Ao entrarmos num mundo ficcional, tratamos as experiências como se fossem reais. Confira a importância da leitura para o desenvolvimento da empatia!
Quem lê conhece a sensação doce e amarga de terminar um bom livro. É como se um amigo querido fizesse as malas de repente e fosse embora, a contracapa se fechando como a porta do táxi. Adeus, amigo. A gente se vê na estante.
A importância da leitura: uma questão da Ciência
Se você já se sentiu esquisito por ver como amigos os personagens de ficção ou por sentir que lugares fictícios eram seu lar, a ciência diz que isso não tem nada de anormal. Um novo conjunto de pesquisas explica por que os livros têm tanto poder emocional sobre nós. E a resposta mais atual é surpreendente: quando entramos num mundo ficcional, tratamos as experiências como se fossem reais. E à lista interminável de benefícios da leitura, acrescente: ler ficção faz a gente ter literalmente mais empatia na vida real.
Mas nem toda ficção é igual. E ler um único capítulo de Harry Potter não vai aumentar sua emoção instantaneamente. Eis algumas ressalvas dos cientistas nerds que tentam descobrir a importância da leitura.
Regra nº 1: A história tem de levar a gente “para algum lugar”
Quantas vezes você já ouviu alguém dizer que um bom livro nos “transporta”? É exatamente esse poder de imersão – que permite aos leitores passar horas habitando alegremente outras pessoas, outros lugares e outros pontos de vista – que uma equipe de pesquisadores dos Países Baixos responsabiliza pelo resultado de um estudo, de 2013, no qual os alunos que tiveram de ler um romance policial de Arthur Conan Doyle apresentaram um aumento marcante da empatia uma semana depois, enquanto outros designados para ler uma seleção de notícias mostraram declínio.
O interessante é que vários leitores de ficção que disseram não se sentir “muito transportados” pelo texto também mostraram declínio da empatia depois. A lição: “para mudar com a leitura, o leitor tem de ser totalmente transportado para dentro da história”, escreveu a equipe. “Quando os leitores se dissociam do que leem, é possível que se tornem mais egoístas e autocentrados para proteger a noção do eu em relação aos outros.”
Em outras palavras, você tem de gostar do que lê para colher benefícios sociais. Caso contrário, só vai ficar de mau humor.
Regra nº 2: Um capítulo só não basta
Não se constrói inteligência emocional da noite para o dia. Isso ficou bem visível recentemente quando pesquisadores tentaram reproduzir um estudo de leitura e empatia semelhante ao citado acima e não conseguiram. (O título do relatório era, grosseiramente: “Ler um único trecho de ficção literária realmente melhora a teoria da mente? Uma tentativa de reprodução.”)
Na tentativa de reproduzir um conhecido estudo de 2013 sobre empatia, os pesquisadores mandaram alunos lerem um trecho curto de ficção literária ou de não ficção e fazerem um teste de empatia logo depois. Embora a diferença imediata da empatia ficasse visível, o novo artigo não encontrou nenhuma prova conclusiva de que a ficção levava à inteligência emocional, a não ser por um fator fundamental: se participantes que liam muito entravam no estudo.
No começo do experimento, para testar nos alunos o amor aos livros, cada um deles fez um teste de reconhecimento de escritores – medida comum de exposição à literatura mais conhecida em estudos como esse. Eis o que os pesquisadores descobriram:
“O teste de reconhecimento de escritores, que mede a exposição à ficção durante a vida, permitiu prever de forma coerente a pontuação [no teste de empatia]”, diz o artigo. “O vínculo mais plausível entre a leitura de ficção e a teoria da mente é que indivíduos com teoria da mente forte se sentem atraídos pela ficção e/ou que uma vida inteira de leitura fortalece aos poucos a teoria da mente.”
Pelo menos por enquanto, a ciência diz que quanto mais lemos, mais nossa empatia aumenta e mais amamos a leitura. Não sei você, mas esse me parece o melhor “círculo vicioso” que existe.
Mas a importância da leitura não para por aí. Confira outros 7 benefícios da leitura para o corpo e a mente!
Por Brandon Specktor