Pedir ajuda pode ser uma tarefa difícil para muita gente. Porém, saber que não é preciso aguentar tudo sem ajuda pode ser libertador. Sobretudo a ajuda
Julia Monsores | 23 de Fevereiro de 2020 às 19:00
Pedir ajuda pode ser uma tarefa difícil para muita gente. Porém, saber que não é preciso aguentar tudo sem ajuda pode ser libertador. Sobretudo a ajuda que vem da família, dos amigos ou do marido/esposa. Por isso, confira um caso real, analisado pelos psicólogos John e Julie Gottman, especialistas em relacionamentos e inteligência emocional, envolvendo um casal que aprendeu a pedir e compartilhar ajuda.
Foi fácil para os Scotts se apaixonarem. Debra achou seu marido “sexy, engraçado e inteligente”. Dan, que aos 32 anos nunca fora casado, achou-a “quente” e “passional”.
Nove anos depois, vivem mergulhados em conflitos. As tarefas domésticas são um dos problemas. Debra se sente sobrecarregada e desprestigiada. Trabalha meio expediente e, por isso, acaba ficando com a maior parte das tarefas, além de cuidar da filha de 7 anos. Com a atual vida agitada, muitos casamentos enfrentam tensões relacionadas aos cuidados com a casa.
Debra fica zangada porque Dan não se oferece para ajudá-la. Ela se ressente de ter de pedir. Dan, com sua longa jornada como motorista de uma empresa de entregas e o trabalho no sindicato, acha que Debra espera que ele leia sua mente.
Pedimos a Dan, 42 anos, e Debra, 48, que nos contassem uma discussão recente. Debra mencionou uma cômoda que precisava ser levada para o segundo andar da casa. Ela esperou que Dan se oferecesse para ajudá-la a carregar o móvel. Por fim, teve de lhe pedir. Mas Dan estava ao computador.
Debra: Você disse que estava ocupado, então carreguei a cômoda sozinha. Depois vi que você estava atualizando os placares do campeonato de beisebol!
Dan: Esse é o problema: a diferença entre “Preciso que você faça isso” e “Preciso que você faça isso agora”.
Debra: Quando você diz “Estou ocupado, vou ajudá-la mais tarde”, é como se eu não tivesse importância.
Dan: Mas você é importante. E eu quero ajudar. Por isso tento saber se precisa de ajuda naquele instante
Debra: Dá para partir do princípio de que eu sempre quero dizer agora? Se estou pedindo… (Existe um motivo por que Dan não foi ajudá-la de imediato: não gosta de ser tratado asperamente.)
Dan: Você compreende que existem prioridades na minha vida? Nem tudo que você precisa fazer tem de ser feito agora. Talvez fosse melhor se você me desse mais informações.
A agitação do casal é registrada pelos monitores cardíacos do nosso laboratório. O ritmo cardíaco de Debra chega a 130 por minuto e o de Dan, a 97. Ambos são altos, e isso pode bloquear a capacidade do casal de escutar um ao outro.
Mas esse não é o único obstáculo. O tom crítico e duro de Debra está pondo Dan na defensiva. Pedimos aos dois que recomecem. Use uma abordagem suave, pedimos a Debra. Evite afirmações acusatórias do tipo “você nunca” ou “você sempre”.
A Dan sugerimos que mostre a Debra que ele pode ser levado a mudar de ideia. “Muitos homens temem parecer fracos ao se deixar influenciar pelas mulheres”, diz John a Dan. “Mas nossa pesquisa mostra que aceitar a influência dela lhe dá força. Quanto mais você a ouvir, mais ela se abrirá para suas ideias.”
Finalmente, dizemos a Debra que não faça pouco-caso quando Dan diz que ela é importante para ele. “Aceite e agradeça.” Descobrimos que essa dificuldade de Debra está ligada a críticas na infância, que hoje a fazem sentir-se pouco merecedora de elogios ou da ajuda do marido. Mas se conseguir acreditar nas afirmações carinhosas de Dan, talvez ela se sinta mais amada e menos irritada.
Então tentam outra vez.
Debra: O que preciso fazer para que você me ajude sem eu ter a sensação de estarmos brigando? Podemos organizar uma lista de tarefas para cada um? (Foi uma grande mudança. O tom de Debra não é mais de provocação.)
Dan: Acho a lista uma boa ideia.
Debra: (sorrindo) Obrigada.
Dan: (retribuindo o sorriso) E se a lista não funcionar, lembre-me dela. Você tem o direito de me pedir ajuda. Eu reconheço tudo que você faz e acho impressionante.
Praticando o que lhes ensinamos, Dan e Debra sorriem mais. É bom ouvir a admiração que um sente pelo outro. Agora, eles provavelmente vão descobrir que seu casamento vai prosperar se continuarem a tratar os desentendimentos conjugais com esse tipo de inteligência emocional. Sem ela, as questões não resolvidas se acumulam e acabam sufocando o afeto.