A escritora Lisa Fields participou do curso que "ensina a ser feliz" – curso mais popular da Universidade de Yale – e compartilha a sua experiência conosco.
Quando soube que o curso mais popular da história da Universidade de Yale – um curso de psicologia projetado para ajudar os alunos a aprender a ser mais felizes – estava disponível gratuitamente na internet, decidi que tinha de ver o que era aquilo. Afinal, escrevo sobre felicidade há anos e apresento aos leitores técnicas de pesquisadores que descobriram que tal ideia ou determinado hábito pode aumentar o bem-estar. Eu estava curiosa para ver o que a professora Laurie Santos recomendava como a melhor pesquisa e os melhores conselhos ligados à felicidade. O curso de dez semanas, numa série de aulas em vídeo, durava 19 horas.
Quase com a mesma rapidez com que decidi fazer o curso, também optei por não fazer sozinha. Convidei meu namorado para passar pela experiência comigo.
Por que eu queria que ele participasse?
Uma das razões é que, como escrevi muito sobre felicidade, supus que conheceria diversos conceitos ensinados por Laurie Santos. Eu queria ver como reagiria alguém que não conhecesse nada daquilo.
Mas outro motivo para convencer Ian, meu namorado, a participar é que eu esperava que lhe fizesse bem. Ian vive preocupado e sempre espera que o pior aconteça nas situações cotidianas. Às vezes, ele leva a sério críticas ligadas ao trabalho ou comentários superficiais dos amigos, e isso acaba com seu dia. Ele é um homem gentil, doce e ponderado que merece ter mais alegrias na vida. Eu esperava que aprender técnicas com os pesquisadores da felicidade o ajudasse.
Ian e eu somos ambos divorciados e temos um total de seis filhos. Não nos vemos muito durante a semana, quando estamos ocupados com empregos e famílias, mas de 15 em 15 dias temos um fim de semana juntos e somente para nós.
Passamos quase três meses, em fins de semana alternados, absorvendo o que Laurie Santos tinha a oferecer. E, depois de concluir o curso, estou convencida de que qualquer um que adotar e praticar as estratégias sugeridas por ela, de universitários a octogenários, pode realmente se tornar uma pessoa mais feliz.
O que aprendemos por lá?
Aprendemos que as coisas pelas quais as pessoas mais se esforçam por acharem que lhe proporcionarão mais felicidade – um contracheque de maior valor, uma casa mais bonita, um corpo perfeito – na verdade não trazem alegria à vida. Mas táticas surpreendentes – como investir em experiências (férias ou shows) em vez de bens materiais (carros ou celulares novos) – comprovadamente nos deixam mais felizes. O mesmo acontece com práticas como exercitar-se mais, socializar, dormir o suficiente e priorizar o tempo livre em vez do dinheiro. Depois de reconhecer esses caminhos para a felicidade, você pode começar a influenciar seu estado de espírito.
“Muita gente não percebe que há um trabalho a ser feito para ficar um pouquinho mais feliz, se entendermos um pouco da ciência”, me disse Laurie Santos depois que Ian e eu fizemos o curso on-line. “É como um pneu que enchemos, mas que às vezes vaza; quando isso acontece, é preciso pôr mais ar. Ou seja, realmente a prática constante é necessária para promover a felicidade. Não é uma coisa única que a gente aprende e acabou. É preciso investir trabalho e esforço nisso.”
Ian e eu também aprendemos a reconhecer de que maneira nossa mente nos engana para nos sentirmos menos felizes. Por exemplo, muita gente tende a comparar suas realizações com as de pessoas próximas, que talvez pareçam mais ricas ou mais realizadas. E nosso cérebro se ajusta às mudanças. Assim, o carro novo ou o cônjuge novo são empolgantes no começo, mas acabam se normalizando e não provocam mais o mesmo nível de alegria.
Embora parte do curso se concentre no desejo de tirar boas notas, arranjar o emprego perfeito e encontrar alguém especial com quem se casar, percebemos que as lições não são úteis apenas para estudantes universitários. Ian e eu estamos na meia-idade, e a maior parte do que Laurie Santos disse foi relevante para nós.
“É possível ver rapidamente que esses exemplos se aplicam a pessoas de todas as áreas da vida”, disse Laurie. “O que a ciência sugere é que essas dicas se aplicam universalmente na maioria dos casos. Aplicam-se a várias culturas. Aplicam-se a várias idades. Aplicam-se a qualquer profissão.”
Praticando a felicidade
Para concluir o curso, Ian e eu tivemos de nos comprometer a praticar por quatro semanas uma atividade que aumentasse a felicidade, algo que realmente ressoasse dentro de nós, para que o sentimento se entranhasse. Ian decidiu se exercitar mais, porque raramente ia à academia por causa do horário de trabalho complicado e da vida doméstica, sem falar da culpa de deixar seu cão sozinho quando, normalmente, estaria em casa. Decidi dormir mais um pouco, porque em geral fico acordada até a meia-noite tentando terminar projetos de trabalho.
Na primeira semana, Ian encheu uma sacola com roupas para exercício e foi quatro vezes à academia na volta para casa. Na primeira visita, ele me mandou uma foto da esteira, de tão empolgado que ficou.
Naquela semana, programei um alarme para tocar às 22h30 e me avisar que estava na hora de dormir. No fim da primeira semana, eu estava tão descansada pela manhã que acordei mais cedo do que costumava para passar um tempo de qualidade com minha filha adolescente enquanto ela se arrumava para a escola, e fui muito mais produtiva durante o dia.
O restante do desafio de quatro semanas não foi tão impecável, mas, quando cumprimos nosso objetivo, nos sentimos mais felizes. Em certas semanas estressantes, fiquei acordada trabalhando até tarde toda noite, e Ian, ocupado demais para ir à academia.
A vida após o curso
Mas saímos da experiência com o desejo de manter nosso compromisso. O alarme ainda toca toda noite na hora de dormir. Tento encerrar o que estiver fazendo e me deitar. Quando consigo, acordo me sentindo tão renovada que fico invencível.
Ian gostou de se exercitar regularmente, mas tinha dificuldade de ir à academia. Assim, comprou uma esteira e a usa à noite. Ele vai para casa mais cedo e faz companhia ao cão enquanto melhora a saúde e o humor. Está bem contente com o sistema.
Fizemos novamente, no fim do curso, a avaliação de felicidade que havíamos feito antes de iniciar as aulas. Fui de 3,0 para 3,6 (em uma escala de 1 a 5). A pontuação de Ian passou de 1,6 a 2,0, prova de que as práticas que incorporamos à vida estavam funcionando. “Essa é uma das razões para as pessoas se interessarem tanto pelo curso”, observou Laurie, “e dizerem: espere aí, posso treinar isso como faço com a saúde física? Posso treinar isso como ao aprender um novo esporte ou um novo instrumento musical? E a resposta é: sim, você pode. Na verdade, deveria.”
POR LISA FIELDS