Ele não se surpreendeu quando o corpo de Molei teve um espasmo súbito e ela se sentou de repente. Sem nem pensar, Jeremy disse: “Ei, não estamos treinando abdominais. O que você está fazendo?”
E ela riu.
Os olhos de Jeremy se iluminaram. “Meu Deus!”, berrou ele. “Você me ouviu! Você está aí!”
Foi um divisor de águas. “Não sei se já ri tanto, se já sorri tanto”, diz ele. “Aí eu soube que ela sabia quem eu era. Ela ainda achava engraçadas minhas piadas bobas. Ela sabia quem eu era.”
Foi uma descoberta para Molei também. “O jeito como ele riu, eu soube na hora”, afirma ela. “Era como se ele dissesse: ‘Ei, ela ainda está aí!’ Eu não era só alguém em coma.”
Nas semanas que se seguiram, Molei melhorou drasticamente. Logo, observava, escutava, se concentrava e reagia. Ainda não conseguia falar e tentou se comunicar com a língua de sinais que aprendera na faculdade. Jeremy também conhecia um pouco dessa língua, e entendeu a primeira coisa que ela lhe disse.
“Amo você”, lembra Molei. “Foi a primeira coisa que eu disse a ele.”
No total, Molei passou seis meses em hospitais depois do acidente, inclusive dois meses no Craig, onde aprendeu a comer (com cuidado), a falar (devagar) e a caminhar distâncias curtas com um andador. A terapia de reabilitação cognitiva – quebra-cabeças, testes, remédios para foco e atenção – ajudou sua mente a voltar à vida. O cérebro é uma coisa extraordinária, costuma dizer o Dr. Yarnell. Se continuamos a exercitá-lo, ele dá um jeito de contornar os problemas.
Assim, quando os médicos lhe disseram que estava pronta, Molei voltou à casa da família.
Houve reveses e frustrações; a decisão mais simples, como usar o andador ou a cadeira de rodas para chegar à sala, podia ser cheia de riscos e estresse. Mas, a cada mês, Molei fazia progressos. E, finalmente, mais uma vez, o cotidiano virou norma: usar o banheiro, dobrar a roupa lavada, usar a bicicleta ergométrica. Enquanto seu corpo revivia, a mente ficou mais aguda, como o Dr. Yarnell tinha previsto.
O maior de todos os passos aconteceu quando Molei foi morar com Jeremy, dezoito meses depois do acidente. A vida que tinham imaginado dividir começava a tomar forma. E, mesmo que não seja a vida que tinham esperado, diz o namorado, o amor que sentem um pelo outro é igualmente profundo – talvez ainda mais.
“Comparo isso a ir para a guerra com alguém”, diz Jeremy. “Passamos por uma situação insondável para os outros. Dividi com ela coisas que nem consigo explicar.”
Hoje, Molei Wright ainda enfrenta alguns desafios.
Seu lado esquerdo ainda é fraco; a mão, insegura; a fusão das vértebras não lhe permite virar o pescoço. O Dr. Yarnell diz que, provavelmente, Molei sempre terá algum déficit cognitivo. Múltiplas tarefas a deixarão cansada. Um emprego estressante talvez nunca seja possível.
Ainda assim, agora ela administra a casa e a própria recuperação. Encontra amigos, troca livros e podcasts com Jeremy e é voluntária para visitar salas de aula e falar com alunos. Está treinando para uma corrida de bicicleta. Pensa numa nova carreira como terapeuta ocupacional.
Ela é a Molei por quem Jeremy se apaixonou, aquela que nunca se conformava com nada que não fosse o melhor. “Simplesmente não dá para desligar essa ambição louca”, diz ele. “Não dá para passar por algo assim e ser a mesma pessoa, mas o núcleo de quem ela é continua o mesmo.”
Em fevereiro passado, dois anos depois que ela e o namorado quase morreram indo para Breckenridge, Molei chegou à cidade.
Com bastões equipados com esquis (outriggers), ela esquiou montanha abaixo, passando pela neve enquanto as árvores voavam e o rosto se corava no ar frio e delicioso.
Ela não era mais uma vítima de acidente. Era apenas Molei Wright, ao sol com o homem que amava, conquistando a montanha onde pretendera esquiar dois anos antes.