Depois da quarentena teremos que redescobrir a vida. Veja como se conectar com as pessoas pode transformar sua via e como fazê-lo!
Redação | 1 de Abril de 2020 às 02:01
Fazia cinco minutos que estávamos na pior turbulência por que já passei. O avião se aproximava do Aeroporto Internacional Logan, em Boston, numa forte tempestade de inverno. Eu me virei para a mulher ao meu lado e pedi:
– Você se incomoda de conversar comigo um pouco? Estou nervosa.
Não tínhamos falado muito durante o voo, além das amenidades de sempre. Mas minha vizinha de poltrona parecia amistosa. De repente, eu me senti desesperada por uma conexão humana.
– Claro. Eu me chamo Sue – respondeu a mulher com um sorriso caloroso. – O que a traz a Boston?
Comecei a explicar que estava numa viagem a trabalho. Então o avião deu um solavanco, e deixei escapar:
– Acho que também preciso segurar sua mão. – Sue pegou minha mão entre as dela, deu-lhe um tapinha de leve e a segurou com força.
Um encontro agradável com alguém que não conhecemos, até uma troca não verbal, pode nos acalmar quando não há mais ninguém por perto. Pode nos tirar dos nossos pensamentos, o que comprovadamente melhora o humor, e ampliar nosso ponto de vista. “As pessoas se sentem mais conectadas quando conversam com estranhos, como se fizessem parte de algo maior”, diz Gillian Sandstrom, psicóloga e professora da Universidade de Essex que estuda interações entre desconhecidos.
Nas pesquisas, Sandstrom descobriu que o humor das pessoas melhora depois da conversa com alguém que não conhecem – digamos, um barista do Starbucks, um voluntário num museu ou a pessoa da frente na fila. Em geral, as pessoas se sentem mais felizes nos dias em que têm mais interações com pessoas que não conhecem.
Mas a maioria de nós resiste a conversar com quem não conhecemos ou conhecemos pouco. A mecânica da conversa nos deixa nervosos: como começar, manter ou finalizar. Achamos que vamos falar demais, revelar demais ou não falar o suficiente. Temos medo de incomodar o outro.
Em geral, estamos errados. A pesquisa de Sandstrom mostra que as pessoas subestimam até que ponto o outro gostará delas quando falam pela primeira vez. Num estudo em que pediu aos participantes que falassem pelo menos com um desconhecido por dia durante cinco dias, 89% disseram que tinham achado que pelo menos uma das conversas fora uma surpresa agradável, 82% disseram que tinham aprendido alguma coisa com um dos desconhecidos, 43% trocaram informações de contato e 40% voltaram a se comunicar com um dos desconhecidos.
Os cientistas acreditam que pode haver uma razão antiga para os seres humanos gostarem de interagir com estranhos. Para a espécie sobreviver, precisamos nos acasalar fora de nosso reservatório gênico, e talvez tenhamos evoluído para ter habilidade social e motivação para nos misturar com pessoas que não sejam de nossa tribo.
Vários estudos mostram que quem interage regularmente com conhecidos de passagem tem mais saúde física e emocional e vive mais do que quem não interage.
Ouvi pessoas me contarem sobre conexões significativas com desconhecidos que lhes trouxeram vários tipos de benefício. Uma pessoa começou a estudar violoncelo depois de conversar no metrô com uma mulher que estava com o instrumento. Outro recordou que o sorriso de um vendedor de frutas de quem costumava comprar bananas o deixava menos solitário quando se mudou para outra cidade. Uma moça com dificuldade para conceber foi animada por uma mulher no avião que lhe falou da alegria de ser mãe mais velha.
Quando Sue Pernick segurou minha mão naquele assustador voo para Boston, quase chorei de alívio. Ela era tão calma e tranquilizadora e ao lhe perguntar como ganhava a vida, ela respondeu: “Sou professora aposentada de educação física e fui treinadora de vôlei feminino.”.Na mesma hora, vi que ela deve ter sido uma treinadora incrível.
Sue e eu conversamos até o avião pousar. Então, o empresário sentado no outro lado dela, que ficara o voo inteiro calado, observou que gostara de nossa conversa.
“Ela me distraiu”, falou. “Eu também estava com medo e gostaria de ter segurado a mão de Sue!”
Quando nos despedimos, dei a Sue um abraço e meu cartão. Alguns dias depois, recebi um e-mail com o assunto “Mão quebrada no voo da Jet Blue”. “Tenho de admitir que estava tão apavorada quanto você, mas não disse nada”, escreveu Sue. “Só apertei sua mão o mais forte que pude. Obrigada por me ajudar naquela situação tão assustadora.” Ela acrescentou que, quando contou às amigas sobre nossa conversa, zombaram dela, porque sabem que ela adora conversar.
Também falei a meus amigos sobre Sue. Expliquei que ela foi muito gentil comigo e disse o que aprendi: é bom pedir ajuda quando precisamos. Agora, quando menciono aos amigos que estou estressada ou preocupada, eles respondem: “É só pensar em Sue!”
Subestimamos até que ponto os outros gostam de nós quando falamos com eles pela primeira vez, de acordo com a pesquisa. Portanto, você não é tão chato quanto pensa!
Converse com alguém que você vê regularmente talvez num café, na academia ou no elevador do trabalho. A pesquisa mostra que as pessoas ficam mais felizes nos dias em que interagem com mais gente.
Faça perguntas; todo mundo adora falar de si.
Filas compridas ou voos turbulentos são algumas oportunidades para criar laços. Fazer conexões pode tornar a experiência mais rápida e positiva.
Você vai se sentir menos sozinho, e a outra pessoa vai gostar de fazer uma boa ação.
O tempo é sempre um bom tema.
A abertura mútua ajuda a estabelecer conexões.
O riso faz bem a todo mundo.
A outra pessoa está gostando da conversa? Procure os sinais de que talvez ela prefira ficar em paz.
Como tudo na vida, conversar com estranhos é mais fácil quando a gente treina. E não se preocupe se nem todos os encontros forem positivos. “Ninguém espera que todos os livros lidos sejam bons”, diz Sandstrom. “Com a conversa é a mesma coisa.”