Projeto que leva bonecas terapêuticas ajuda crianças a aceitarem o tratamento e superarem as dificuldades. Veja como a solidariedade faz diferença!
Elas têm 35 centímetros, são feitas da união de retalhos de tecidos, botões, fitas coloridas e rendas – que chegam por meio de doações – e, nas mãos de voluntárias como Marinez Hong, Patrícia Cuimar e Mirian Guimarães, ganham vida e se transformam nas Bonecas de Propósito. São bonecas terapêuticas, que retratam a luta de crianças contra o câncer, fissura labiopalatal e problemas de rim e coração.
Fernanda Candeias, fundadora do Bonecas de Propósito, explica o projeto:
“A gente não doa as bonecas como brinquedo. Elas são uma ferramenta terapêutica. Ajudam na humanização dos tratamentos ao oferecer às crianças um objeto de identificação naquele momento.”
Com modelos variados, desde a cor da pele até o tipo de cabelo, as bonecas vêm acompanhadas de peças soltas como coração (localizado numa abertura frontal), rim (numa abertura traseira) ou com uma cicatriz no lábio. As bonecas sem cabelo trazem perucas coloridas. Elas são doadas às crianças do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Pró-Criança Cardíaca, da Fundação do Rim e para a ONG americana Smile Train, que as distribui em hospitais conveniados, como o Nossa Senhora do Loreto, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.
À frente do projeto desde 2014, Fernanda Candeias, teve a ideia de criar as bonecas enquanto assistia TV. A museóloga, de 62 anos, ficou emocionada com a história de uma menina que tinha seis tumores na cabeça e estava triste pela falta de cabelo.
“Foi quando imaginei fazer uma boneca careca, acompanhada de uma peruca, permitindo que a criança elaborasse a questão no mundo da fantasia”, conta.
E Fernanda não parou mais. Depois da boneca para as crianças com câncer, vieram as com coração e rim. E, em 2017, as com fissura labiopalatal. “Todas as bonecas são encaminhadas para os hospitais e as instituições médicas. Elas se encarregam de as entregar às crianças”, explica ela.
Apesar de não ter contato direto com os pequenos, Fernanda recebe o feedback da equipe responsável pela triagem e direcionamento. A cada relato, uma surpresa. “Eu me emociono quando recebo um retorno das histórias que chegam. Não há nada que pague isso. Algumas crianças vão para o pós-operatório, a quimioterapia ou a hemodiálise com sua bonequinha, e não a largam por nada.”
Sócio de Fernanda no Bonecas de Propósito desde abril de 2016, o administrador Cristiano Goldenberg, de 42 anos, também se comove ao falar do projeto.
“É difícil explicar o que é, o que representa, chegar com a boneca até a criança que precisa de todo esse apoio, de carinho. Hoje, contamos com 30 voluntárias, divididas em dois núcleos no Rio: o Instituto Gênesis e a loja Flowers on Time. Juntos, produzimos 30 bonecas por mês”,explica.
Para alegria de Fernanda e de Cristiano, e de várias crianças, o Bonecas de Propósito não para de crescer. Em junho de 2017, o projeto chegou a São Paulo, funcionando na CasAzul, em Pinheiros, com 30 voluntárias. As bonecas são doadas para o Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI). “Temos quase mil pessoas em todo o Brasil interessadas em participar como voluntários. Estamos nos preparando para absorver toda essa rede de solidariedade e crescer de forma sustentável”, finaliza Fernanda.
POR MÁRCIO GOMES