Conheça a história de Tenochtitlán, a capital do império asteca, uma das cidades mais ricas e prósperas que o mundo conheceu.
Redação | 5 de Fevereiro de 2019 às 13:00
Os espanhóis que cruzaram o oceano Atlântico no século XVI, após a largada da expansão marítima europeia, alcançaram terras novas e ricas, repletas de tesouros, mistérios e culturas totalmente novas. Naquele século, as descobertas fervilhavam à medida em que as inovadoras tecnologias marítimas eram disseminadas na Europa. Elas possibilitaram aos navegadores irem ainda mais longe e criarem rotas de comércio muito mais lucrativas. Uma delas encontrou no Vale do México, passando pela ilha de Cuba, o vale de Tenochtitlán; uma das cidades mais ricas e prósperas que o mundo conheceu.
O expedicionista espanhol Hernán Cortés ouviu falar das histórias sobre a cidade. Além de rica em pedras e metais preciosos, abundante em alimentos, seus contos permeavam as mentes espanholas ávidas por riqueza. Por isso, Cortés logo organizou uma expedição em direção ao Vale do México. Tenochtitlán ficava posicionada estrategicamente num vale, no coração do império asteca.
O imperador Montezuma II, por sua vez, lidou com os espanhóis como se fossem a chegada profética de uma raça de deuses; pois logo percebeu que, na verdade, eram uma ameaça. Cortés forçou seu avanço a Tenochtitlán recrutando povos subjugados aos astecas. Enfrentou batalhas e um terreno difícil até descer as encostas que circundavam o lago Texcoco. De lá, tinham uma visão maravilhosa de uma cidade sobre ilhas, ligada às margens do lago por pontes levadiças. Era Tenochtitlán.
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“O lugar do cacto”, significado de seu nome, representa o sonho de Huitzilopochtli, o deus da guerra e do sol. O sonho mostrava uma águia pousada em um cacto com uma serpente em seu bico, que indicaria o local de florescimento de seu povo. A ascensão de Tenochtitlán, em 1325 d.C., deu início a um período de culturas agrícolas e de expressões artísticas variadas. Peças esculpidas em ouro e prata e pinturas que revelavam os costumes e as manifestações religiosas tornaram-se símbolos de uma civilização organizada, estruturada como uma cidade-estado. De fato, Tenochtitlán figurava como a capital do império asteca, dada a sua produção e localização territorial. O cultivo e o escoamento de produtos para outras cidades ligadas a ela ao norte e ao sul eram mais fáceis.
Cortés descreveu Tenochtitlán da seguinte forma em uma carta a Carlos V, rei da Espanha:
“Todas as ruas da cidade são abertas de ponta a ponta, de modo que a água flui sem obstáculos através delas. Sobre todas essas vias, algumas das quais muito largas, há pontes sustentadas por traves bem firmes […]. Muitas ruas são ocupadas em parte pelo canal e em parte por um cais.”
As casas astecas eram simples, feitas de adobe e sustentadas por vigas de madeira. Além disso, todas eram voltadas para as ruas e os canais. Dentro delas, costumava haver pátios onde se cultivavam flores e vegetais e se criavam perus. Nesses pátios também havia um espaço reservado para os temazcalli, os banhos de vapor.
A vida religiosa de Tenochtitlán era voltada para a teocalli, a grande pirâmide dupla localizada no centro do vale. Duas escadarias levavam aos altares de Huitzilopochtli, deus da guerra e do sol, e a Tlaloc, deus da chuva e das colheitas. Os deuses de Tenochtitlán revelavam os principais traços de seu povo: bravio e guerreiro, voltados para a cultura e a arte. Porém, eram diplomatas por excelência, e mantinham boas relações com cidades-estado vizinhas. Havia também o culto a outros deuses, como a serpente Quetzalcoátl, deus do vento e da estrela da manhã; Tezcatlipoca, deus do firmamento noturno e protetor dos jovens guerreiros; e Cihuacoatl, a deusa-mãe, também chamada de “mulher-serpente”. O culto aos deuses locais era celebrado em um local chamado coacalco. Mas em outras partes da teocalli eram celebrados sacrifícios humanos e animais em preces, que iam desde o sucesso na colheita até a vitória na guerra.
Tenochtitlán viveu épocas de ouro e glórias até a chegada dos espanhóis. Mas dois anos após sua chegada, a cidade vivenciava sua ruína precoce, qualificada por epidemias de doenças desconhecidas e a violência dos estrangeiros. Enquanto Cortés esteve na cidade, ainda que visto como uma ameaça, passou a manter relações amistosas com Montezuma II. Além de frequentar a corte do imperador, disputava partidas de um jogo próximo ao que conhecemos hoje como o ludo. Espanhóis percorriam livremente as ruas da cidade.
Contudo, a cobiça espanhola enfrentou e destruiu a organização estatal asteca, que, indefesa perante as armas de fogo trazidas pelos espanhóis, viu seu próprio imperador ser subjugado pelo poder de Cortés. Após arruinar a imagem de Montezuma expondo-o ao povo e dissipando a aura divina que o circundava, Cortés fugiu carregando todo o ouro que pôde. Mas em 1521 d.C., meses mais tarde, voltou com um exército maior para saquear e demolir o que restou da cidade. O massacre marcou o fim da civilização asteca, que teve a maior parte dos seus registros perdidos em sua destruição.