A caridade está nos pequenos e grandes gestos de pessoas que se engajam em projetos para ajudar o próximo. O voluntariado não tem preço mesmo.
Redação | 19 de Julho de 2018 às 20:00
A caridade é feita por inúmeras instituições filantrópicas, que distribuem comida e roupas aos necessitados. Mas quem, além da natureza, pode oferecer água para o banho? Isso levou Cláudio Lacerda a encontrar uma maneira de ajudar maradores de rua.
A BR-116, conhecida como Rio-Bahia, é a principal rodovia do País. Seus mais de 4.500 km cruzam dez estados e, ao longo deles, é possível ver retratos da vida no Brasil. Há pouco mais de dois anos, após um dia de trabalho, Cláudio Lacerda dirigia para casa, em Vitória da Conquista, Bahia, quando observou um deles. Fazia frio e chovia na ocasião. Ao passar por um aglomerado de moradores de rua, uma dúvida surgiu na cabeça de Lacerda: essas pessoas estão se molhando com a água da chuva, mas onde será que tomam banho de verdade?
Em casa, Lacerda ligou o chuveiro e tomou um banho quente antes de ir se deitar, mas não conseguiu dormir. “Passei a noite toda meio acordado, meio dormindo, pensando em quantas pessoas não têm o direito de fazer sua higiene pessoal de maneira digna.” No dia seguinte, Lacerda voltou ao local e conversou um pouco com os desabrigados para saber como poderia ajudar. Dados extraoficiais indicam que por volta de cem pessoas vivam em situação de rua em Vitória da Conquista. Segundo relatos dessas mesmas pessoas, o banho é a maior dificuldade. Já que instituições filantrópicas atuam mais na distribuição de comida e roupas.
Nesse dia, nasceu o projeto Banho Solidário. Lacerda, empresário do ramo de aquecimento solar, resolveu usar sua expertise para construir boxes de chuveiro transportáveis com água aquecida por energia solar. Entrou em contato com o proprietário de uma empresa de reboques. Posteriormente, juntos desenvolveram a logística. Uma vez por semana a estrutura fica à disposição dos moradores de rua. Aliás, sempre em pontos diferentes da cidade. Lacerda conta que a aprovação é unânime. “Fiquei emocionado quando ouvi uma pessoa cantando no chuveiro, porque isso mostrou que ela estava de fato confortável. Outra vez, uma mulher contou que o banho fez com que se lembrasse da casa que um dia já teve”, diz o empresário.
O poder da gentileza faz bem à saúde.
Depois de mais de 80 mil compartilhamentos em redes sociais, lá em 2015, pessoas de várias cidades começaram a procurar Lacerda. Sobretudo para implantar o Banho Solidário em suas comunidades. Ele disponibilizou gratuitamente todos os dados para a construção de chuveiros e explica que o custo é variável. “Tudo depende da quantidade de pessoas atendidas e é preciso considerar o gasto com toalhas, sabonetes e xampu. A água pode ser de um poço artesiano.” Cláudio conta que já recebeu propostas de ajuda financeira. Mas sua principal demanda é por voluntários. “Ensinamos noções de higiene, pois essas pessoas precisam de atenção. É mais difícil encontrar voluntários do que ofertas em dinheiro. Por isso não aceitamos ajuda financeira, só humana.”