Conheça a emocionante história de um grupo de heróis que, num dia gélido de inverno, se uniu para salvar três crianças.
Redação | 8 de Maio de 2019 às 20:20
Os 50 quilômetros de caminhos em zigue-zague que serpenteiam pelas montanhas de Logan Canyon, no estado americano de Utah, bastam para assustar a maioria dos motoristas. Mas Roger Andersen, 46 anos, não esperava ter problemas na estrada, e muito menos precisar da ajuda de heróis, ao partir num passeio de esqui com a filha Mia, 9 anos, o filho Baylor, 4, e a vizinha Kenya Wildman, 9. Nos últimos anos, Andersen já passara centenas de vezes pelo desfiladeiro.
O tempo estava maravilhoso para descer as encostas: -10ºC e sol. Mas, quanto mais eles subiam, mais escorregadio ficava o caminho. Depois de uma curva fechada, Andersen viu uma van que derrapara para fora da estrada e, instintivamente, pisou no freio. Num segundo, o Honda Accord também derrapou, a 40 km/h, na direção da beira da estrada e depois guinou para um barranco íngreme de uns três metros rumo ao gelado Rio Logan. Ao cair na água, o carro se inclinou para o lado do banco do carona, parou alguns instantes, completou a capotagem e afundou.
Não houve tempo de dizer às crianças o que fazer. O choque quebrara algumas janelas e, em segundos, o interior do carro capotado se encheu de água.
Desorientado, Andersen começou a procurar as crianças na água gelada. Mia estivera sentada ao lado dele no banco da frente; agora, na escuridão, não conseguiu encontrá-la. Andersen se soltou do cinto de segurança, saiu nadando por uma janela quebrada e encheu o peito de ar na superfície. Foi quando viu um grupo de homens, cerca de dez, surgir à margem do rio. Um após outro, eles correram e entraram na água, gritando: “Tem mais alguém no carro?!”
Na frente vinha Chris Willden, ex-policial, 35 anos, que teve um acesso de pânico ao ver o carro derrapar. Dois anos antes, ele havia caído no Rio Logan quase no mesmo lugar.
Andersen berrou: “Meus filhos estão no carro!” O rio tinha apenas pouco mais de um metro de profundidade perto da margem, mas as portas do Accord estavam trancadas, com as janelas submersas; era impossível abri-las. Willden, que, como guarda-costas, aprendera a atirar debaixo d’água, disse a Andersen que ia dar um tiro na janela de trás do lado do passageiro, onde antes estava Kenya. Como Andersen não fez objeção, Willden puxou a arma que sempre leva consigo, mirou cuidadosamente e atirou. O vidro se estilhaçou. Willden enfiou o braço e tateou atrás de braços, pernas, roupas, cabelo. Nada.
Andersen berrou: “Temos de desvirar o carro!” Mesmo com um grupo tão grande, a ideia de desvirar o Sedã de uma tonelada e meia cheio de água soou absurda.
Espantosamente, o carro começou a se elevar e Willden se viu fitando os olhos apavorados de Kenya, a vizinha dos Andersen, que conseguira encontrar um bolsão de ar no banco de trás. Com seu canivete, Willden cortou o cinto de segurança da menina e a puxou pela janela quebrada.
Na frente, Mia estava com a pele azulada e flutuava com o rosto para baixo. Ben Belnap, psicólogo escolar, 31 anos, soltou o corpo inerte da menina e correu com ela para a margem. O pequeno Baylor estava escondido sob a água escura que enchia o lado ainda submerso do carro.
Com esforço, os salvadores deram um último e sobre-humano empurrão. Durante um momento angustiante, o Accord cambaleou precariamente para, em seguida, cair de barriga com um estrondo. Com o carro na posição correta, os homens conseguiram ver Baylor preso à cadeirinha, os olhos virados.
Morgan Carlson, quiroprático, 56 anos, fez compressões peitorais no menino e usou o canivete de Willden para libertá-lo do assento.
Deitados à beira da estrada, Baylor e Mia estavam inconscientes. Quando ergueu Mia, Belnap se recorda de ter pensado: “Estou tirando um cadáver deste carro. Ela estava tão mole, tão azulada…” Mas, antes que alguém começasse a reanimação cardiopulmonar, Mia tossiu, expelindo água, e piscou para os estranhos que a cercavam. Baylor não tinha pulso. Então um homem o espremeu num movimento parecido com a manobra de Heimlich, e o menino começou a tossir e chorar. Todos deram vivas.
Nas semanas seguintes, enquanto Mia, Baylor e Kenya se recuperavam, Andersen quis agradecer aos heróis das crianças. Ficou embasbacado ao descobrir que o grupo incluía o integrante de uma equipe de busca e resgate, um mergulhador aposentado da Marinha, um terapeuta respiratório que soube como ajudar as crianças a permanecerem vivas, um quiroprático com treinamento em reanimação cardiorespiratória e, é claro, o ex-policial Willden, cujos treino e equipamento tinham sido fundamentais para libertar as crianças rapidamente.
“É inacreditável que houvesse ali tantos heróis que sabiam como agir e o que fazer”, diz Andersen. “Muita gente me pergunta: ‘Acha que foi um milagre?’ E sempre respondo: ‘Acho que foram muitos.’