Num belo dia, um dos meninos apareceu com um filhote de gato. Era um gatinho preto e branco muito assustado, que miava o tempo todo e queria mamar.
Meus quatro filhos sempre foram apaixonados por animais de estimação. Tiveram cachorros, gato, porquinhos-da-índia e até pintinhos! Como a diferença de idade entre eles é de dois anos, em média, passaram a infância curtindo os mesmos interesses. Quando estavam na faculdade, foi a vez de adotar gatos. Por azar, sempre acontecia uma “tragédia”: desaparecimentos, atropelamentos, ataques mortais…
Num belo dia, um dos meninos apareceu com um filhote. Presente de um amigo. Era um gatinho preto e branco muito assustado, que miava o tempo todo e queria mamar. Esse filhote, para mim, ganhou um nome um tanto impróprio: Mário!
Nem prestei muita atenção no gato. Não queria me afeiçoar demais, temendo uma perda. No entanto, ele cresceu. Meu marido nunca permitiu animais dentro de casa, por isso Mário tinha seu espaço na varanda dos fundos e no quintal. Ia levando sua vidinha de gato bem feliz, esbanjando esperteza, equilíbrio e rapidez. Predador por natureza, nunca deixou passarinhos roubarem sua ração. Se fosse mais domesticável, seria a sensação em espetáculos circenses ou um ótimo ajudante de caçador.
Mas logo os hormônios começaram a circular nas suas veias e, então, as excursões noturnas tornaram-se extremamente atrativas. Travava batalhas homéricas com seu arqui-inimigo, Amarelão, gato com o dobro de seu tamanho. Mário sumia por uns dias e voltava todo arranhado, mordido e até com uma unha encravada na cabeça!
Certa vez ele sumiu por um mês. Já estávamos apreensivos, mas ele voltou – muito mal. Tinha febre e dificuldade para respirar. A veterinária o atendeu ali mesmo em cima da máquina de lavar roupas. De imediato, uma injeção e, na sequência, antibióticos via oral que ministrei a conta-gotas. Mário se salvou.
Eu e as filhas quisemos castrá-lo, mas os meninos foram terminantemente contra. Para eles aquilo era uma mutilação devastadora, inaceitável para um macho. Até parece que seriam eles os castrados.
Por isso, Mário continuou aprontando. E então, sumiu de novo. O retorno se deu quatro meses depois. Desta vez, ele tinha diarréia. Foi submetido a exames. Conseguiu salvar-se novamente.
Quando os meninos já estavam formados, emancipados e morando longe, castrei Mário. “Agora chega de farra!”. Assim, eu tinha um gato sossegado e caseiro. Mas igualmente amoroso e feliz.
Por Neiva Galvão