Descubra como é possível provocar mudanças positivas na vida e até mesmo na saúde do corpo quando se escolhe adotar a gratidão,
Iana Faini | 23 de Janeiro de 2020 às 16:00
A maioria de nós sente uma alegria natural ao dar um presente ou apenas um abraço em quem nos ajudou de alguma forma. Mas, talvez, esse sentimento é mais importante do que parece. Pesquisas mostram que compartilhar ideias de gratidão e realizar atos de gentileza podem, além de melhorar o humor, ter outros efeitos positivos sobre a saúde.
“Pelos estudos da literatura, sabemos que a gratidão causa um bom impacto sobre a felicidade e que aumenta a satisfação com a vida”, diz Willibald Ruch, professor de Psicologia da Universidade de Zurique, que pesquisa o efeito de traços positivos do caráter como gratidão e bom humor. “É um dos cinco maiores previsores de felicidade.”
Quando reconhecemos as coisas recebidas ou acontecidas, isso é gratidão. É impossível senti-la no vácuo; os outros são sempre responsáveis, sejam pessoas queridas, desconhecidos ou um poder superior. A gratidão é uma relação com os outros em que nos vemos ligados a coisas maiores do que nós, diz Ruch.
Confira a seguir como é possível provocar mudanças positivas na vida quando se escolhe adotar a gratidão.
Por que não agradecer? Os estudos mostraram que quem exprime gratidão aumenta o nível de felicidade, baixa a pressão, tem mais qualidade no sono, melhora os relacionamentos, reduz o nível de depressão e é menos afetado pela dor. E o efeito positivo da gratidão é duradouro. Pesquisadores canadenses constataram que quem escreveu cartas de agradecimento ou fez boas ações durante meras seis semanas melhorou a saúde mental, reduziu dores no corpo, teve mais energia e realizou mais tarefas cotidianas durante até seis meses.
Como a gratidão é um campo de estudo relativamente novo, os pesquisadores ainda tentam identificar essa relação de causa e efeito com os vários benefícios à saúde. “Sabemos que quem tem nível mais alto de gratidão também dorme melhor, mas não sabemos por quê”, diz Alex Wood, professor da Universidade de Stirling, na Escócia. “A gratidão provoca a melhora do sono? O sono provoca mais gratidão? Ou haverá uma terceira variável que provoca tanto gratidão quanto um sono melhor?”
A gratidão pode fazer bem em todos os estágios da vida. Pesquisadores suecos descobriram que pessoas de 77 a 90 anos que são gratas pelo que têm apresentam probabilidade menor de remoer as chances de ficarem inválidas. “Quando não conseguem mudar alguma coisa, elas escolhem a gratidão e se concentram no que é bom: andar com as próprias pernas, estar vivo, morar sozinhos”, diz Helena Hörder, autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Gotemburgo. “Talvez seja a confiança de que conseguirão dar solução àquilo e se concentrar nas coisas certas.”
E quem recebe a gratidão? A pesquisa confirmou que quem recebe mensagens de agradecimento ou atos de gentileza sente emoções positivas. “São surpresas felizes; não esperamos um café, nem que alguém abra a porta para nós”, diz Jo-Ann Tsang, professora da Universidade Baylor, no Texas, que pesquisa a gratidão.
Quando alguém recebe gratidão ou gentileza inesperadas, é mais provável que retribua o favor ou pague a outra pessoa igualmente com um ato de gentileza. Um estudo descobriu que, quando alguém recebe um agradecimento, sua probabilidade de ajudar de novo duplica, talvez porque gostamos de nos sentir valorizados socialmente.
Tamiko Zablith gosta da reação obtida quando recompensa um desconhecido que lhe abre a porta no Starbucks cedendo-lhe o lugar à frente dela na fila. “Eles fazem cara de choque”, diz Tamiko. “E serão mais gentis com o caixa, com a próxima pessoa que encontrarem. É uma reação em cadeia.”
O dar e receber da gratidão também aprofunda os relacionamentos. Estudos mostram que, quando um parceiro exprime gratidão regularmente e faz com que o outro se sinta apreciado, aumenta a probabilidade de este outro devolver esses sentimentos. Isso, por sua vez, faz aumentar o compromisso recíproco. Um estudo constatou que exprimir gratidão ao parceiro nos torna mais responsáveis por seu bem-estar e mais satisfeitos com o relacionamento. “Passamos a nos sentir próximos do outro, que se sente mais próximo de nós”, diz Jo-Ann Tsang. “Isso cria uma espiral ascendente.”
Se você não se sente muito grato, saiba que é possível aprender. Pessoas instruídas a fazer um diário da gratidão, no qual escrevem três coisas positivas que lhes aconteceram a cada dia, cultivam a gratidão com o passar do tempo. “No começo, as pessoas têm dificuldade de identificar as coisas boas que aconteceram”, diz Ruch. “Mas quem as escreve toda noite passa a vivê-las com mais intensidade. Aos poucos, o cérebro é treinado para adotar um modo mais apreciador, e a sensação de gratidão aumenta. Mesmo quando o treinamento acaba, as pessoas continuam o exercício, porque o acham muito compensador. Elas gostam de dar uma olhada no que aconteceu semanas atrás. O caderno se torna um livro de boas lembranças.”
Samuel Coster, de Saint Louis, começou a fazer um diário de gratidão há três anos. Quando recebeu o diagnóstico de linfoma no ano seguinte, o diário o ajudou a passar pela doença. “Não há dúvida de que o treinamento de gratidão me ajudou na pior época”, diz Coster. “Tive câncer? Tive. Também passei a ficar muito mais com a minha família, a apreciar mais a vida. E é nesta parte que me concentro.”
Quando a sensação de gratidão é revelada a quem somos gratos, todos se beneficiam. E o efeito dura mais do que seria de esperar: pesquisadores descobriram que as pessoas que escrevem bilhetes de agradecimento a quem não agradeceram direito elevam seu nível de felicidade e melhoram as relações interpessoais durante até seis meses. “Se você guarda a gratidão para si num diário, ela o fará mais feliz; mas, se você a revelar a quem o ajudou, há a probabilidade de vocês dois ficarem mais próximos”, explica Jo-Ann Tsang.
John Kralik, da Califórnia, vivenciou isso. Ele se sentia deprimido e desestimulado sempre que fazia um balanço de sua vida. Passara por dois divórcios, não era tão íntimo dos filhos quanto gostaria, e o escritório de advocacia não dava dinheiro. Apesar muitas horas que dedicava ao trabalho. Num momento especialmente ruim, ele se lembrou do avô, que, décadas antes, lhe falara da importância da gratidão. Então decidiu escrever 365 bilhetes de agradecimento em 365 dias, na esperança de obter uma mudança positiva.
Imediatamente ele notou que sua atitude e a situação começaram a melhorar. No final daquele ano de agradecimentos, Kralik escreveu um livro sobre a experiência, A Simple Act of Gratitude: How Learning to Say Thank You Changed My Life (Um simples ato de gratidão: como aprender a dizer obrigado mudou minha vida). “Não precisei de estudos científicos para saber que, quando somos gratos aos outros e aprendemos a aceitar bem a gratidão deles, nossa vida se enriquece”, diz Kralik. “O primeiro efeito é perceber que nossa vida é muito melhor do que pensávamos.”