Histórias de milagres da vida real

Inspire-se com três histórias emocionantes de milagres da vida real.

Redação | 24 de Dezembro de 2018 às 11:00

Sarsmis/iStock -

Nesta temporada de festas, queremos contar estas histórias de milagres – na verdade, dádivas – de assombro, fé e vida eterna.

A igreja que não pegou fogo

Por BILL HANGLEY JR.

A igreja não deveria estar lá, mas, todo domingo, o paroquiano John Mayernick vai assim mesmo. Ele abre a porta que não deveria estar em pé, passa pelos bancos que deveriam ter ardido e sobe a escada até o balcão que deveria ter sido arrasado. Enquanto a luz do sol se derrama pelos vitrais e cintila na moldura dourada dos ícones, ele pega as três cordas e toca os sinos quando a missa começa, e a congregação canta os hinos que ninguém pensou que voltaria a ouvir.

Estamos na igreja da Assunção da Santa Virgem Maria, em Centralia, na Pensilvânia. Em 1962, uma mina subterrânea pegou fogo, e a fumaça e o calor sufocaram lentamente a cidade. Nos cerca de vinte anos seguintes, todos os habitantes, com exceção de cinco, partiram. O governo demoliu a maioria das casas e lojas antes que o fogo as destruísse. Hoje, onde gerações de mineiros formaram família, só há alguns trechos de calçada que não levam a lugar nenhum. Mais de 56 anos depois, o fogo ainda arde embaixo da terra.

Mas, graças a um acidente geológico, a igreja foi poupada das chamas e das pás mecânicas. Sua cúpula azul-celeste ainda se sobressai entre as árvores, e os bancos se enchem de paroquianos aos domingos.

“Há muitos tipos diferentes de milagre”, diz o padre Michael Hutsko. “O tipo instantâneo, o doente que se cura de repente depois de rezar, é fácil de identificar. Mas acontecem outros milagres menos evidentes que talvez a gente nem perceba até chegar a um determinado ponto e dizer ‘eu estava rezando por isso’, e aí entende que a mão de Deus está ali.”

Quando centralia foi fundada, na década de 1840, o milagre desse trecho escarpado dos montes Apalaches era o próprio carvão. Naquela época, o carvão de antracito – pretíssimo, duro como rocha e com queima limpa – era o combustível mais poderoso que se conhecia. Sua descoberta no nordeste da Pensilvânia provocou um tipo de corrida do ouro. Os imigrantes afluíram, e poloneses, húngaros, tchecos e ucranianos encheram cidades mineiras prósperas como Centralia.

Erguida em 1911, a igreja da Assunção era um dos muitos templos católicos ucranianos fundados na região. Os imigrantes de Centralia rezavam na estrutura simples de madeira e construíram à mão as paredes de pedra, como tinham feito durante séculos na terra natal. Cantavam em sua língua. Celebravam a missa católica ucraniana. Rezavam sob suas cruzes de três braços.

A última igreja de pé em Centralia.

Evelyn Mushalko, paroquiana da igreja da Assunção nascida em Centralia em 1944, recorda uma cidade com máquinas de refrigerante e lojas de doces; uma cidade onde os pais trabalhavam duro e não reclamavam disso; uma cidade onde ela andava de trenó no inverno, colhia mirtilos no verão e voltava correndo da escola para casa para assistir a Roy Rogers ou a American Bandstand de Dick Clark no novo televisor preto e branco da família.

“Foi uma época boa para passar a infância”, diz ela. “Era uma boa cidade. As pessoas eram amistosas.”

Então a cidade pegou fogo.

Ninguém sabe com certeza como nem quando o fogo começou em 1961, mas o mais provável é que tenha sido consequência de funcionários da Prefeitura queimarem lixo no depósito local.

No dia seguinte algo ainda ardia – um veio exposto de carvão. A princípio, houve pouca preocupação; esses incêndios são comuns nas regiões carboníferas. Mas o fogo de Centralia se mostrou inexorável, pois se alimentou de outros veios e de longos túneis fechados cheios de vigas de madeira quebradas.

Aos poucos, a terra começou a esquentar e a se abrir. Saía fumaça de rachaduras no chão. Um trecho comprido da Rota 61 se deformou e desmoronou, brilhando rubro à noite. Os habitantes se queixaram de paredes quentes no porão e fumaça venenosa; um morador desmaiou assistindo à TV. Os governos municipal e estadual gastaram milhões tentando apagar o fogo, sem conseguir.

Finalmente, no Dia de São Valentim, 14 de fevereiro de 1981, a terra se abriu no quintal da avó de Todd Domboski, quase engolindo o garoto de 12 anos. O fogo tinha exposto um túnel da mina dezenas de metros abaixo. Ele sobreviveu agarrando-se à raiz de uma árvore até ser puxado para lugar seguro.

Esse foi o começo do fim de Centralia. Em 1984, citando o risco para os cidadãos, autoridades estaduais e federais começaram a comprar as propriedades e ordenaram a evacuação da cidade. As ruas se esvaziaram. Casas foram demolidas. Uma pá mecânica derrubou a igreja católica romana e a metodista.

Mas a igreja da Assunção ficou. O terreno todo estava sobre uma das imensas lajes de arenito que formam a coluna vertebral das montanhas da região. A pedra protegeu a igreja do antracito que ardia embaixo do restante da cidade.

Ao assumir a igreja da Assunção em 2010, o padre Hutsko encontrou um prédio em mau estado e uma pequena congregação com grande necessidade de confiança. Espalhados pela região, os paroquianos iam de carro a Centralia todo domingo e se perguntavam: “Quem mantém uma igreja numa cidade que não existe mais?”

O padre Hutsko. Natural da Pensilvânia, ele conhecia o valor da igreja nas cidades da região carvoeira. O padre e seu rebanho investiram a longo prazo. Demoliram o presbitério abandonado e em ruínas. Consertaram o telhado e a cúpula azul. Acrescentaram revestimento novo às paredes externas para impedir a entrada de vândalos no porão. Eles poliram sua pedra preciosa até que brilhasse.

O padre Hutsko se recusou a abandonar seu rebanho

No fim de 2015, o arcebispo da igreja católica ucraniana – seu patriarca – foi aos Estados Unidos e pediu para visitar a igreja na agora famosa cidade ardente. O arcebispo tinha se encantado porque sua história de sobrevivência lembrava o evangelho de Mateus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Quando entrou na caixinha de joias, com suas pinturas de moldura dourada, os bancos aconchegantes e o santuário ornamentado, o tapete macio e espesso e o aroma de incenso, o arcebispo decidiu transformar a igreja da Assunção num local de peregrinação anual.

“Assim que entramos, ele ficou assombrado”, recorda Hutsko. “E disse: ‘Este é um lugar santo… Tem de ser um lugar que atraia o povo para a oração.’”

Finalmente, a missão da igreja da Assunção estava clara. Ela não seria apenas o refúgio final dos moradores expulsos de uma cidade perdida. Seria um símbolo de esperança para pessoas de fé em toda parte.

“A igreja encontrou seu propósito”, diz Hutsko.

Três anos atrás, na primeira peregrinação anual da igreja da Assunção, centenas se reuniram em seu gramado bem-cuidado, No maior evento em Centralia depois de muito tempo. “Enquanto a igreja estiver aqui, enquanto os sinos tocarem, ela será a voz de Deus chamando-os à Sua presença”, disse o arcebispo aos peregrinos. “Lembrem-se de que Ele não os abandonou, assim como não abandonou o povo desta cidade.”

Sem trânsito na cidade, os artistas ocuparam a rua principal

Mas a peregrinação só acontece uma vez por ano. Nos outros domingos, a situação volta a ser como foi nos últimos 107 anos. Os sinos tocam. O povo de Centralia se reúne com os filhos e netos para cantar e rezar, e, quando a missa acaba, todos se sentam nos bancos, com café e rosquinhas, para conversar.

Dance sem parar

Por NORMAN POWERS

Em meados da década de 2000, meu padrasto, Marlin, comprou uma árvore de Natal que dançava para decorar a casa. Ele faleceu em 2014, e minha irmã, Stacy, herdou a árvore. Stacy ficou noiva do antigo namorado na noite de Ação de Graças. A árvore estava à vista, mas sem pilhas. Naquela mesma noite, com todas as mulheres sentadas conversando, a árvore se acendeu e começou a dançar. Dava para ver o compartimento das pilhas vazio, e a única conclusão que pudemos tirar foi que Marlin enviava sua bênção e dançava de alegria.

A fita cassete de Natal

Por CONNIE OWEN

Em junho de 2003, enterrei meu filho de 26 anos. O Natal seguinte foi o pior da minha vida. Eu estava arrasada, cheia de pesar. Quando acordei cedinho na manhã de Natal, decidi escrever alguns cartões, ainda que atrasados. Fui até a gaveta onde guardava as caixas de cartões. A gaveta só se abriu um pouco; algo a emperrava. A causa do emperramento era uma fita cassete sem rótulo. Eu não fazia ideia do que havia nela nem de como fora parar ali. Pus a fita no gravador e esperei para ouvir o mistério que guardava. Logo ouvi minha voz. Num sussurro, eu dizia: “É manhã de Natal, e Kyle ainda está dormindo.” Kyle acorda e, sonolento, percebe que precisa olhar a árvore. Sua voz infantil cita os brinquedos que ganhou de Papai Noel. As últimas palavras na fita são comoventes e tristes ao mesmo tempo. Kyle, aos 3 anos, diz: “Feliz Natal, mamãe!” Sei que meu filho fez acontecer esse milagre de Natal para que, naquela manhã, eu tivesse um sorriso no coração.

Mensagem de uma sereia

Por MARGO PFEIFF

Rhonda Gill ficouparalisada ao ouvir Desiree, a filha de 4 anos, chorar baixinho na sala naquela manhã de outubro de 1993. Na ponta dos pés, Rhonda foi até a porta. A menina abraçava uma fotografia do pai, que havia morrido nove meses antes. Rhonda, 24 anos, observou Desiree passar os dedos no rosto do pai. “Papai”, disse a menina baixinho, “por que você não volta?”

A estudante universitária miúda sentiu uma pontada de desespero. Fora muito difícil lidar com a morte do marido, Ken Gill, mas era impossível aguentar o pesar da filha.

Ken e Rhonda, de Yuba City, Califórnia, se conheceram quando Rhonda tinha 18 anos e se casaram depois de um namoro meteórico. Desiree nasceu em 9 de janeiro de 1989. Ken era um homem gentil, amado por todos. Sua grande paixão era a filha. “Ela é a filhinha do papai”, costumava dizer Rhonda, e os olhos de Ken brilhavam de orgulho. Pai e filha iam a todos os lugares juntos: caminhavam, andavam de bugre pelas dunas e pescavam no Rio Feather.

Em vez de se ajustar aos poucos à morte do pai, Desiree não a aceitava. “Papai volta logo”, dizia à mãe. “Ele está trabalhando.” Quando brincava com seu telefone de plástico, ela fingia conversar com ele. “Estou com saudades, pai”, dizia. “Quando você volta?”

Depois da morte de Ken, Rhonda se mudou de Yuba City para a casa da mãe na vizinha Live Oak. Sete semanas depois do funeral, Desiree ainda estava inconsolável. “Não sei o que fazer”, disse Rhonda à mãe, Trish Moore, auxiliar médica de 47 anos.

Como último recurso, Trish levou Desiree para visitar o túmulo de Ken, na esperança de que isso a ajudasse a aceitar a morte do pai. A criança pousou a cabeça na lápide e disse: “Se eu prestar bastante atenção, talvez dê para ouvir papai falando comigo.”

Uma noite, quando Rhonda punha a filha para dormir, Desiree disse: “Quero morrer, mamãe, para ficar com papai.” Deus me ajude, rezou Rhonda. O que mais posso fazer?

Oito de novembro de 1993 seria o 29º aniversário de Ken.
– Como vou lhe mandar um cartão? – perguntou Desiree à avó.
– Que tal amarrarmos uma carta num balão – disse Trish –, e mandá-la para o céu?
Os olhos da menina brilharam na mesma hora.
A caminho do cemitério, o banco de trás do carro cheio de flores para a visita ao túmulo, as três pararam numa loja.
– Ajude mamãe a escolher um balão – sugeriu Trish.
Numa estante onde se balançavam dezenas de balões cheios, Desiree tomou uma decisão instantânea:
– Aquele!

Nele se lia FELIZ ANIVERSÁRIO acima de um desenho de Ariel, do filme A pequena sereia, ao qual Desiree e o pai tinham assistido muitas vezes.

Os olhos da menina brilhavam enquanto elas arrumavam as flores no túmulo. Fazia um dia bonito, com uma brisa passando pelos eucaliptos. Então Desiree ditou uma carta ao pai.
– Diga a ele: “Feliz aniversário! Amo você e estou com saudades. Espero que receba esta carta e escreva para mim em meu aniversário, em janeiro.”
Trish escreveu a mensagem e seu endereço numa folha de papel, que foi embalada em plástico e amarrada à ponta da corda do balão. Finalmente, Desiree o soltou. Durante quase uma hora, elas observaram o brilhante pontinho prateado ir diminuindo.
– Muito bem – disse Trish afinal. – Hora de ir para casa.
Rhonda e Trish começavam a se afastar do túmulo quando ouviram Desiree dar um grito empolgado:
– Vocês viram? Papai estendeu a mão e pegou! – O balão, visível momentos antes, tinha sumido. – Agora papai vai me escrever – declarou Desiree.

Numa manhã fria de novembro, na Ilha do Príncipe Eduardo, província no leste do Canadá, Wade MacKinnon, 32 anos, pegou o equipamento de caçar patos e entrou na picape. Guarda-florestal, Wade morava com a mulher e os três filhos em Mermaid (“Sereia”), comunidade rural a leste de Charlottetown. Ele foi até o Lago Mermaid, a três quilômetros de casa, caminhou entre os pinheiros e abetos e chegou a um charco. Nos arbustos à beira d’água, algo se mexeu e atraiu sua atenção. Curioso, ele se aproximou e encontrou um balão prateado preso nos galhos de um arbusto. Impressa num dos lados havia a figura de uma sereia.

Quando soltou a cordinha, ele encontrou na ponta um papel encharcado embrulhado em plástico.

Em casa, Wade removeu com cuidado o bilhete molhado e o deixou secar. Mais tarde, sua mulher, Donna MacKinnon, chegou.
– Veja isso – disse ele e lhe mostrou o balão e o bilhete. Curiosa, ela leu:
– “Oito de novembro de 1993. Feliz aniversário, papai…” – Terminava com um endereço em Live Oak, Califórnia.
– Mas hoje é 12 de novembro – exclamou Wade. – Esse balão viajou quase cinco mil quilômetros em quatro dias!
– E veja só – disse Donna. – É um balão da Pequena Sereia que veio parar no Lago Sereia…
– Temos de escrever a Desiree – disse Wade. – Talvez tenhamos sido escolhidos para ajudar essa menininha.
Mas a mulher não pensava da mesma forma. Com lágrimas nos olhos, Donna largou o balão.
– Uma menina tão pequena tendo de lidar com a morte… é horrível!

Wade colocou o bilhete numa gaveta e amarrou o balão à grade da varanda. No entanto, o balão incomodava Donna, e, alguns dias depois, ela o guardou num armário. Com o passar das semanas, Donna percebeu que pensava cada vez mais no balão. Ele sobrevoara as Montanhas Rochosas e os Grandes Lagos. Mais alguns quilômetros e teria caído no oceano. Em vez disso, parara ali, em Mermaid.

Nossos três filhos têm muita sorte, pensou ela. E se perguntou como a filha Hailey, com quase 2 anos, se sentiria se Wade morresse. Na manhã seguinte, Donna disse ao marido: “Você tem razão. Temos de ajudar Desiree.”

Numa livraria de Charlottetown, Donna comprou uma adaptação de A pequena sereia. Alguns dias depois do Natal, Wade trouxe um cartão que dizia: “Para uma filha querida, muito amor em seu aniversário.” Donna se sentou para escrever uma carta a Desiree. Quando terminou, pôs o cartão no mesmo envelope, embrulhou junto com o livro e, em 3 de janeiro de 1994, remeteu o presente.

O quinto aniversário de Desiree, em 9 de janeiro, passou. Desde que tinham soltado o balão, a menina perguntava todos os dias a Rhonda: “Acha que papai já recebeu meu balão?” Depois do aniversário, ela parou de perguntar.

Desiree e a avó, Trish, num dia de Natal na década de 1990.

No fim da tarde de 19 de janeiro, o pacote dos MacKinnons chegou. Trish, que estava preparando o jantar, olhou o remetente e supôs que fosse um presente para Desiree de alguém da família de Ken. Rhonda e Desiree tinham se mudado de volta para Yuba City, e Trish decidiu que entregaria o presente a Rhonda no dia seguinte.

Mas, enquanto assistia à televisão naquela noite, não parava de pensar: por que alguém enviaria um pacote para a neta em seu endereço? Então abriu o pacote e encontrou o cartão. “Para uma filha querida…” Seu coração disparou. Meu Deus!, pensou, e pegou o telefone. Já passava da meia-noite, mas ela precisava ligar para a filha.

Quando Trish, os olhos vermelhos de tanto chorar, parou diante da casa de Rhonda, às 6h45 da manhã seguinte, a filha e a neta já estavam acordadas. Rhonda e Trish sentaram Desiree entre as duas no sofá. Trish disse:

– Desiree, é para você – e lhe entregou o pacote. – Veio do seu pai.
– Eu sei – disse Desiree sem se abalar. – Vovó, leia para mim.
– “Feliz aniversário de seu pai” – começou Trish. – “Acho que você deve estar se perguntando quem somos. Bem, tudo começou em novembro, quando meu marido Wade foi caçar patos. Adivinhe o que ele achou? O balão de sereia que você mandou para seu pai…” – Trish fez uma pausa. Uma lágrima começou a escorrer pelo rosto de Desiree. – “Não há lojas no céu, e seu pai queria que alguém comprasse o seu presente. Acho que ele nos escolheu porque moramos numa cidade que tem o nome de Sereia.” – Trish continuou a ler. – “Sei que seu pai quer que você seja feliz e não fique triste. Ele a ama muito e sempre cuidará de você. Muito amor, família MacKinnon.”

Quando terminou, Trish olhou para Desiree.
– Eu sabia que papai daria um jeito de não esquecer de mim – disse a menina.
Limpando as lágrimas, Trish começou a ler o livro que os MacKinnons tinham mandado. A história era diferente da que Ken lera tantas vezes para a filha. Naquela versão, a Pequena Sereia vive feliz para sempre com o príncipe. Nessa, ela morre, porque a bruxa má tirou sua cauda. Três anjos a levam embora.

Quando terminou de ler, Trish teve medo de que o final abalasse a neta. Mas Desiree exclamou com alegria.
– Ela vai para o céu! – gritou. – Por isso que papai me mandou este livro. Porque a sereia vai para o céu igual a ele!
Em meados de fevereiro, os MacKinnons receberam uma carta de Rhonda: “Em 19 de janeiro, o sonho de minha filhinha se realizou quando seu pacote chegou.”
Nas semanas seguintes, os MacKinnons e as Gills trocaram telefonemas. Então, em março, Rhonda, Trish e Desiree viajaram 4.800 quilômetros de avião para conhecer os MacKinnons. Quando as duas famílias caminharam pela floresta para ver o local onde Wade encontrara o balão, Rhonda e Desiree ficaram em silêncio. Era como se Ken estivesse ali com elas.

Nos meses que se seguiram, sempre que queria falar sobre o pai, Desiree ligava para os MacKinnons. Alguns minutos ao telefone eram suficientes para acalmá-la. “As pessoas me dizem: ‘Que coincidência seu balão de sereia cair tão longe, num lago chamado Sereia’”, diz Rhonda. “Mas sabemos que Ken escolheu os MacKinnons para enviar seu amor a Desiree. Agora ela entende que o pai está sempre com ela.”

A chave mágica

Por EVELYN PAINE

O ano era 1956. Meu primeiro marido, eu e Pam, nossa filhinha de 9 meses, nos mudamos de Saint Louis para Fort Worth, no Texas. Ele arranjara emprego lá, e sua família também morava perto. Achamos um lindo apartamento e nos instalamos. Numa manhã gelada, tive de ir à lavanderia automática. Liguei o motor de nosso Chevy 1953 para aquecer o veículo e coloquei Pam na cadeirinha, que na época ficava no banco da frente. Tranquei a porta do carro. Então eu pus o cesto de roupa suja no banco de trás e tranquei a outra porta. De repente, percebi que tinha trancado as chaves e minha filha no carro e ficara no lado de fora. Entrei em pânico.

Os vizinhos já tinham saído para trabalhar, e naquela época não havia celular. Olhei a rua e vi uma picape Ford vermelha vindo em minha direção. O motorista parou quando me viu gritando e agitando as mãos. O homem no banco do passageiro desceu e disse: “Tenho um carro igualzinho ao seu. Vamos ver se minha chave abre a porta.” Abriu! Já contei a muita gente que, em outubro de 1956, Deus pegou carona numa picape Ford vermelha.

O toque da vida

Por JULIANA LABIANCA

Em 25 de março de 2010, Kate e David Ogg ouviram as palavras que todo pai e mãe temem. Seu recém-nascido não sobreviveria. Os gêmeos, um menino e uma menina, nasceram com dois minutos de diferença e 14 semanas antes do tempo, cada um pesando pouco mais de um quilo. Os médicos passaram 20 minutos tentando salvar o menino, mas não viam melhora. O coração quase não batia mais, e ele parara de respirar. O bebê só tinha momentos de vida.

“Eu vi que ele arfava, mas o médico disse que não adiantava”, contou Kate ao Daily Mail cinco anos depois. “Se ele ainda arfava, isso era um sinal de vida. Eu não desistiria tão facilmente.”

Ainda assim, o casal de Sydney sabia que era provável que esse fosse um adeus. Na tentativa de aproveitar os minutos com o bebê, Kate pediu para pegá-lo no colo. “Eu queria conhecê-lo e queria que ele nos conhecesse”, disse Kate ao programa de TV Today. “Tínhamos nos resignado com o fato de que o  perderíamos e queríamos aproveitar ao máximo aqueles preciosos momentos.”

Kate tirou da manta do hospital o menino, que o casal já chamava de Jamie, e pediu a David que despisse a camisa e se juntasse a eles na cama. Os pais de primeira viagem queriam que o filho se sentisse bem aquecido e esperavam que o contato pele a pele melhorasse seu estado. Também conversaram com ele. “Estávamos tentando incentivá-lo a ficar”, disse Kate ao Daily Mail. “Dissemos seu nome e que ele tinha uma irmã gêmea para cuidar e que nos esforçamos muito para tê-lo.”

Então algo milagroso aconteceu. Jamie arfou de novo – e começou a respirar. Estendeu a mãozinha e pegou o dedo do pai. O filho perdido do casal sobrevivera. “Somos as pessoas mais sortudas do mundo”, disse David ao programa Today.

Emily (à esquerda), Kate (centro) e Jamie

Oito anos depois, Jamie e a irmã Emily são felizes e saudáveis. Só recentemente os Oggs contaram aos filhos a história de seu nascimento. “Emily começou a chorar”, disse Kate. “Ela ficou muito nervosa e não parava de abraçar o irmão. Toda essa experiência nos faz amá-los ainda mais.”