Esse bebê nasceu sem olhos, mas a enorme dedicação de seus pais ajudou Dylan a encontrar seu caminho...
Redação | 29 de Janeiro de 2019 às 13:00
No instante em que olharam para o filho recém-nascido, Jeff e Karen Jacobson sentiram no estômago aquele aviso de que algo estava errado. Quando o médico ergueu o irrequieto bebê e o mostrou por cima da tela que lhe bloqueava a visão da cesariana, o casal notou que as pálpebras do filho eram pequenas e muito fechadas. “Está tudo bem”, foi o que lhes disseram, enquanto uma enfermeira se apressava em levar o bebê embora. Mas, enquanto Karen, 35 anos, ficava ali deitada, grogue por causa da anestesia, com Jeff ao lado segurando-lhe a mão, só o que conseguiam pensar era: Por que o nosso bebê não abre os olhos?
Karen Jacobson, o tipo de mulher que gosta que tudo ocorra conforme o planejado, estava se tornando especialista em lidar com as surpresas da vida. Em 2002, após duas tentativas fracassadas com inseminações artificiais, a ex-professora do ensino fundamental e o marido Jeff, contador, decidiram parar de tentar. Porém, um mês depois Karen estava grávida. O ruivinho Zachary e a loura Danielle, imagem fiel da mãe, nasceram em janeiro de 2003.
Apenas um ano e meio mais tarde, o casal de Demarest, Nova Jersey, soube que estava esperando outro casal de gêmeos, estes gerados por concepção completamente natural. Assim, Karen foi submetida aos exames da primeira gravidez e ainda outros: uma amniocentese, exame de sangue que identifica defeitos congênitos, além de muitas ultra-sonografias. Tudo indicava que ela estava esperando dois bebês saudáveis e perfeitos.
Era 24 de maio de 2005 – o grande dia. Dessa forma, com Jeff ao lado de Karen, a obstetra Sharon Patrick fez a cesárea, conforme planejado. Depois de dez minutos, a Dr. Sharon tirou a pequena Jenna da barriga da mãe. Minutos depois, tirou o segundo bebê: Dylan. Foi então que a atmosfera da sala começou a mudar.
A pediatra verificou os pulmões de Dylan e olhou-o por inteiro para ver se estava tudo certo. Os olhos do bebê continuavam fechados. Porém, como isso não é de todo incomum para um recém-nascido, ele foi entregue para a enfermeira. Enquanto cuidava do bebê, a enfeira notou um leve afundamento em torno dos olhos.
Os Jacobsons notaram que a enfermeira cochichava com a médica, então perguntaram:
– Está tudo bem?
– Acho que está tudo ótimo – respondeu a enfermeira tentando ganhar tempo. – Deixa eu me concentrar em você e depois dou uma olhada nos bebês.
Depois de colocar gaze sobre os pontos de Karen, a Dra. Sharon puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado e ao lado de Jeff. Olhando Karen fixamente, começou a falar: “Há um problema com seu filho… Ao que parece, ele não tem olhos.”
Ainda sob o efeito da anestesia, Karen tentou absorver as palavras da médica. Assim, ficou ali, simplesmente olhando, sem conseguir falar. Por fim, lágrimas começaram a cair. “Como isso pôde acontecer?”, perguntou Jeff.
A Dra. Sharon explicou que algo dera errado bem no início do desenvolvimento do bebê. Então, uma enfermeira levou os bebês até uma sala de tratamento próxima do centro cirúrgico. Lá, o Dr. Richard Koty, oftamologista pediátrico, deu o diagnóstico oficial: anoftalmia – ausência de olhos.
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Na sala de recuperação, Karen e Jeff por fim foram deixados a sós para absorverem a notícia. Ainda atordoado, Jeff caminhou até o berço de Dylan, ao pé da cama, pegou-o no colo e o colocou nos braços de Karen. “Parte de mim pensava: Como vou suportar? E por que Deus fez isso comigo?”, recorda Karen. “Mas então eu vi como ele era bonitinho – parecia um ursinho indefeso que ainda não havia aberto os olhos.”
Então, por um instante a dor deu lugar a um sorriso.
Entre trocas de fraldas, mamadeiras e tentativas de encontrar tempo para os três outros filhos, Karen e Jeff buscavam recobrar um sentido de normalidade. Dessa forma, Jeff voltou a trabalhar alguns dias após o parto. Mas ele estava tão abalado que seu chefe o mandou de volta para casa. Karen precisava inscrever Dylan numa lista de terapeutas e serviços gratuitos assim que fosse possível.
Quando Dylan tinha duas semanas, Karen o levou até o consultório de um renomado oftalmologista. O médico deu uma olhada e disse: “Bem, este rapazinho nunca será piloto de avião.”
Depois disso, esse mesmo médico disse que não poderia ajudá-la.
No entanto, Karen não desanimou. Assim, continuou suas buscas, até que encontrou a Dra. Pamela Gallin. “Que lindo bebê!”, foi o que a Dra. disse assim que viu Dylan. “Você tem um filho lindo que irá para faculdade, se casará e terá uma vida produtiva e feliz.”.
Naquele momento, isso era tudo que Karen precisava ouvir para retomar sua esperança.
Quando Dylan estava próximo de completar seis meses, Karen se viu à mesa da cozinha com várias xícaras de café e dois terapeutas do Estado. Estava preocupada. A irmã gêmea de Dylan parecia muito mais à frente do irmão em termos de desenvolvimento. Ela já engatinhava, ao passo que Dylan apenas se sentava e embalava o corpo para frente e para trás.
Porém, para seu alivio, Krista Petersson, assistente social e fisioterapeuta, disse ser normal que crianças cegas se atrasassem em relação às que enxergam, uma vez que muito que uma criança aprende provém de estímulos visuais.
Num dia ameno de fevereiro, com 1 ano e 8 meses, Dylan tomou a mão de sua terapeuta, Mi Koo, e caminhou até uma mesinha num escritório estreito da Associação Judaica para os Cegos. O novo desafio de Dylan, que já brincava com pecinhas de madeiras, era aprender a falar. Esse é outro marco de desenvolvimento que pode demorar um pouco mais para crianças cegas. Porém, nesse meio tempo, Dylan foi aprendendo linguagem de sinais.
“Você tem duas semanas até meu aniversário, precisa aprender a falar ‘mamãe’, viu?” brincou Karen.
Dylan pode estar demorando mais para encontrar o próprio caminho, mas, observando o progresso no último ano, os Jacobsons se enchem de esperança. Na verdade, Dylan se conduz pelo andar térreo da casa tão bem quanto sua irmã gêmea. E a Dra. Pamela, que continua a coordenar seu tratamento, ainda acredita que a tecnologia possa encontrar uma forma de, um dia, dar a ele visão.
Por ora, Dylan parece satisfeito em explorar o mundo por conta própria. Com as mãozinhas tateando a parede da cozinha, ele vai descendo o corredor até a maçaneta dourada da porta do armário. Atrapalha-se um pouco com a nova descoberta, mas, ao ouvir o clique do trinco, puxa a porta. Então, ele ri. Em seguida, empurra a porta para fechá-la. Clique. Mais risadas. Durante 15 minutos, fica abrindo e fechando a porta. As gargalhadas invadindo a casa.
Olhando da cozinha, Karen sorri ao se dar conta de que o seu ursinho está abrindo as próprias portas e se tornando menos indefeso a cada dia que passa.