Em plena pandemia, empresas de diferentes setores dão show de empatia e solidariedade, criando as mais diversas ações sociais.
Solidariedade. Substantivo feminino. Para o Dicionário Houaiss, “estado ou condição de duas ou mais pessoas que dividem igualmente entre si as responsabilidades de uma ação”.Já o Dicionário Michaelis define como “sentimento de amor ou compaixão pelos necessitados ou injustiçados, que impele o indivíduo a prestar-lhes ajuda moral ou material”.
Não importa a definição. O que importa é: nunca fomos tão solidários. Não acredita? Traduzindo em números, o Brasil já arrecadou, desde o início da pandemia, em março, R$ 6,3 bilhões em doações de empresas e campanhas para ajudar no combate à Covid-19 e para socorrer as populações mais atingidas. Os dados são do Monitor das Doações, da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR).
Boa parte desses recursos vem do setor financeiro (29%), que conta com a participação de bancos como o Bradesco. Um dos projetos realizados pela Bradesco Seguros em prol do combate à pandemia do novo coronavírus foi a plataforma Com Você. Desenvolvida pela agência AlmapBBDO, apresenta dicas e orientações dadas por influenciadores digitais e especialistas nas mais diversas áreas, como saúde, finanças e entretenimento. A plataforma faz parte da campanha Com Você. Sempre, que reforça a presença da marca em todos os momentos da vida de seus segurados.
A seguradora também lançou os filmes Fascinação e Décadas, criados especialmente para a Bradesco Saúde, uma das empresas do grupo. “As campanhas foram desenvolvidas para prestar uma merecida homenagem aos profissionais da saúde”, afirma Alexandre Nogueira, diretor de Marketing do Grupo Bradesco Seguros, “destacando a inspiração que eles promovem principalmente para as novas gerações.”
Não parou por aí
Em parceria com outras empresas do setor privado, a Bradesco Seguros participou da construção de um hospital de campanha com 200 leitos, 100 deles de UTI, no Rio de Janeiro para atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e colaborou com a ampliação da capacidade de processamento de exames para diagnóstico da Covid-19 em profissionais de saúde do Estado de São Paulo. “Neste momento de pandemia, as iniciativas de solidariedade ajudam a minimizar os danos causados por esse cenário de fragilidade”, complementa Alexandre.
E se uma fábrica de tintas, em vez de esmaltes, resinas e solventes, entre outros produtos de pintura, produzisse álcool em gel? Uma das iniciativas tomadas pelas tintas Suvinil foi adaptar suas fábricas para a produção de álcool em gel. A empresa distribuiu 12 toneladas do produto em unidades do SUS de cinco cidades: São Bernardo do Campo, Jacareí e Guaratinguetá (SP), Camaçari (BA) e Jaboatão dos Guararapes (PE). “Indústrias como a nossa têm papel essencial neste momento”, garante Eduardo Fernandes de Castro, gerente sênior de Marketing da Suvinil. “Ainda que o álcool em gel não faça parte do nosso portfólio, contribuímos com a produção de insumos necessários para combater a Covid-19.”
Não bastasse, a Suvinil criou, ainda, a plataforma Pintar o Bem, que apoiou 1,9 mil pintores e pintoras e beneficiou, indiretamente, 5 mil pessoas; distribuiu 600 kits de higiene, compostos por um totem com álcool em gel e 30 máscaras, nos pontos de venda com maior fluxo de pessoas, e promoveu a campanha Suvinil na sua Casa, com conteúdo voltado aos diferentes setores do mercado de tintas, como lojistas, fornecedores e clientes. “O momento é de colaboração. Cada empresa colabora com sua expertise ou suas possibilidades”, explica Eduardo. “Queremos, através do nosso trabalho, ajudar a transformar a sociedade.”
Cooperação e empatia
O segundo setor responsável pelo volume de doações, de acordo com o Monitor das Doações, da ABCR, é o de alimentos e bebidas (12%). Entre outras ações, a Nestlé doou mais de 800 toneladas de alimentos, bebidas e petfood para comunidades carentes e ONGs de proteção aos animais. Em parceria com a Cruz Vermelha, distribuiu mais de 350 mil equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas, toucas e aventais, para profissionais e instituições de saúde, e mais de 470 mil máscaras para prefeituras de 15 cidades. “Foram cerca de R$ 55 milhões em doações e apoio financeiro”, contabiliza Frank Pflaumer, vice-presidente de Marketing e Comunicação da Nestlé Brasil. “Mais de 2,5 milhões de pessoas impactadas.”
A empresa entregou ainda 24 toneladas em cestas básicas para mais de 2,5 mil famílias que fazem parte de 30 cooperativas de coleta e reciclagem, e mil kits com refeições para catadores de São Paulo. Os pequenos empresários e os microempreendedores também não foram esquecidos. Pensando neles, ações foram criadas, como o Movimento Nós, que, em parceria com outras empresas do setor, investiu R$ 370 milhões na retomada de 300 mil pequenos varejistas, como bares, lanchonetes e padarias; e plataformas expandidas, como o Apoie um Restaurante, que beneficiou mais de 600 estabelecimentos comerciais. Somadas todas as ações, a Nestlé doou mais de 100 toneladas de alimentos e impactou mais de 3,5 mil famílias.
“Já tínhamos identificado, mesmo antes da pandemia, a forte tendência de as pessoas buscarem saber o que está por trás dos produtos que compram”, observa Frank. “Os consumidores estão valorizando marcas que foram fiéis aos seus propósitos e apoiaram a sociedade neste momento tão difícil.”
A Coca-Cola também não economizou na hora de combater os efeitos da pandemia sobre as populações mais afetadas pela desigualdade social e informalidade de emprego. Destinou R$ 45 milhões à criação de um fundo para apoiar 3 milhões de moradores de 70 comunidades carentes de 14 estados e do Distrito Federal e garantir, por dois meses, renda mínima de R$ 600 para 11 mil catadores de material reciclável, autônomos ou que trabalham em 230 cooperativas de 21 estados. “No momento grave que vivemos, acreditamos em decisões baseadas em empatia e solidariedade, e na força da atuação conjunta para fazer a diferença”, explica Andréa Mota, diretora de comunicação e sustentabilidade da Coca-Cola Brasil.
A ONG Gastromotiva, com apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, que destinou R$ 1 milhão para o projeto, distribuiu mais de 180 mil refeições em comunidades vulneráveis do Rio, São Paulo e Curitiba. Em parceria com seus engarrafadores, a Coca-Cola doou 2,3 milhões de garrafas de água mineral para 85 hospitais de campanha e de referência em todo o Brasil. “A chegada da pandemia trouxe desafios urgentes e deixou evidente a relevância de nosso papel transformador na sociedade. Em momentos de crise, precisamos estar prontos para agir rápido”, completa Andréa.
Quem também doou refeições durante a pandemia foi o iFood. Foram R$ 674 mil, o que permitiu alimentar 75 mil pessoas. As ações solidárias do aplicativo incluem, também, a doação de 885 toneladas em cestas básicas para 88 mil famílias e R$ 100 mil em vales-refeições para mil famílias. “No total, já foram doados mais de R$ 4,3 milhões, que geraram cerca de mil toneladas de alimentos”, calcula Luciana Vaz, head
de soluções sustentáveis do iFood.
Entre outras iniciativas, a empresa destinou parte das doações ao projeto Vencendo Juntos, coordenado por atletas e apoiado pela UNESCO; e criou o movimento Todos à Mesa, que, com
o apoio de outras empresas, beneficia restaurantes, entregadores e população em geral. Para donos de restaurantes, investiu R$ 170 milhões e disponibilizou curso gratuito de apoio à gestão em tempos de Covid-19, com dicas de marketing, finanças e comportamento. Para os entregadores, destinou R$ 33 milhões em iniciativas de apoio, e criou módulo de capacitação on-line, voltado tanto para o dia a dia do profissional quanto para o desenvolvimento de habilidades pessoais.
Os entregadores ganharam, ainda, dois fundos: um que dá suporte àqueles que, por motivo de saúde, precisaram cumprir a quarentena em casa e outro que apoia os que têm mais de 65 anos ou fazem parte do grupo de risco. Ao todo, foram distribuídos mais de 1,6 milhão de EPIs. “Estamos preocupados com nosso ecossistema e atentos às necessidades de cada parte dele. Mantemos o distanciamento social ao permitir que milhões de brasileiros comprem suas refeições sem precisar sair de casa”, valoriza Luciana.
Por um mundo melhor
Outros setores também fizeram a sua parte. A Natura, por exemplo, procurou atuar em três frentes: cuidar das pessoas, barrar o contágio e manter a economia circulando. No cuidado às pessoas, redirecionou suas fábricas para a produção de itens essenciais, como sabonete e álcool em gel, ampliou a oferta de serviços de telemedicina e apoio psicológico para seus colaboradores e reforçou ações contra violência doméstica para suas consultoras.
Ao todo, a Natura doou 3,9 milhões de sabonetes, 240 toneladas de álcool em gel e 74 mil outros produtos. E estima que tenha impactado a vida de mais de um milhão de pessoas. “Acreditamos na relação empática entre o indivíduo e o mundo à sua volta. Em tempos de pandemia, é essencial que todos – empresas, governos e organizações civis – façam sua parte. Só assim, engajando ainda mais atores, podemos sair mais rapidamente dessa”, afirma Maria Paula Fonseca, diretora de marca.
A plataforma digital das Lojas Americanas também deu sua importante contribuição. Reforçando seu papel social, doou mais de R$ 62 milhões para a construção de um hospital de campanha e para o transporte de equipamentos de proteção, entre outras iniciativas. Além disso, implementou, em tempo recorde, uma série de inovações, com o objetivo de revolucionar o e-commmerce. No momento em que o cliente mais precisava de conforto e segurança para fazer suas compras sem sair de casa, criou a Marketplace Local. Ou seja, os lojistas se cadastram pelo site ou aplicativo e entregam o pedido em até duas horas.
O objetivo é beneficiar os empreendedores de micro e pequeno porte, que poderão realizar entregas nos arredores de sua loja física e, assim, fidelizar os clientes. “O cenário desafiador deste ano, além de trazer enormes aprendizados, nos motivou a ser mais ágeis e a buscar soluções criativas para o cliente e a sociedade”, avalia Leonardo Rocha, head de Marketing da plataforma digital Americanas.
Toda atitude faz diferença. É nisso que acredita a Samsung. Tanto que, entre outras ações, doou R$ 5 milhões em kits de testes rápidos, máscaras de proteção, e equipamentos tecnológicos, como tablets, notebooks e TVs, para instituições do Ministério da Saúde e dos governos dos estados de São Paulo e Amazonas dedicadas ao tratamento da Covid-19. “O momento apresentou e continua a apresentar situações novas e desafiadoras. Em meio a tantas dúvidas, temos uma única certeza: as pessoas sairão dessa mais tecnológicas e as empresas, mais humanizadas”, afirma Fauze Diab, diretor de Recursos Humanos da Samsung Brasil.
POR ANDRÉ BERNARDO