Dois anos atrás, conheci um homem e foi amor à primeira vista. Eric era engraçado, gentil, inteligente, generoso e calmo. Tínhamos muito em comum:
Redação | 9 de Julho de 2019 às 19:00
Dois anos atrás, conheci um homem e foi amor à primeira vista. Eric era engraçado, gentil, inteligente, generoso e calmo. Tínhamos muito em comum: gostávamos da vida corrida de Manhattan, ambos tínhamos ex-parceiros e filhos adultos, e estávamos naquele estágio da vida em que gostávamos mais da ideia de um cachorro que do cachorro em si. E o melhor é que, após poucas semanas de namoro, ficou óbvio para mim que Eric, um avaliador de obras de arte, me dava muito valor.
Quando as árvores do Central Park começaram a perder as folhas, percebi que me apaixonava. Senti que Eric também. Mas ele era reticente: após dois meses de namoro, ainda assinava os e-mails assim: “Um abraço, Eric.”
Como levá-lo a exprimir seus sentimentos por mim? Concluí que seria preciso algo especial. Algo que pudéssemos compartilhar. Alguma coisa que lhe desse grande alegria. Optei pelo peito bovino. Não ria: um peito assado bem preparado pode ser muito mais sedutor que um négligé. De um marrom sem graça, com formato meio retangular, o peito bovino é feito com amor e servido às pessoas amadas.
Peito bovino é o prato da felicidade suprema. O próprio corte de carne é bem parecido com um romance na meia-idade. Para que qualquer um dos dois dê certo, é preciso combinar paciência, tempo, amor e uma pitada de esperança (são necessárias algumas noites na marinada, uma tarde no forno e regas generosas para transformar a carne rija numa refeição divina). Então, e só então, o que começa com um leve potencial se torna inacreditavelmente perfeito: tenro, saboroso, celestial.
Algo quase mágico, que a gente não espera mesmo que aconteça, acontece. Ou assim eu esperava. Quando pus meu plano em ação, era um mês gélido de dezembro em Nova York e Eric estava prestes a voltar para casa depois de uma viagem de negócios de 15 dias. “Venha jantar na próxima quarta-feira”, convidei por e-mail. “Espero que esteja com boca de comida caseira.” “Ótima pedida”, respondeu ele prontamente, assinando como sempre: “Um abraço, Eric.” Não seria um trabalho fácil.
Felizmente, eu tinha uma vantagem: nosso jantar seria no período do Chanuká. Sou uma semijudia que cresceu numa família que armava árvores de Natal, mas Eric foi criado num lar 100% judeu. A estimada receita de peito bovino da família viera para os Estados Unidos com os avós direto da Letônia. Thelma, a avó de 91 anos, ainda a prepara com muitos elogios. Eric era um profundo conhecedor do peito bovino.
O corte que preparei no meu apartamento naquela noite de quarta-feira foi banhado num molho encorpado de cranberry que se derreteu na carne e a caramelizou lentamente. Dezenas de velas tremulavam na mesa de jantar: uma menorá de latão iluminava o aparador sobre a lareira.
Uma garrafa de Malbec foi compartilhada e saboreada. Até o aroma do peito era inebriante. A resistência, ai, ai… foi inútil. No dia seguinte, recebi um e-mail dizendo: “Obrigado pelo jantar incrível e por uma noite especialíssima.” E assinado: “Com amor, Eric.”