preservam a casa aquecida. Contudo, no verão, refletem o calor para fora, baixando a temperatura em até oito graus. Mas, nesse caso, é preciso fazer o forro do telhado”. Outro benefício da técnica é manter insetos e parasitas longe do lar.
Segundo Maria Luisa, mais de seis toneladas de embalagens já foram reaproveitadas. E ela ressalta a importância da reciclagem direta, “que retira do meio ambiente um produto de altíssima durabilidade”.
Aliás, ao que tudo indica o projeto só tende a crescer. “No início, as casas que atendíamos eram tão pequenas que às vezes bastava forrar uma só parede. Hoje, forramos casa inteiras e o trabalho é mais demorado”, explica ela, acrescentando que o retorno vem em forma de gratidão. “ Certa vez perguntei a uma senhora qual tinha sido o efeito daquilo em seu dia a dia. Ela respondeu ‘o que vocês reciclaram não foram as caixinhas, mas a minha vida.’”
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