Conheça a emocionante história de um grupo de heróis que, num dia gélido de inverno, se uniu para salvar três crianças.
Os 50 quilômetros de caminhos em zigue-zague que serpenteiam pelas montanhas de Logan Canyon, no estado americano de Utah, bastam para assustar a maioria dos motoristas. Mas Roger Andersen, 46 anos, não esperava ter problemas na estrada, e muito menos precisar da ajuda de heróis, ao partir num passeio de esqui com a filha Mia, 9 anos, o filho Baylor, 4, e a vizinha Kenya Wildman, 9. Nos últimos anos, Andersen já passara centenas de vezes pelo desfiladeiro.
“Esquiamos naquela área pelo menos 20 vezes por ano”, diz ele. “Conheço os lugares onde há mais gelo no inverno.”
O tempo estava maravilhoso para descer as encostas: -10ºC e sol. Mas, quanto mais eles subiam, mais escorregadio ficava o caminho. Depois de uma curva fechada, Andersen viu uma van que derrapara para fora da estrada e, instintivamente, pisou no freio. Num segundo, o Honda Accord também derrapou, a 40 km/h, na direção da beira da estrada e depois guinou para um barranco íngreme de uns três metros rumo ao gelado Rio Logan. Ao cair na água, o carro se inclinou para o lado do banco do carona, parou alguns instantes, completou a capotagem e afundou.
“Foi assustadora a velocidade com que ficamos submersos”, recorda Andersen.
Não houve tempo de dizer às crianças o que fazer. O choque quebrara algumas janelas e, em segundos, o interior do carro capotado se encheu de água.
Desorientado, Andersen começou a procurar as crianças na água gelada. Mia estivera sentada ao lado dele no banco da frente; agora, na escuridão, não conseguiu encontrá-la. Andersen se soltou do cinto de segurança, saiu nadando por uma janela quebrada e encheu o peito de ar na superfície. Foi quando viu um grupo de homens, cerca de dez, surgir à margem do rio. Um após outro, eles correram e entraram na água, gritando: “Tem mais alguém no carro?!”
Na frente vinha Chris Willden, ex-policial, 35 anos, que teve um acesso de pânico ao ver o carro derrapar. Dois anos antes, ele havia caído no Rio Logan quase no mesmo lugar.
Andersen berrou: “Meus filhos estão no carro!” O rio tinha apenas pouco mais de um metro de profundidade perto da margem, mas as portas do Accord estavam trancadas, com as janelas submersas; era impossível abri-las. Willden, que, como guarda-costas, aprendera a atirar debaixo d’água, disse a Andersen que ia dar um tiro na janela de trás do lado do passageiro, onde antes estava Kenya. Como Andersen não fez objeção, Willden puxou a arma que sempre leva consigo, mirou cuidadosamente e atirou. O vidro se estilhaçou. Willden enfiou o braço e tateou atrás de braços, pernas, roupas, cabelo. Nada.
Andersen berrou: “Temos de desvirar o carro!” Mesmo com um grupo tão grande, a ideia de desvirar o Sedã de uma tonelada e meia cheio de água soou absurda.
“Pensei: Não há como”, admite Willden. “Mas contamos até três e empurramos.”
Espantosamente, o carro começou a se elevar e Willden se viu fitando os olhos apavorados de Kenya, a vizinha dos Andersen, que conseguira encontrar um bolsão de ar no banco de trás. Com seu canivete, Willden cortou o cinto de segurança da menina e a puxou pela janela quebrada.
Na frente, Mia estava com a pele azulada e flutuava com o rosto para baixo. Ben Belnap, psicólogo escolar, 31 anos, soltou o corpo inerte da menina e correu com ela para a margem. O pequeno Baylor estava escondido sob a água escura que enchia o lado ainda submerso do carro.
“Há mais uma criança!”, alertou Andersen. “Temos de desvirar o carro!”
Com esforço, os salvadores deram um último e sobre-humano empurrão. Durante um momento angustiante, o Accord cambaleou precariamente para, em seguida, cair de barriga com um estrondo. Com o carro na posição correta, os homens conseguiram ver Baylor preso à cadeirinha, os olhos virados.
Morgan Carlson, quiroprático, 56 anos, fez compressões peitorais no menino e usou o canivete de Willden para libertá-lo do assento.
Deitados à beira da estrada, Baylor e Mia estavam inconscientes. Quando ergueu Mia, Belnap se recorda de ter pensado: “Estou tirando um cadáver deste carro. Ela estava tão mole, tão azulada…” Mas, antes que alguém começasse a reanimação cardiopulmonar, Mia tossiu, expelindo água, e piscou para os estranhos que a cercavam. Baylor não tinha pulso. Então um homem o espremeu num movimento parecido com a manobra de Heimlich, e o menino começou a tossir e chorar. Todos deram vivas.
Nas semanas seguintes, enquanto Mia, Baylor e Kenya se recuperavam, Andersen quis agradecer aos heróis das crianças. Ficou embasbacado ao descobrir que o grupo incluía o integrante de uma equipe de busca e resgate, um mergulhador aposentado da Marinha, um terapeuta respiratório que soube como ajudar as crianças a permanecerem vivas, um quiroprático com treinamento em reanimação cardiorespiratória e, é claro, o ex-policial Willden, cujos treino e equipamento tinham sido fundamentais para libertar as crianças rapidamente.
“É inacreditável que houvesse ali tantos heróis que sabiam como agir e o que fazer”, diz Andersen. “Muita gente me pergunta: ‘Acha que foi um milagre?’ E sempre respondo: ‘Acho que foram muitos.’