A inspiração que motiva os escritores e poetas é tão variável quanto os assuntos que escolhem. E nem todos se preocupam em criar o que se considerariam
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A inspiração que motiva os escritores e poetas é tão variável quanto os assuntos que escolhem. E nem todos se preocupam em criar o que se considerariam “obras de arte”.
Anthony Trollope
Para Trollope, romancista inglês da era vitoriana, ser escritor era um ofício. “Como ser sapateiro”, ele dizia. “Meu objetivo primordial é viver.” Trollope declarou certa vez que queria privilegiar a quantidade e não a qualidade literária de seus escritos. Por isso, habitualmente, escrevia 3.000 palavras antes mesmo do café da manhã.
Entre 1860 e 1870, esta tarefa lhe rendeu mais de 230.000 dólares por ano – uma pequena fortuna –, mas isso não o impedia de fustigar a família e seus editores com cartas repletas de mesquinhos problemas financeiros.
Harold Robbins
Robbins sempre teve jeito para ganhar dinheiro. Em 1936, aos 20 anos, enriqueceu na indústria de alimentos, mas perdeu tudo três anos depois. Seu primeiro romance foi publicado em 1948.
Até 1997, ano de sua morte, ganhava pelo menos meio milhão de dólares por ano com uma produção que a crítica considera “um lixo”, e até mesmo “repugnante”. O que não o impede de vender 30.000 exemplares por dia em todo o mundo. Esse sucesso comercial leva Harold Robbins a considerar-se o “melhor romancista do mundo”, mesmo nunca tendo ganhado algum prêmio literário.
Thomas Wolfe
Certos escritores inspiram-se neles próprios. Thomas Wolfe escreveu um romance autobiográfico de 500.000 palavras que chamou de “apenas um esboço de livro” e, quando seu editor pediu que ele encurtasse para ser mais facilmente vendido, Wolfe adicionou mais páginas.
Apesar da insistência do editor (Max Perkins, um santo!), Wolfe recusou-se a diminuir a obra, e argumentou desdenhosamente que qualquer idiota perceberia que o livro não foi escrito por dinheiro. Conheça um pouco de sua história no filme O Mestre dos Gênios.
John Keats
Excelente exemplos de escritor movido pela inspiração criativa é John Keats. Escrevia seus versos em ilegíveis garranchos e em pequenos pedaços de papel e, depois, escondia-os. Um amigo notou seu estranho comportamento e conseguiu recuperar vários dos seus melhores poemas, incluindo Ode a Um Rouxinol.
Keats, contudo, ansiava ser reconhecido e ficou profundamente ferido com a hostilidade dos críticos. Em 1821, com 25 anos, Keats estava condenado pela tuberculose. Pediu que gravassem na sepultura o seguinte epitáfio: “Aqui jaz um homem cujo nome foi escrito na água.”
“Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que “baixa” no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente”. (Moacyr Scliar)