Há alguns anos, briguei com uma amiga por causa de um mal-entendido e a culpa foi toda minha. Tive medo de pedir desculpas e admitir que estava errada, e
Julia Monsores | 14 de Junho de 2020 às 20:00
Há alguns anos, briguei com uma amiga por causa de um mal-entendido e a culpa foi toda minha. Tive medo de pedir desculpas e admitir que estava errada, e passamos anos sem nos falar. Aí nos encontramos por acaso e decidimos almoçar juntas. Foi tão agradável que continuamos nos vendo. Depois de duas ou três refeições, me senti obrigada a pedir desculpas por minha transgressão anos antes.
Minha experiência não é a única: muitas pessoas evitam pedir desculpas porque a ideia de admitir os próprios erros as deixa extremamente constrangidas.
“Todos gostamos de nos considerar pessoas boas, gentis, atenciosas e morais”, explica Ryan Fehr, professor da Escola Foster de Administração da Universidade de Washington.
“As desculpas nos forçam a admitir que nem sempre estamos à altura de nossos padrões. Também podemos temer que a vítima não aceite nosso pedido, comprometendo ainda mais a noção positiva de nosso eu. Por isso, pode ser dificílimo se desculpar.”
Para muitos, pedir desculpas é estressante, esquisito e constrangedor. Mas quando é sincero têm efeito positivo. A pesquisa mostra que elas podem melhorar nossa saúde mental, consertar relacionamentos rompidos e aumentar a autoestima.
“Pedir desculpas é um sinal do caráter moral da pessoa”, diz Fehr. “Representa a separação entre o ofensor e a ofensa. O ofensor diz: ‘Reconheço que o que fiz foi prejudicial, mas essa ofensa não me representa como pessoa.'”
Pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio verificaram que os pedidos eficazes têm seus componentes: exprimir remorso, explicar o que deu errado, admitir a responsabilidade, declarar o arrependimento, oferecer-se para consertar a situação e pedir perdão. Os seis não são necessários em todas as ocasiões.
“Descobrimos que quanto mais componentes incluímos, maior a probabilidade de o pedido de desculpas ser signo de crédito”, revela Roy Lewicki, principal autor do estudo. “Admitir a responsabilidade é a parte mais importante, seguida pela explicação do que aconteceu e a declaração de arrependimento.”
Outra pesquisa mostrou que exprimir o remorso e admitir a responsabilidade são fundamentais. “Sem o remorso, o pedido é uma justificativa de nossas ações”, diz Fehr. “Sem a responsabilidade, é só um subterfúgio.”
Quando quisermos pedir perdão, devemos falar na hora? Ou esperar ainda mais quando o outro precisa de tempo para esfriar a cabeça? “Às vezes, o pedido de desculpas imediato é necessário”, diz Antony Manstead, professor de Psicologia da Universidade Cardiff, no País de Gales. “Mas, se o outro lado estiver zangado com o que considera um delito, talvez seja mais eficaz esperar, porque a raiva pode impedir a receptividade ao pedido.”
“A não desculpa é uma declaração do tipo ‘sinto muito se você se ofendeu com minha piada’.”
Esperar também pode trazer outros benefícios. “Algumas pesquisas indicam que a demora aumenta a eficácia do pedido por transmitir a ideia de que o transgressor teve tempo para refletir sobre seus atos”, diz Mara Olekalns, professora de Administração da Melbourne Business School. “Outras mostram que, quanto mais perto da transgressão, mais eficaz será o pedido, talvez por transmitir o remorso e o reconhecimento imediatos do ato errado.”
Esperar demais pode sair pela culatra, mas também pode ser eficaz. Levei dez anos para me desculpar com minha amiga, mas ela foi receptiva e se comoveu com minhas palavras. Quando seu irmão de 60 anos lhe pedir perdão por ter agredido você quando era criança, é provável que você fique contente.
E alguns governos conseguem pedir desculpas por crimes cometidos há séculos. “A melhor hora é quando nos sentimos prontos a pedi-las com sinceridade”, ressalta Etienne Mullet, diretor de pesquisas do laboratório de Ética e Trabalho do Instituto de Estudos Avançados, em Paris. “Nessas situações, não há nada pior do que desculpas insinceras.”
Evite estas armadilhas:
Inventar pretextos. “Como admitir o erro é doloroso e pode dar a sensação de que somos uma pessoa má, muita gente dilui o pedido de desculpas com pretextos, declarações que reduzem a responsabilidade no pedido para salvar as aparências”, diz Roger Giner-Sorolla, professor de Psicologia social da Universidade de Kent, na Inglaterra.
Menosprezar os sentimentos do outro. “Não insinue que o outro está errado por se sentir nervoso ou zangado”, alerta Olekalns. “Isso menospreza e invalida sua experiência.”
Apontar o dedo. “Entre os exemplos, temos ‘peço desculpas se ofendi alguém’ e ‘sinto muito, mas foi você quem começou'”, diz Fehr. “Isso é jogar a responsabilidade no outro por ser sensível demais ou por iniciar o ciclo de conflitos. O pedido deveria assumir de forma inequívoca a responsabilidade pela ofensa.”
Pedir não desculpas. “As não desculpas são declarações como: ‘Sinto muito se você se ofendeu com minha piada'”, diz Giner-Sorolla. “Tem o formato do pedido de desculpas (‘Sinto muito’), mas joga a responsabilidade sobre o ofendido, insinuando que é sensível demais.
Os especialistas concordam que o pedido de desculpas cara a cara é melhor do que por telefone, e-mail ou carta manuscrita.
“Já se demonstrou que as expressões faciais, a postura do corpo e o tom de voz são canais importantes para transmitir a sinceridade quando exprimimos remorsos”, conta Giner-Sorolla.
“Qualquer um pode digitar ‘Estou muito envergonhado’, mas quando dizemos isso ao vivo fica óbvio se falamos a sério ou não.”
O telefonema é o segundo melhor meio: você transmitirá as emoções com a voz e receberá resposta imediata. O pedido por e-mail não é ideal por ser desprovido de dicas emocionais… e porque, depois que você o digitou, os destinatários podem repassá-lo a quem quiserem.
“É claro que a pessoa ofendida pode aproveitar o pedido de desculpas por escrito para prejudicar quem o enviou”, diz Mullet. “Ser vítima não transforma automaticamente alguém em boa pessoa. Portanto, quem pede deve ser prudente.
Depois do pedido de desculpas, talvez você sinta que tirou um fardo dos ombros. A pesquisa mostra que essa iniciativa alivia a consciência pesada, dá início ao processo de perdão entre as vítimas, aproxima as pessoas e aumenta a confiança, mesmo entre desconhecidos.
“O pedido de desculpas é uma ferramenta importante para reconstruir um relacionamento e torná-lo funcional outra vez”, esclarece Lewicki.
Mesmo que você tropece nas palavras, elas terão muito significado. “Em geral, as pessoas ofendidas gostam do pedido de desculpas”, diz Fehr. “O efeito sobre o relacionamento tem mais probabilidade de ser positivo do que negativo.”
Sei disso em primeira mão. Eu e minha amiga almoçamos recentemente, quinze anos depois de meu pedido de desculpas atrasado. Confessar que foi tudo culpa minha nos ajudou a superar a briga e curar nosso laço. Hoje, ambas apreciamos nossa amizade.
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