As placas apareceram praticamente da noite para o dia. Estavam instaladas em toda parte: na frente das casas, nas calçadas, perto da escola. Cada uma
As placas apareceram praticamente da noite para o dia. Estavam instaladas em toda parte: na frente das casas, nas calçadas, perto da escola. Cada uma mostrava apenas algumas palavras animadoras em letras pretas simples: “Não desista”, “Você merece amor”, “Os erros não definem você”. Dois alunos e quatro ex-alunos da escola secundária de Newberg, no Oregon, se suicidaram naquele ano, e a cidade de 25 mil habitantes entendeu as mensagens na hora. Durante dias, o que ninguém conseguiu descobrir foi quem as instalara.
Como começou o Don’t Give Up Movement
Fora Amy Wolff, de 36 anos. A princípio, ela não queria que ninguém soubesse. Para começar, a mãe de duas filhas achava que não cabia a ela se manifestar. Mas, em parte, resolveu agir porque perdera o irmão adolescente num acidente vinte anos antes e se sentiu obrigada a abordar o luto da cidade. Ela instalou as placas anonimamente porque queria que o importante fosse a mensagem, e não a pessoa. Era compaixão pela compaixão.
“Eu não podia ficar sem fazer nada”, diz Amy. “Não tenho qualificação, mas, ora bolas, posso imprimir placas.”
Mas, quando viu o efeito profundo das placas sobre os vizinhos, ela decidiu se revelar e espalhar a mensagem publicamente. Na mesma hora, sua caixa de mensagens transbordou de pedidos de mais placas. Ela pediu a uma amiga, a designer Jessica Brittell, que projetasse e imprimisse outro lote. E outro. E mais outro. “Decidimos só acompanhar a onda, sem forçar, só continuar até os pedidos pararem”, conta Amy. “Acabou sendo uma piada interna, porque não pararam nunca.”
Isso foi em maio de 2017. Desde então, o Don’t Give Up Movement (Movimento Não Desista) se espalhou de Newberg para os corações e jardins de pessoas de todos os estados americanos e de vários países. As placas se transformaram em pulseiras, adesivos para carros, broches, selos e tatuagens temporárias. Amy só cobra o custo dos materiais e do envio. “Seria uma péssima decisão comercial se quiséssemos funcionar como uma empresa”, diz ela.
Uma ideia que se tornou viral
Um dos elementos mais animadores do Don’t Give Up Movement
é que viralizou de um modo extremamente humano. Muita gente fincou as placas no jardim, tirou selfies e compartilhou.
Numa das postagens do movimento no Instagram, Chrisanne Moger comentou a necessidade de uma placa específica: “Estamos nisso juntos.” Ela achou que realmente reverberaria num mundo que se encolhe sob a nuvem da Covid-19. Amy concordou e, uma semana após a criação, tinha recebido 750 pedidos. Uma mãe do Colorado entrou em contato com a organização depois da morte súbita do enteado para dizer que sua família, incapaz de viajar durante a quarentena, não pôde comparecer ao funeral. “Não pudemos estar juntos para amar, apoiar e ajudar a cura uns dos outros”, escreveu ela. “Recentemente, vi uma de suas placas, e foi um soco no estômago, uma mensagem vinda de cima para que eu aguentasse.”
Consciente dos novos desafios emocionais trazidos pelo isolamento, o Don’t Give Up Movement se ofereceu para enviar cartas de apoio manuscritas a quem estiver em quarentena e precisar. O grupo recebeu cerca de 400 pedidos em apenas 24 horas. Uma moça de Nova Jersey escreveu que sofre de doença mental e que as regras do isolamento estavam sendo muito duras para ela e sua família; ela perguntou se o grupo Don’t Give Up poderia mandar à família um bilhete alegre.
Um professor de educação especial do Texas usou a campanha para ensinar uma lição de unidade quando a turma passou a receber aulas a distância. Isaiah Brown criou pacotes de carinho com peças do movimento, inclusive pulseiras nas quais escreveu seu nome e o do aluno. Então ele foi à casa de cada aluno para deixar o pacote à porta. Algumas crianças ficaram tão empolgadas ao receber a entrega-surpresa que correram para ver Brown pela janela do carro.
Na próxima vez em que a turma se reuniu pela internet, os alunos não conseguiram parar de contar como os presentes os deixaram felizes; um aluno exultante declarou que nunca mais tiraria a pulseira.
“Foi a melhor sensação do mundo saber que eu podia causar impacto fora da escola usando esses produtos”, revela Isaiah. “Foi um jeito bom de dizer aos alunos que nos preocupamos com eles, mesmo quando não podemos vê-los.”
A mensagem de Amy está prestes a crescer ainda mais. Depois de ver suas placas na internet, um agente literário ligou para negociar um livro. Signs of Hope: How Small Acts of Love Can Change Your World (Placas de esperança: como pequenos atos de amor podem mudar seu mundo) será lançado no meio do próximo ano, depois de alguma revisão de última hora. “Reescrevi o último capítulo no meio da pandemia, sem saber quanto tempo isso vai durar”, explica Amy. “Mas nunca houve um pano de fundo mais drástico para o poder da esperança e da ação da empatia do que agora.”
POR CAROLINE FANNING