Mestre e diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto, Diego Mahfouz Faria Lima foi um dos dez finalistas no "Nobel de Educação".
No dia 13 de fevereiro deste ano, o bilionário americano Bill Gates, fundador da Microsoft, anunciou o nome dos dez educadores finalistas no Global Teacher Prize, o “Nobel da Educação”, em um vídeo transmitido para os quatro cantos do planeta.
Nessa lista, constava, de fato, pela segunda vez um representante brasileiro. “Eu estava em casa quando soube que o Bill Gates havia anunciado meu nome como um dos finalistas. A princípio, quase não acreditei. Aliás, revi o vídeo várias vezes para me convencer de que era verdade”, conta Diego Mahfouz Faria Lima, 30 anos, 14 dos quais dedicados à Educação.
Antes de tudo, ainda na faculdade de pedagogia, Diego espelhava-se no educador Darcy Ribeiro como exemplo de um grande mestre. Ainda assim, não imaginava que, em 2014, assumiria o cargo de diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto, SP.
Quando chegou à escola
A situação que encontrou na escola não era nada favorável. Isto é, a instituição de ensino era conhecida pelo alto índice de evasão escolar e por ser uma das mais violentas da região. Diego criou então o projeto social “Minha escola: reconstrução coletiva”, cuja implementação enfrentou muitas barreiras. Porém, firme e com a ideologia que trazia desde a faculdade – a de fazer um trabalho de transformação e impacto na educação –, ele conseguiu mudar a realidade da escola Darcy Ribeiro.
Diego baseou o projeto em três pilares: como dar voz aos alunos, envolver a comunidade e fortalecer a cultura do diálogo. E, dessa forma, acreditou desde o início que era possível mudar. “Em 2013, foram 202 alunos evadidos, ao passo que um ano depois, esse número caiu para dois. E, em 2017, a conta foi zerada. Na minha primeira reunião com os pais dos 1.189 alunos matriculados, apenas nove compareceram. A comunidade não acreditava na escola. Mas em 2016, na última reunião do ano, eu contei com a participação de 900 pais”, afirma o diretor, com orgulho.
E complementa: “Atualmente, temos uma lista com o nome dos pais que se organizam para fazer o trabalho de manutenção da escola. Eles executam desde pequenos reparos até a pintura e o conserto da parte elétrica.”
Mediação de conflitos
O diálogo é a base que Diego usa para pôr fim aos casos de bullying ou outro tipo de violência. “Nós convidamos as partes envolvidas no conflito para uma conversa. E, ao mesmo tempo, damos voz a cada um deles, exercitando a habilidade de saber ouvir”, explica Diego. “Faço perguntas assertivas e dialogo. Assim, o que antes se transformaria em uma briga após a aula, agora é resolvido aqui dentro.”
“Hoje, quando os alunos precisam faltar, se justificam porque sabem que, se não estiverem em sala, vou até eles.”
Outro problema atacado pelo projeto foram as faltas excessivas. “Já aconteceu de a mãe de uma aluna reclamar que a filha não estava indo para a escola. Eu fui até a casa dela saber o que estava acontecendo. Quando cheguei, a aluna estava na laje da casa. Peguei a escada e fui até lá conversar com ela, que desceu e voltou comigo para a escola. Hoje, quando os alunos precisam faltar, se justificam porque sabem que, se não estiverem em sala, vou até eles”, diz, rindo.
O sucesso do projeto – que lembra o filme Ao mestre, com carinho, de 1967 – lhe rendeu a indicação ao Global Teacher Prize. (A vencedora foi anunciada no dia 18 de março: Andria Zafirakou, do Reino Unido.) Sobre a indicação, Diego diz: “Eu não esperava chegar tão longe. Ficar entre os 10 melhores educadores do mundo já é algo incrível. Concorri com mais de 40 mil inscritos, de 170 países. Agora, recebemos ligações de diversas regiões do País perguntando qual é o segredo da Darcy Ribeiro. Eu respondo que não existe mágica. Primeiro, deve haver a aceitação – é preciso que os alunos e pais mudem o olhar em relação à escola.”
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