O envelhecimento é fato, e é preciso cuidar dos idosos, encontrar soluções que não rompam os laços familiares ou que criem laços novos.
Redação | 3 de Novembro de 2018 às 13:00
Conforme a medicina moderna acrescenta anos a nossas vidas, os ganhos se revelam no envelhecimento contínuo da população dos países desenvolvidos. E, então, na necessidade de cuidar dos idosos. Assim, os idosos de 65 anos ou mais representam hoje acima de 17% da população total do mundo desenvolvido, contra pouco mais de 14% em 2000. Enfim, com o avanço da idade, vem a necessidade de mais cuidados. Tradicionalmente, quando precisavam de ajuda, os pais idosos iam morar com os filhos adultos. As famílias modernas, que buscam mais flexibilidade, vêm encontrando várias soluções. Eis duas dessas famílias que nos mostram como enfrentaram o desafio – e descobriram benefícios inesperados.
Adélheid*, ex-lojista de 75 anos que mora sozinha em um apartamento nos arredores de Lyon, levou um tombo em casa e fraturou o tornozelo. Alguns meses depois, uma outra queda, dessa vez mais grave, resultou em fratura de quadril.
Após várias semanas no hospital, ela voltou para casa. Embora se preocupasse em como iria se arranjar, não queria ir para uma casa de repouso. “Ter liberdade de viver com independência é muito importante para mim. Gosto de fazer o que quero na hora que quero”, diz ela.
Por sorte, sua filha Anne-Claire Rivière, 51 anos, mora com o marido Guy, 52, a apenas dez minutos da casa da mãe. Apesar de ambos terem longas jornadas de trabalho, ele como analista de sistemas, ela como gerente de uma empresa na cidade, o casal leva Adélheid para fazer compras no supermercado e ela vai comprar sozinha um ou outro item de que precise.
Ela ainda usa andador, mas seus pés estão ficando mais firmes. A faxineira vai à sua casa uma vez por semana e um fisioterapeuta faz visitas regulares para ajudá-la com a mobilidade.
“Ela não passa as tardes observando a vida alheia por trás das cortinas”, diz Anne-Claire, rindo. Isto é, “Ela vive ocupada. Adora a Internet e se interessa muito por genealogia.”
“Mamãe liga todos os domingos para nos contar o que andou fazendo. Cada um tem sua vida, e parece que está dando certo para todo mundo.”
O casal tem outro compromisso importante: Maurice*, 89 anos, pai de Guy, que mora em uma casa de repouso na mesma rua.
Maurice viveu muito bem sozinho até o fim de 2014, quando, segundo Guy, “começou a esquecer de tomar os remédios e a ter dificuldades com tarefas rotineiras”. Em fevereiro de 2015, caiu, bateu a cabeça e perdeu o controle das pernas. O médico recomendou uma casa de repouso, e Maurice concordou.
Neste link você descobrirá mais sobre a perda de memória.
– Ele reconheceu que não podia mais morar sozinho – diz Anne-Claire. – Pensamos em trazê-lo para morar conosco, mas teríamos de fazer tantas obras no banheiro e no quarto, que simplesmente não foi possível.
– Todos concordamos que foi a melhor solução. Assim, ele manteve seus móveis, livros e quadros favoritos, e há muita gente com quem conversar – completa Guy.
O casal faz visitas frequentes a Maurice e Adélheid. Anne-Claire diz: “Adoramos esses momentos em família. Não sabemos até quando ainda teremos nossos pais, e queremos aproveitar ao máximo todo o tempo que passarmos juntos.”
—Lisa Donafee
Frieda Bolduan, solteira e sem filhos, tinha 43 anos e trabalhava num orfanato em Norderstedt, na Alemanha, quando conheceu uma menina de 7 anos, chamada Marina, e seus três irmãos. Era junho de 1972, e o serviço de proteção à infância transferira as quatro crianças para a Aldeia Infantil SOS de Harksheide, em Norderstedt.
Frieda foi designada para cuidar das crianças na aldeia infantil. Com seu grande coração, ela as recebeu com afeto. A ligação entre Marina e a mulher que passou a chamar de mãe se fortaleceu ainda mais e continuou quando Marina cresceu, foi trabalhar como decoradora e formou sua própria família.
Hoje, as duas moram juntas outra vez, mas os papéis se inverteram. Entretanto, agora Marina Weber, 50 anos, cuida de Frieda, 86. Em 2010, Frieda foi morar com Marina e o marido, Ronald Weber, 51 anos, representante de vendas do setor farmacêutico, e Viviane, a filha de 12 anos do casal, na espaçosa casa em Boostedt, ao norte de Hamburgo. Marina explica: “Meu maior desejo sempre foi trazer minha mãe para morar comigo em uma casa grande. Acima de tudo, quero retribuir um pouco do que ela me deu.”
Portanto, Frieda tem um quarto confortável, cheio de fotos, livros e um sofá aconchegante. O mais importante é que ela faz parte da família. Participa da vida de todos, na medida do possível, pois já faz algum tempo que está sofrendo de demência, e está cada vez mais esquecida. Todo dia, Marina procura fazê-la sentir-se útil. “Você pode me ajudar a passar as roupas?”, pergunta e lhe entrega alguns panos de prato.
Enquanto Marina prepara o almoço, Viviane chega da escola. Abraça com carinho a avó querida: “Tudo bem, vovó?” Para Frieda, é difícil exprimir os sentimentos em palavras, mas ela dá um grande sorriso para Viviane. Quando a menina fala, sobretudo, das aulas de natação, Frieda ouve com atenção.
Enfim, quando terminam de comer, Marina pergunta:
– Está cansada, mãe? – Frieda faz que sim, e a filha a ajuda a se erguer da cadeira. – Vou levá-la para tirar um cochilo no quarto. Depois podemos ir ao iate clube de Kiel. Sei que você adora olhar o mar.
Frieda aperta a mão da filha.
– Ah, seria ótimo – responde.
Enquanto a mãe descansa, Marina lava a louça.
“Sem minha mãe e seu amor ilimitado, eu não teria sobrevivido. Ela me ensinou a nunca desistir e a ter fé em mim”, diz Marina. “Não sei o que seria de mim sem ela.”
—Annemarie Schaefer